Competências socioemocionais estão diretamente associadas à aprendizagem
Pesquisa da OCDE ouviu estudantes de 10 e 15 anos e reforçou a importância da escola no desenvolvimento dessas competências
por Ruam Oliveira 23 de agosto de 2022
O desenvolvimento de competências socioemocionais é a base para um bom desempenho acadêmico e também para o bem-estar psicológico. É o que apontou relatório recente da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Socioeconômico) traduzido pelo Instituto Ayrton Senna.
A pesquisa, feita com jovens de 10 e 15 anos de nove países diferentes, reforça a importância de observar tais competências. Entre os principais destaques, houve um alerta para a queda no socioemocional desses jovens à medida em que vão envelhecendo.
Esse padrão aparece principalmente nos anos finais do ensino fundamental. De acordo com o texto, já existem pesquisas que indicam uma melhora desse quadro quando esses alunos entram no ensino médio.
“Quando olhamos para os resultados do desenvolvimento do conhecimento e conquistas devido à contribuição das habilidades cognitivas (língua portuguesa, matemática, áreas STEM etc), esperamos ver níveis crescentes à medida que os alunos progridem em suas carreiras de estudo. O relatório da OCDE, no entanto, apura que esse não é necessariamente o caso do desenvolvimento de habilidades socioemocionais que podem estagnar ou mesmo apresentar decréscimos temporários, indicando que os alunos podem ter (mais) dificuldades em determinados momentos de seu desenvolvimento para praticar e desenvolver habilidades particulares”, pontua Filip De Fruyt , pesquisador do eduLab 21 no Instituto Ayrton Senna e professor titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna da Universidade de Ghent, na Bélgica.
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Vale das competências e bem-estar psicológico
A esse período de queda nas competências socioemocionais a OCDE deu o nome de “vale”. Conforme pontuado pelo relatório, confiança, otimismo, entusiasmo e iniciativa social são algumas das competências que apresentam maior queda.
Esses achados também se relacionam com o período de transição entre infância e adolescência, quando os jovens estão passando por diferentes mudanças.
De acordo com Alcione Marques, pedagoga com especialização em psicopedagogia, questões de gênero podem aumentar a vulnerabilidade para o adoecimento mental especialmente quando há interseccionalidades, como a sobreposição de características de gênero, étnico-raciais ou outras.
Nesse sentido, por exemplo, ser uma menina negra ou uma pessoa migrante LGBTQIA+ expõe esses estudantes a mais fatores de risco.
O gênero influencia na maneia como esses jovens percebem a si mesmos. O relatório pontuou que independentemente de nível socioeconômico, as meninas reportaram níveis mais baixos de bem-estar.
A escola e as emoções
Filip aponta que introduzir um vocabulário a respeito de quais são essas competências e explicar que existem níveis diferentes de domínio delas pode ser uma forma de ajudar a lidar com os problemas. Para ele, o ambiente escolar é um dos principais espaços para que esse trabalho seja desenvolvido.
“O ambiente escolar é único, fornecendo contextos formais e informais para aprender, nos quais as tarefas devem ser concluídas, as regras de respeito devem ser praticadas e os objetivos de aprendizagem específicos devem ser atendidos”, diz o porta-voz.
Ele ressalta que as competências socioemocionais são importantes resultados de aprendizagem em si mesmas, mas também facilitam diretamente a aprendizagem. Ou seja, se as crianças forem mais habilidosas para se organizar, isso também fará avançar seu processo de aprendizagem e afetará seu desempenho nas provas.
O que fazer
O estudo reforça o papel da escola para que estudantes possam reconhecer, compreender e nomear as próprias emoções.
“Penso que seja indispensável o ensino universal das competências socioemocionais, ou seja, voltado para todos os estudantes de maneira intencional, e considerando um planejamento inter e transdisciplinar. Isso é essencial para todas as escolas, em todas as etapas do Ensino Básico”, diz Alcione.
Com planos de seguir analisando a questão, a OCDE ressalta que continuará a pesquisar o tema em 2022. A instituição prevê a divulgação de novos dados em 2023.