O que são rotinas de pensamento na educação?
As rotinas de pensamento são projetadas para serem práticas, fáceis de memorizar e estimular processos cognitivos e emocionais
por Ruam Oliveira 28 de setembro de 2023
Este texto foi atualizado em 01.10.2023 às 13h33
Identificar os caminhos que a mente humana cria para desenvolver ações e aprender é uma maneira de entender como esses processos funcionam. A partir dessa compreensão é possível, também, explorar de forma mais consciente e crítica o que está sendo observado e aprendido.
Essa é a proposta das rotinas de pensamento, um recurso de aprendizagem visível projetado para desenvolver habilidades como flexibilidade cognitiva e compreensão de diferentes pontos de vista. O modelo também ajuda os alunos a entenderem temas abstratos, polêmicos ou complexos.
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“As rotinas de pensamento podem ser aplicadas a qualquer estudo. E por que têm esse nome? Porque estruturam nosso pensamento, dão nome a certos processos cognitivos e fazem com que a gente saia de um nível de aprendizagem mais superficial para um mais profundo”, afirma Julia Andrade, fundadora da Ativa Educação e consultora pedagógica.
Julia explica que as rotinas de pensamento visíveis são ao mesmo tempo estruturas, ferramentas de estudo e um hábito mental. “A gente as aprende de maneira vinculada a um contexto de estudo, mas é possível transferi-las para a vida”, explica. Desde uma ida ao museu até a leitura de um livro pode se beneficiar dessa abordagem.
➡️Julia Andrade é uma das participantes da 3ª edição da Conferência NSTI (New School of Thought Institute) da Avenues The World School, em São Paulo (SP). Voltada a educadores da educação infantil ao ensino médio, a programação oferece formação para práticas centradas nos estudantes e projetos conectados ao mundo real. As inscrições estão abertas e podem ser realizadas neste link. |
Qual o principal objetivo das rotinas de pensamento?
A consultora destaca que investir nas rotinas de pensamento não é uma tarefa difícil ou que exige muita estrutura. “É preciso uma busca por construção de sentido. Tudo o que elas não podem ser é algo mecânico”, reforça.
Uma lista de tarefas ou exercícios para serem feitos em casa, por exemplo, teriam pouca aderência à proposta. A principal intenção é estimular o pensamento da turma, fazendo com que ela reconheça o objetivo do que está sendo proposto em aula.
“É mais importante promover uma cultura de pensamento vivo e participativo do que pedir uma tarefa escrita”, diz Julia. Para quem está começando a trabalhar com essa abordagem, é interessante que a turma seja estimulada a fazer perguntas e trabalhar coletivamente. A ação de escrita sobre o que aprenderam deve vir em um segundo momento.
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Aliás, escrever é o que vai tornar a aprendizagem mais visível e esse processo vem depois de os estudantes passarem por uma fase de reflexão, que os coloque a pensar crítica e ativamente sobre os conteúdos.
“É mais importante encorajar a participação, a pergunta e a curiosidade para realmente trazer os estudantes para o estudo e somente depois pedir uma sistematização e a escrita. Se as rotinas são usadas para promover o sentido e participação, está tudo certo, mas se elas viram uma tarefa mecânica para o professor dar um check list, então está errado”, reforça.
As rotinas de pensamento na prática
A professora Danielly Abu Bonilla, em um relato para a Ativa Educação, instituição dirigida por Júlia, comenta que, apesar de muito interessada na abordagem, também tinha dúvidas sobre como começar a utilizá-la.
Para iniciar o processo ela então começou com a leitura de um livro. Explorando a capa, a docente fez uma adaptação da pergunta: vejo-penso-pergunto. “Usei somente as consignas ‘O que eu vejo?’ e ‘O que eu imagino?. Realizei a atividade oralmente; queria ver o quanto os alunos dos 4°s e 5°s anos eram capazes de elaborar o seu pensamento em etapas”, escreveu a professora.
Para a surpresa de Danielly, os estudantes conseguiram planejar seus pensamentos em etapas, formulando também questionamentos a respeito das imagens que estavam vendo e dividindo essas impressões uns com os outros.
“Ao entrar em contato com o pensamento do colega, muitos reviram os próprios pensares, entendo que esse processo de autoavaliação foi muito mais enriquecedor do que se eu estivesse falando: ‘Joãozinho, fez certo’. Ao final da leitura, comparamos as ideias iniciais levantadas com a rotina de pensamento com o que realmente aconteceu na história”, apontou.
➡️ Leia o relato da professora na íntegra
Bom para observar oportunidades
Trabalhar com rotinas de pensamento não significa captar o que está sendo feito errado em sala de aula e tentar corrigir, mas sim encontrar oportunidades de ampliar a participação dos alunos.
Julia comenta que um dos grandes desafios do período pós-pandemia é fazer com que os alunos tenham um sentimento de pertencimento e se sintam motivados a participar.
“A ideia é que o professor seja um pesquisador da sua própria prática para que ele ache oportunidade de transformar um estudo chato ou burocrático em uma proposta realmente investigativa e transformadora tanto para si próprio, quanto para os alunos”, afirma.
Próximo aos estudantes do século 21
Observar as aprendizagens de maneira mais visível e que façam sentido para os estudantes é uma maneira de incluir a escola no contexto atual, respondendo aos anseios e objetivos do aluno do século 21.
Além do protagonismo, os estudantes também buscam por conexões entre o que aprendem na escola e o que vivenciam fora dela. “Se a gente faz esse movimento, estamos trabalhando com um currículo relevante e com o estudante no centro, onde ele próprio atua como um agente de transformação e percepção de oportunidades para melhorar o mundo”, reflete Julia.
Mas não basta apenas um único docente querer trabalhar com as rotinas de pensamento. Quanto mais a gestão estiver envolvida, melhores serão os resultados. Há um impacto quando a ação é feita de forma individual, mas ele é potencializado quando há um suporte maior.
Este texto foi atualizado em 01.10.2023 às 13h33