Projeto escolar no Scratch debate violência doméstica - PORVIR
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Diário de Inovações

Projeto escolar no Scratch debate violência doméstica

Professor de Manaus elabora atividade digital para abordar direitos humanos com a turma do ensino médio

por Erison Soares Lima ilustração relógio 9 de março de 2023

O bairro Cidade de Deus, entre as zonas leste e norte de Manaus (AM), onde está localizada a escola EETI Engenheiro Professor Sergio Alfredo Pessoa Figueiredo, é a região em que mais aconteceram casos de violência contra a mulher entre os anos de 2017 e 2018 no estado. Foram contabilizadas 2.091 vítimas. Os números da Secretaria de Segurança Pública foram divulgados pelo Tribunal de Justiça do Amazonas.

Inserida neste contexto, recebendo alunos, pais e professores que moram na região, nossa escola não poderia deixar de levar o debate à sala de aula. 

Com o intuito de abordar o assunto e conscientizar os estudantes sobre formas de prevenção e combate à violência doméstica, criei uma atividade para as aulas de cultura digital com a turma do primeiro ano do ensino médio. O aprendizado, em linguagem de programação por meio da ferramenta Scratch, oferecia aos alunos a oportunidade de tratar deste tema por meio da construção de jogos, animações e histórias, com mecanismos audiovisuais.

Para prevenir é preciso conhecer e reconhecer o que é a violência contra as mulheres, as manifestações mais frequentes, as consequências e os mecanismos para enfrentá-la. Assim, as atividades desenvolvidas abordaram as principais formas de violência (física, psicológica, sexual, etc.), os recursos disponíveis para romper com essa violência e superá-la – e, ainda, alguns dos direitos assegurados pela Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006).

Metodologia

O primeiro passo foi apresentar o programa Scratch para os alunos, juntamente com um material didático (o e-book “Scratch: Guia Prático para aplicação na Educação Básica” está disponível neste link) para que eles conhecessem melhor a ferramenta e explorassem seus recursos. Em seguida, criamos um jogo de labirinto e uma animação, para que a turma se familiarizasse com a ferramenta.

Nas aulas seguintes, divididos em duplas, os estudantes foram incentivados a desenvolver trabalhos sobre o combate à violência doméstica, com o apoio da cartilha “Prevenção da Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres com a Estratégia de Saúde da Família” (também disponível neste link). A partir da leitura, os alunos poderiam criar jogos ou animações. Um dos projetos contou a história de uma princesa que, depois de ver ser príncipe mudar ao longo do relacionamento, tornando-se alguém ciumento e violento, decidiu denunciá-lo aos guardas do seu próprio castelo, que o prendem.

Confira as imagens na galeria de fotos abaixo:


Além de animações voltadas para a conscientização sobre a Lei Maria da Penha, os estudantes também criaram jogos de labirinto, simulando uma personagem que tentava se livrar do agressor. O objetivo da atividade não era que se tornassem programadores, mas que aprendessem de maneira introdutória sobre a plataforma e, além disso, refletissem sobre esta realidade tão presente em nossa sociedade.

Assim, puderam entender como o Scratch, uma ferramenta de comandos simples e fáceis de aprender, pode ser utilizado para diversos fins.

Resultados

Os alunos desenvolveram a empatia, facilmente verificável diante dos relatos trazidos por eles, na forma como falavam sobre o assunto, manifestando, diferentes vezes, a tristeza por saberem de casos assim. Muitos meninos mudaram seu comportamento em relação às colegas de classe, tornando-se mais educados no trato diário. 

Um dos relatos compartilhados com a turma veio de uma das autoras da animação citada anteriormente: ela compartilhou a história de uma colega, cujo namorado se tornou possessivo no relacionamento, não permitindo que ela se encontrasse com as amigas e vigiava suas conversas nas redes sociais. Ela também contou o caso de uma vizinha que passava por várias agressões físicas e verbais, que pediu ajuda aos vizinhos por medo da violência. 

Este foi um trabalho muito gratificante de ser realizado. A região em que nossa escola está localizada, em área de periferia, não deixa de refletir as características sociais e econômicas desta localidade. A violência doméstica e contra a mulher é um problema que a escola tem o dever de abordar. 

O que é preciso para replicar o projeto?

Apesar de os computadores serem uma boa ferramenta, o Scratch pode ser baixado nos celulares, então os notebooks não são essenciais. As cartilhas podem ser substituídas por slides, se o professor não tiver como mandá-las para os alunos ou tiver tempos de aula muito reduzidos. Os estudantes também podem fazer pesquisas e registrar nos cadernos. Além disso, nenhum outro recurso é necessário.

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Erison Soares Lima

Professor graduado em letras (língua portuguesa) pela Universidade Federal do Amazonas, com especialização pela Universidade Estadual do Amazonas. É professor do ensino médio da rede pública, com 15 anos de experiência em escolas da rede estadual em Manaus (Amazonas).

TAGS

competências para o século 21, scratch, socioemocionais

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