5 projetos escolares de destaque na América Latina e suas lições para educadores
México, Panamá, Bolívia, Uruguai e Brasil: conheça iniciativas inspiradoras de educadores que estão transformando as escolas e fortalecendo a comunidade nesses cinco países
por Alice Martins Morais 
4 de outubro de 2024
Seja atuando numa zona rural ou urbana, em qualquer país do mundo os professores desempenham papel fundamental de transformação social na sua comunidade. A partir da sala de aula, são agentes essenciais para a construção de um futuro sustentável, que estimula o pensamento crítico e criativo dos estudantes.
Muitas vezes, educadores precisam desenvolver soluções inovadoras para lidar com as limitações de seus contextos sociais e, ao fazer isso, também incentivam os jovens a fazerem o mesmo. Para celebrar a atuação desse profissional, desde 1994 foi instituído o Dia Mundial das Professoras e dos Professores, comemorado neste sábado, 5 de outubro.
📳 Inscreva-se no canal do Porvir no WhatsApp para receber nossas novidades
Para mostrar diferentes histórias inspiradoras de professores pela América Latina, reunimos cinco casos publicados originalmente na plataforma Samsung Solve for Tomorrow Latam, da qual o Porvir é parceiro, coordenando a produção e a disseminação de conteúdo em português, espanhol e inglês (confira os detalhes ao final do texto).
Esses educadores orientaram projetos estudantis em suas comunidades, e, a cada experiência, uma nova lição é aprendida. Confira:
Continue aprendendo
A professora mexicana Sonia Elisa Castillo Salinas tinha 31 anos de carreira quando decidiu participar do Solve for Tomorrow. Ela é da área de Química Industrial e ensina adolescentes da educação secundária (que funciona de maneira semelhante ao ensino médio com formação técnica). Nas suas aulas de Controle de Produção de Processos, a docente incentivou os alunos a investigarem os problemas do seu município.
Tampico é uma cidade do estado de Tamaulipas, no México, localizada na costa do Golfo do México, onde a movimentação portuária deixa peixes que servem de alimento para animais como as gaivotas. Mesmo assim, ficam restos. “Observamos isso e percebemos que esses resíduos, tanto de cabeça quanto de esqueleto e escamas, são ricos em fósforo e que podemos manipulá-los para dar-lhes um novo uso”, explica. Eles fizeram uma pesquisa e chegaram à conclusão de que era possível fazer fertilizantes orgânicos.
O projeto “Fishtilizante” foi finalista em 2022 do Solve for Tomorrow no país. Para a professora, com três décadas de docência, participar do Solve for Tomorrow foi muito motivador. “Estou muito perto de me aposentar e sinto que esta é uma boa forma de encerrar o ciclo. Agora, todos os alunos aguardam a próxima chamada do programa”, afirma.
Não hesite em pedir ajuda
A professora Xenia Vigil, do Panamá, no Distrito de Mariato, ensina inglês e tem parte de sua carga horária na escola dedicada à supervisão e tutoria de estudantes. Mesmo sem conhecer a área STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), quando ficou sabendo do Solve for Tomorrow engajou-se com a proposta e a apresentou aos estudantes. Quando um grupo demonstrou interesse, ela decidiu topar e, para isso, pediu apoio de outros professores da instituição para apoiar nos conhecimentos de Ciências e Engenharia.
Desde o início, os jovens ressaltaram que queriam desenvolver algo que beneficiasse a comunidade local e indicavam grande interesse em preservar o meio ambiente. A região, que é rica em recursos naturais e praias paradisíacas, é também uma das mais afastadas e menos atendidas por políticas públicas. A proposta da equipe, então, foi dar um novo propósito ao óleo de cozinha.
O projeto, intitulado “Aceibon“, foi finalista em 2022 do programa no país. Para chegar ao protótipo, a equipe conversou com várias pessoas e, ao ouvir da professora as preocupações do grupo, a mãe dela se lembrou da confecção de sabão a partir do óleo. A docente então levou a ideia ao grupo que não apenas gostou da proposta, mas buscou qualificá-la, pensando em como melhorar sua composição para que o sabão pudesse ser usado de forma segura também para limpeza das mãos, principalmente por conta das questões de higiene pessoal que ganharam maior evidência com a pandemia de Covid-19.
Busque aliados
Da mesma forma como trabalhos em equipe ajudam os estudantes a dividirem o peso e ampliarem as possibilidades, quando o professor tem parceiros ao seu lado, fica muito mais fácil cumprir as tarefas. Se você tem interesse em desenvolver projetos para além das aulas e ser um agente de transformação social, é importante buscar colegas dentro da escola que possam compartilhar da mesma ambição, sejam eles docentes, gestores ou do corpo administrativo e operacional da instituição. Para Alfredo Callisaya Huanca, que leciona Sistema de Computação para alunos do ensino secundário, na cidade de Palo Alto, na Bolívia, a aliança com coordenadores da unidade educacional foi essencial. Ele mediou o projeto “Detección de lenguaje de señas en tiempo real“, que foi vencedor de 2023 do Solve for Tomorrow no país.
O objetivo era criar um programa computacional que traduz palavras em espanhol e em linguagem de sinais em tempo real. Ele já tinha o conhecimento técnico, mas precisava entender mais dos desafios que pessoas com deficiência auditiva vivenciam no cotidiano, para poder elaborar a solução de forma mais assertiva. Por isso, contou com o apoio da coordenadora do Bacharelado Técnico Humanístico (uma das modalidades de ensino disponíveis na escola), que compartilhou seus conhecimentos sobre o assunto, ensinando sobre a precisão dos movimentos em sinais e sugerindo o vocabulário.
Outro apoio veio da prefeitura da cidade, que conta com uma Unidade de Atendimento a Pessoas com Deficiência. Um coordenador da escola fez a ponte com a iniciativa e a conexão foi aproveitada nos testes do protótipo.
Mantenha o olhar multidisciplinar
A professora Victoria Calcaterra, de Carmelo, no Uruguai, mostra a importância de sair da zona de conforto para apoiar os alunos a se desenvolverem ao máximo. Ela é mediadora dos projetos “niñOS” e “Cianobactérias“, finalistas de 2022 e 2023 do Solve for Tomorrow na Argentina, Uruguai e Paraguai, respectivamente.
Apesar de ser professora de História, seu interesse pela pesquisa científica a levou a participar dos Clubes de Ciências, um dos componentes do programa Cultura Científica da Direção Nacional de Educação do Uruguai. Um Clube de Ciência é um âmbito de educação não formal em que crianças, jovens e adultos passam por um ciclo que inclui trabalhos em oficinas, conferências e feiras (municipais e nacional), além de eventos internacionais.
Ela ministra uma disciplina chamada Estudos Econômicos e Sociais, que se caracteriza pela aprendizagem baseada em projetos e é a partir daí que os estudantes formam grupos para se inscreverem em iniciativas como o Solve for Tomorrow. Com sua vivência, Victoria mostra que todas as áreas da educação podem promover a abordagem STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
Inspire outros professores
Ao realizar um projeto STEM, o professor de biologia Geovane Muniz conseguiu fazer a diferença na sua cidade, Penalva, no Maranhão. Esse é um município pequeno, de apenas 32 mil pessoas, tem um dos menores PIB (Produto Interno Bruto) per capita do estado: de R$ 6,5 mil (em comparação, a média nacional é de R$ 42 mil).
Durante as aulas de “Inovação e sustentabilidade”, uma equipe de cinco estudantes observou que o excesso da planta aguapé nos lagos da região atrapalha a navegação dos pescadores. Por outro lado, viram que parte da comunidade usava fogões a lenha, uma alternativa mais barata ao gás de cozinha, mas que causa problemas respiratórios e ambientais por conta da fumaça e da extração de madeira. Para resolver ambos os desafios locais, o grupo descobriu, em sala de aula, como transformar o aguapé em uma opção de combustível mais sustentável.
A ideia se tornou o projeto “Produção de biogás e biofertilizante: alternativa sustentável na comunidade“, finalista de 2023 do Solve for Tomorrow no Brasil. Depois do resultado, o exemplo contagiou outros educadores e estudantes, dentro e fora dos muros da escola, e o próprio professor ficou mais motivado após os resultados do projeto de biogás e biofertilizante. Para ele, o maior prêmio é o reconhecimento na própria comunidade Jacaré. Quando retornou da cerimônia de premiação, a equipe foi recebida com dois dias de festa. Agora, os novos alunos que chegam no Centro de Ensino Sabino Barros já têm expectativa de ingressar em projetos científicos.
Saiba mais sobre a plataforma Solve for Tomorrow Latam
O conteúdo da plataforma Samsung Solve for Tomorrow Latam é coordenado e produzido pela Agência de Soluções do Instituto Porvir e voltado à rede de educadores de todos os países da América Latina. O Solve for Tomorrow é um programa global da Samsung que estimula estudantes a encontrar soluções para problemas reais de suas comunidades, além de reconhecer os professores que mediam esse conhecimento.
Disponível em português, inglês e espanhol, a plataforma oferece uma coleção abrangente de referências e práticas pedagógicas inspiradoras em educação STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). O material é fruto das experiências de educadores que participaram do Samsung Solve for Tomorrow nos últimos 10 anos, compartilhando projetos inovadores realizados em escolas públicas da América Latina.
