Mostra de talentos iniciada por WhatsApp vira livro para valorizar saberes de estudantes - PORVIR
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Diário de Inovações

Mostra de talentos iniciada por WhatsApp vira livro para valorizar saberes de estudantes

Para trazer novas dinâmicas às aulas remotas, professores de filosofia, sociologia, português e química organizam apresentações artísticas com os alunos do ensino médio, incentivando-os a produzir um livro

por Leticia Mariano Borges de Figueiredo / Guilherme Borges Mendanha ilustração relógio 6 de julho de 2022

Desde o ano passado, estamos atuando no ensino remoto em virtude da pandemia da Covid-19. Mesmo com o retorno presencial autorizado, continuamos nossas atividades com as turmas do ensino médio a distância, por conta de uma reforma na escola estadual Centro de Ensino Cruzeiro do Sul, em São Luís, no Maranhão.

Nossos estudantes estão tendo aula por WhatsApp há pouco mais de dois anos. É perceptível a saudade da escola, e também a exaustão de todos: da gestão, professores, alunos, funcionários. Contudo, até o momento, não temos outra opção e assim seguimos.

Tendo em vista este contexto, no final de 2021, a professora Aldelice, de língua portuguesa, sugeriu que fizéssemos uma mostra de talentos via WhatsApp com os alunos. Nosso objetivo era trazer algo diferente para quebrar a monotonia do ensino remoto. Decidimos, Guilherme (professor de sociologia) e eu, Leticia, que leciono filosofia, nos juntar a ela e iniciar o planejamento. Cerca de 40 estudantes participaram do projeto.

Apresentamos a proposta para a gestão da escola. Assim que foi aprovada, fizemos um formulário de inscrição, pelo Google Forms, no qual os alunos e alunas preenchiam com o nome da turma, o turno e qual talento iria apresentar (música, dança, teatro, comédia, poesia, desenho, fotografia, blog, arte digital, solo instrumental). Também deixamos espaço para que apresentassem outra categoria de expressão artística. 

Comunicamos todos os professores sobre a ideia e decidimos criar uma semana de culminância das apresentações, que seriam avaliadas por nós nas seguintes categorias:  Criatividade, Inovação e Alinhamento. Docentes e gestão foram convidados a participar da seleção.

O principal critério era a criatividade, mas eles tinham de considerar algumas condições: que os trabalhos fossem originais (sem plágio), que não trouxessem conteúdo desrespeitoso ou preconceituoso e cumprissem o horário estipulado das apresentações, deixando as fotos separadas ou os vídeos gravados, prontos para serem enviados pelo WhatsApp

Cada turma contava com um grupo de professores e de gestão no aplicativo, e, em comum acordo, nós, professores, separamos os dias e horários que a mostra de talentos iria acontecer. Assim, no dia e horário combinados, chamávamos o estudante para encaminhar seu trabalho. Após o envio, separamos alguns minutos para que os docentes e os colegas de classe pudessem comentar e elogiar as apresentações.

Recebemos vídeos de alunos tocando instrumentos, dançando, ensinando maquiagem, com fotos de desenhos, poemas, encenações teatrais e leituras de texto. Organizamos também uma premiação para os três melhores trabalhos, com entrega na escola. Mesmo em meio à reforma, a entrega foi feita em uma sala que recebe o acervo da biblioteca. 

O resultado foi surpreendente. Um ponto que nos chamou muita atenção foi que, em muitos trabalhos, percebemos que a saúde mental dos estudantes era o assunto principal, evidenciando que os estudantes estavam com diversas questões socioemocionais que precisavam ser trabalhadas. Alguns textos dos alunos traziam angústias e medos delicados. 

Pela qualidade do material criado, nós nos inscrevemos no Projeto Rotas e Redes Literárias, da Fundação Vale. Conseguimos financiamento para fazer um livro com os trabalhos apresentados. Além dos textos e das fotos, as entregas em formato de vídeo foram transformadas em QR Code e também contemplados na publicação.

Clique na imagem abaixo para ver a galeria de fotos:

Neste projeto, contamos com o apoio do professor Heltern, de química. Juntamos esforços para fazer com que tudo acontecesse no presencial: conseguimos uma parceria com o Casarão Tech, espaço público de inovação localizado no centro histórico de São Luís. Por muitos meses os “colegas de sala” eram apenas números de telefone. Entramos em contato com uma editora maranhense independente, chamada Juçara Cartonera, que aproveita o papelão para confeccionar livros. Assim, pudemos levar os estudantes a desenvolverem suas habilidades em diagramação, edição e confecção, além de despertar a criatividade e a coletividade. Eles selecionaram os trabalhos, recortaram, colaram, fizeram a capa, deram o título “Conhecer” e debateram a ordem das folhas.

Entendemos que inovação não necessariamente está relacionada com tecnologia, e sim com o aproveitamento de materiais, com criatividade, com trabalho coletivo, e foi exatamente o propósito deste projeto. 


Leticia Mariano Borges de Figueiredo

Bacharelada em direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, pós-graduada em cidadania e direitos humanos no contexto das políticas públicas pela mesma instituição. Finaliza, atualmente, a complementação pedagógica em filosofia, pela Claretiano. É trainee do Programa Ensina Brasil e leciono filosofia para o as turmas de Ensino Médio no C.E Cruzeiro do Sul.

Guilherme Borges Mendanha

Bacharel e licenciado em ciências sociais pela Universidade Federal de Goiás, com MBA em gestão escolar pela USP/Esalq. É professor da educação básica e realiza gestão de projetos educacionais há mais de nove anos com foco em: formação de professores (tecnologias educacionais); pesquisa de acompanhamento de egressos; formação de jovens e criação de redes; inserção profissional; produção de conteúdo técnico educacional.

TAGS

competências para o século 21, educação mão na massa, ensino médio, tecnologia

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