Mediação da leitura é fundamental, principalmente na preparação para vestibulares
Esse tipo de exame pode fazer com que estudantes se sintam ansiosos e nervosos, e o apoio dos docentes não só na compreensão como na forma de ler faz toda a diferença
por Ruam Oliveira 22 de novembro de 2022
A transição da educação básica para o ensino superior geralmente passa por uma prova extensa, que exige que os estudantes tenham noções sobre diferentes áreas do conhecimento. Esse momento, por si só, já é capaz de causar nos alunos e alunas diversos tipos de emoções.
É um grande passo participar de um vestibular ou Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e o desenvolvimento de uma boa habilidade leitora serve como importante apoio nesse processo.
O nervosismo, por exemplo, pode influenciar diretamente na maneira como as pessoas leem enunciados e textos de apoio. E a leitura tem um peso importante no desempenho do aluno e no resultado que vai obter. Mas existe uma forma exata para ensinar a ler para grandes provas?
Laís Rodrigues, consultora pedagógica de Árvore, aponta que na verdade não existe uma maneira específica de trabalhar a leitura com esses objetivos. O que influencia, para ela, é “como” estará o estudante na hora da prova.
“Geralmente o aluno fica muito ansioso por ser uma prova que tem um peso e que ele passou o ano inteiro estudando”, comenta. A consultora destaca que é preferível ajudá-los a lidar com o clima, entender a si mesmos e como cada um funciona dentro de um contexto de vestibular, do que propriamente uma leitura que seja pensada com esse foco.
Como encarar as leituras obrigatórias
Não é uma regra, mas grandes provas como Enem e alguns vestibulares contam com as famosas listas de livros obrigatórios, que nem sempre todos os estudantes conseguem ler. Às vezes, por falta de tempo, outras por falta de mediação.
Laís considera de extrema importância que essas leituras sejam feitas com mediação. “A gente está falando aqui de adolescentes, que muitas vezes são vistos como leitores já formados e não são. Eles ainda precisam de mediação de leitura nessa fase e eu acho que a mediação é fundamental nesse processo de tirar o peso da obrigatoriedade”, comenta.
A gente está falando aqui de adolescentes, que muitas vezes são vistos como leitores já formados e não são.
Laís Rodrigues, consultora pedagógica de Árvore
Cabe aos professores e professoras fazer com que o estudante perceba os textos para além do propósito de passar no vestibular, gerando identificação com as obras de maneira que elas os ajudem em sua leitura do mundo.
“Muitas vezes isso vai acontecer por meio de projetos disparadores que desenvolvem nos estudantes o interesse por determinadas áreas do conhecimento. Eles vão se apropriar de uma determinada leitura quando ela estiver vinculada a sua área de interesse”, aponta Kátia Beppler Macagnan, coordenadora pedagógica do ensino médio do Colégio Monteiro Lobato, de Porto Alegre (RS).
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Ela entende a importância de olhar para essas leituras obrigatórias. Kátia afirma que as escolas não podem ignorar esse tipo de demanda, mas trabalhar com tais títulos a partir de estratégias que mobilizem sempre os alunos e não pelo viés da obrigatoriedade.
Laís também ressalta que essa tentativa de criação de vínculo entre obra e aluno é benéfica para além das provas e vestibulares. Ela lembra de seu tempo de vestibulanda, quando não se sentia muito feliz lendo Graciliano Ramos e só foi entendê-lo melhor depois de ter ingressado na faculdade.
Isso porque sua leitura, à época, foi feita sem a devida mediação, o que dificultou que ela criasse qualquer tipo de vínculo com a obra. “É muito importante trabalhar com estes adolescentes que a leitura da obra não é só para um determinado fim, que são as grandes provas, mas sim para sua formação acadêmica global”, comenta Kátia.
Eles vão se apropriar de uma determinada leitura quando ela estiver vinculada a sua área de interesse
Kátia Beppler, Colégio Monteiro Lobato
Laís ressalta que a trajetória da formação de leitores passa por textos que vão de pequena a grande complexidade. Nos anos finais do ensino médio, por exemplo, ou até mesmo nos finais do ensino fundamental, os adolescentes e jovens têm acesso a conteúdos como crônicas e textos jornalísticos que podem ser mais simples, assim como começam a olhar para os clássicos da literatura. E para que possam desfrutar dessas obras o melhor possível, a sugestão dela é que a mediação seja contínua.
Uma leitura mediada, seja dos livros de literatura obrigatórios, seja de outros gêneros textuais, contribui para a ampliação do repertório dos estudantes e para que eles se saiam melhor nas provas. Isso porque nestes grandes exames, o conhecimento de atualidades é levado em consideração e, no conjunto, acaba tendo um peso maior. Ou seja, ler o mundo é muito importante para que se possa falar ou escrever sobre ele.
Uma estratégia recomendada por Kátia é a de que docentes façam uma leitura por etapas e incluam um debate pré-leitura. “A professora ou professor na sala de aula usa estratégias em que, de uma certa forma, desperta por meio de perguntas instigantes sobre o que será a obra que eles vão estudar. Na sequência o debate. Ouvir colegas, as percepções sobre o que leram e compreenderam faz com que inclusive alunos que tenham dificuldade na interpretação possam, de forma colaborativa, aprender com os outros”, comenta a coordenadora.