5 práticas criadas por professores para motivar alunos - PORVIR
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Inovações em Educação

5 práticas criadas por professores para motivar alunos

Em escuta promovida por Porvir e Instituto Ayrton Senna, educadores compartilham desafios e caminhos relacionados à motivação para a aprendizagem

por Beatriz Cavallin ilustração relógio 14 de fevereiro de 2022

“Algo que inspira, que move”; “curiosidade e interesse”; e “desejo e ação para alcançar um objetivo” foram algumas das respostas dadas por professores ao serem questionados sobre o que é motivação.

A pergunta foi feita durante a escuta “Motivação para Aprendizagem”, realizada de maneira virtual em dezembro de 2021. A iniciativa, idealizada pelo Porvir em parceria com o Instituto Ayrton Senna, teve duas etapas – uma pesquisa por meio dos perfis no Instagram das duas instituições e uma oficina com 10 professores de ensino fundamental e médio sobre o tema. A ideia era entender o quanto os educadores conhecem sobre motivação, de que forma eles observam essa característica em seus alunos e como atuam para motivá-los.

Comumente associada ao engajamento em sala de aula, a motivação para aprender é um conceito que envolve um conjunto de características que variam de pessoa para pessoa. Não é uma habilidade inata e pode ser de grande utilidade no dia a dia em sala de aula, uma vez que interfere no engajamento do estudante com a escola e contribui para evitar evasão e abandono.

“A motivação não é um botão que você liga e desliga, ela serve como ferramenta para que o estudante busque novos assuntos e passe pelo processo de aprendizagem. Além de estar diretamente conectada com aspectos cognitivos e socioemocionais, conceitos que, quando trabalhados em conjunto com a motivação, colaboram para a formação integral dos alunos”, diz Catarina Sette, gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna.

Para o psicólogo norte-americano Kevin McGrew, especialista em motivação para aprender, motivação é a habilidade de iniciar e continuar comportamentos autossustentados e automotivados a fim de aprender algo novo. Ele ainda destaca que os alunos aprendem a partir de um conjunto de características que interagem entre si e que são influenciados por razões inatas, por estímulos e outros elementos. Essas características, por sua vez, são variáveis e pessoais, o que significa que não é possível ensinar todos os estudantes da mesma maneira.

Para os professores que participaram da escuta, essa variedade de fatores foi apontada como um dos principais desafios para motivar seus alunos. Como caminho para entender os gatilhos que levam à motivação, a prática mais comum que eles têm utilizado é a escuta.

“Se a gente não conseguir, de alguma forma, conectar acolhimento e escuta, vamos continuar enxugando gelo. A gente precisa se colocar numa posição de escuta, de diálogo, de tato. E precisamos estar preparados para escutar aquilo que a gente não quer”, diz a professora Daniela Azini Henrique, que atua na Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, no Rio de Janeiro (RJ) e participou da oficina no dia 7 de dezembro de 2021.

Conexões e escuta
O desafio de motivar estudantes se intensificou ainda mais durante o período de pandemia. Com as aulas sendo ministradas remotamente, criar conexões, abrir um espaço de escuta e engajar os alunos nas aulas se tornou uma tarefa quase impossível para grande parte dos professores.

“A pandemia nos lançou esse desafio, que acho que é um dos grandes dilemas sobre a escola, de ficar buscando um sentido. Acho que o sentido está lá dentro, os alunos precisam ser pensados como sujeitos desse processo, eles trazem para a escola suas trajetórias e isso precisa ser enxergado como valor pedagógico”, reflete Daniela.

Mas se conectar com os estudantes passa por outras questões, muitas delas conectadas à maneira como os alunos enxergam e lidam com um mundo totalmente conectado, e que, muitas vezes, difere da visão dos professores e escolas.

É o que pensa o professor Glaucio Ramos, da Escola Cônego Costa Carvalho, em Paulista (PE). “Existe um descompasso muito grande entre o estudante do século 21, nativo digital, e a prática do professor e da própria escola, que ainda está no século 20, e esse descompasso gera uma rachadura, uma fissura. O que está na escola é um saber construído que precisa ser atualizado. Precisamos criar um diálogo com os alunos, senão vamos continuar com esse ciclo de desmotivação”.

Para McGrew, entender a maneira como o aprendizado acontece pode ajudar professores a superar esses desafios. O psicólogo organiza esse processo em três etapas não necessariamente lineares. A primeira, chamada de “etapa da motivação”, está relacionada aos interesses, valores pessoais e motivos para que as pessoas queiram aprender algo. Em seguida vem a etapa da “decisão”, na qual é elaborado um plano de ação que será colocado em prática na terceira etapa, a “autorregulação”.

Dessa maneira o professor torna-se um elemento-chave no desenvolvimento da motivação dos estudantes, desde que priorize a autonomia, promova trocas e incentive o protagonismo. É o que defende Catarina, com base em uma série de pesquisas realizadas pelo Instituto Ayrton Senna.

“Quando a gente fala sobre estabelecer conexões com os estudantes não existe uma prática ideal ou uma resposta universal sobre o que precisa ser feito, é na base da tentativa e erro. Mas o que o educador pode fazer é se colocar na sala de aula enquanto indivíduo porque, querendo ou não, ainda existe uma relação hierárquica na escola”, diz Catarina. “Trazer suas expectativas e seus exemplos faz com que os estudantes se sintam mais confortáveis para compartilhar suas ideias”, completa.

Buscar elementos que fazem parte do dia a dia do aluno também pode ser uma boa maneira de estabelecer conexões em sala de aula. Abrir espaço para trabalhar com a realidade desperta o interesse do estudante, que passa a enxergar sentido nos conteúdos trabalhados na escola. E é exatamente isso que os professores e professoras que participaram da escuta buscam trazer para suas aulas. A seguir, você conhece algumas das práticas criadas e implementadas por eles.

1.Campanha para a família
Na busca por estabelecer essas conexões, o professor Glaucio desenvolveu o projeto “Fuja das fakes, foque nos fatos”, uma campanha educativa para incentivar a vacinação. Nele, os estudantes ocuparam o papel de criadores de conteúdo e, com a ajuda de algum familiar, produziram vídeos educativos a respeito da vacinação. A ideia era que os pais e outros familiares também tivessem acesso a informações qualificadas sobre a vacina e se apropriassem delas, alcançando toda a comunidade escolar. “Eu sou um defensor de projetos que conectem conteúdos da matriz curricular com a realidade. Tudo que se aprende na escola precisa repercutir na realidade do aluno e, se possível, solucionar algum problema”, diz o professor.

2. Playlist comentada
Como forma de contemplar os interesses dos alunos, a professora de língua portuguesa Naiara Chaves, que atua na rede municipal de ensino em Seabra (BA), criou o projeto “Playlist comentada”. Baseada no livro “Dom Casmurro”, uma das atividades consistia em criar a playlist da personagem Capitu e, por meio de textos argumentativos, justificar por que determinada música deveria fazer parte da playlist e em que momento da narrativa ela entraria. Além de despertar o interesse dos alunos, o projeto também levantou discussões sobre empoderamento feminino.

3. Rubricas sobre o processo de aprendizagem
Naiara também ressalta a importância de manter os alunos a par do processo de aprendizagem e avaliação. Para isso, ao criar uma rubrica para avaliar determinada atividade a professora sempre inclui critérios de habilidades e competências ligadas ao engajamento, como por exemplo “usar o celular te ajuda?”. Além de apoiar o processo de aprendizagem, também ajuda a educadora a repensar as práticas em sala de aula.

4. Conectar clássicos com a atualidade
A professora Grasielly Lopes, da rede privada de Praia Grande, SP, sentia uma grande dificuldade em fazer com que os alunos se interessassem pelos livros clássicos. Pensando nisso, adaptou as aulas sobre trovadorismo: pediu para que os alunos se colocassem no lugar dos trovadores e adaptassem as trovas para os tempos atuais. “Saíram relatos muito bons, porque eles começaram a trazer tudo que estavam sentindo, viram na literatura esse espaço”, diz a educadora.

5. A pergunta que não quer calar
Para despertar a curiosidade dos alunos, o professor Tiago Rattes, da rede privada de Curitiba, PR, tem uma prática chamada “A pergunta que não quer calar”. Nos últimos 10 minutos de aula o educador traz algumas perguntas para responder junto com os estudantes. “Isso gerou neles uma sensação mais objetiva e mais prática sobre o conteúdo. Acaba funcionando também como um checkout”, diz.


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educação mão na massa, metodologias

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