MEC quer ouvir 600 mil professores que ensinam matemática no Brasil
Ministério da Educação lança iniciativa para coletar dados e embasar novas políticas públicas na área. O Porvir, parceiro técnico da ação, desenvolveu um guia para apoiar a escuta dos professores
por Redação 11 de março de 2025
“Para mim, estudar matemática virou um hobby”, diz Matheus Rodrigues, estudante de 14 anos, medalhista da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas). Com o incentivo dos professores, ele deixou de ver a disciplina como algo chato e passou a entendê-la como uma ferramenta para apoiar seu desenvolvimento, além de uma oportunidade para conhecer outras pessoas com interesses semelhantes.
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Para que mais estudantes como Matheus descubram o gosto pela matemática é preciso entender as necessidades e desafios enfrentados pelos professores em sala de aula. Este é o objetivo central da Escuta Nacional dos Professores que Ensinam Matemática, lançada pelo MEC (Ministério da Educação), com apoio do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), durante webinário transmitido pelo YouTube na segunda-feira (10).
Voltada aos mais de 600 mil educadores de matemática dos ensinos fundamental (anos iniciais e finais), médio e da educação profissional e tecnológica de nível médio das escolas públicas brasileiras, a escuta acontecerá entre os dias 17 e 28 de março. A participação é voluntária e a pesquisa pode ser respondida anonimamente.
Para apoiar a mobilização para a escuta, um guia traz os principais pontos que vão nortear a iniciativa. “Essa escuta é um passo para a construção da garantia da aprendizagem adequada para todos os estudantes da educação básica. Por isso, uma é muito importante que todos os professores que ensinam matemática nas escolas públicas se engajem na mobilização”, destacou Tatiana Klix, diretora do Instituto Porvir, durante o webinário. O Porvir é parceiro técnico da iniciativa.
Acesse o site da Escuta Nacional dos Professores que Ensinam Matemática
O questionário da Escuta Nacional é composto por perguntas sobre o perfil dos educadores, percurso formativo, o contexto em que atuam, clima escolar e práticas pedagógicas, entre outras questões.
A proposta da iniciativa é reunir informações para orientar a definição de ações e estratégias do Compromisso Nacional Toda Matemática, considerando as demandas apontadas pelos professores para repensar o ensino de matemática no país.
O desafio da aprendizagem da matemática no Brasil
“Não é novidade para ninguém que a gente vem há alguns anos enfrentando desafios em relação a aprendizagem da matemática. Temos um desempenho muito frágil e estamos em um patamar estagnado nos últimos dez anos em relação à matemática”, afirmou a secretária de Educação Básica do MEC, Kátia Schweickardt, em referência aos dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
Em 2021, a pesquisa mostrou que apenas 37% dos estudantes do 5º ano atingem o nível esperado de aprendizagem em matemática. No 9º ano, esse número cai para 15%. Apenas 5% dos estudantes concluem o ensino médio com uma aprendizagem adequada.
Já o TIMSS 2023 (Trends in International Mathematics and Science Study, em inglês) apontou que 51% dos estudantes brasileiros do 4º ano do ensino fundamental não alcançam o nível básico de compreensão da matemática. Ou seja, não conseguem fazer operações simples como somar ou subtrair números inteiros de até três algarismos ou multiplicar e dividir números inteiros de um algarismo.
“Diferentemente do que acontece com outras áreas do conhecimento, nós não temos conseguido garantir o índice adequado para a aprendizagem de matemática em nenhuma unidade federativa do país”, destacou a coordenadora-geral de ensino fundamental, Tereza Farias.
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O último PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), promovido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), revelou que 73% dos estudantes brasileiros não conseguiram atingir a nota básica em aprendizagem básica de matemática. Em uma escala de 1 a 6, esses estudantes figuram no nível 2, considerado básico. O nível 1 é considerado insatisfatório.
Frente a tantos desafios, a Escuta Nacional dos Professores que Ensinam Matemática quer colocar uma lupa em cima dos processos de ensino da disciplina, afirmou Kátia Schweickardt. “Buscamos encontrar as especificidades que circundam a matemática e que podem ser utilizadas para potencializar o ensino, valorizando as experiências de alunos e professores e reconhecendo o papel da construção coletiva.”
Com a escuta, espera-se incentivar também professores que ensinam matemática a inspirar cada vez mais os estudantes. “A ideia é que esses resultados ajudem a entender, de fato, os desafios que os professores vivem e as reflexões que trazem”, complementou Tatiana Klix.
Boas práticas
O webinário também destacou a experiência das escolas brasileiras na Olimpíada de Matemática (OBMEP). Matheus Rodrigues, estudante que aparece no começo desta matéria, atribui à competição um dos motivos pelo gosto desenvolvido pela matéria. “Eu me senti desafiado e continuei estudando. Tive muito apoio dos meus professores naquela época”, contou, em agradecimento aos educadores. “Não sabia que quando eu começasse a estudar de verdade eu ia pegar gosto pela matemática”, enfatizou.
Além de atrativa para os alunos, a competição também é responsável por alavancar os resultados das escolas. Diretor do CETI (Centro Estadual de Tempo Integral) Augustinho Brandão, única escola de ensino médio na região rural de Cocal dos Alves (PI), Darkson Vieira conta que o engajamento com os professores com a Olimpíada foi um estopim para que toda a escola se envolvesse na busca por melhores resultados nessa área.
“Nossa história com a matemática surgiu junto com a OBMEP, em 2005. Naquela época, o agente de mobilização foi um professor, que incentivou os alunos a participar. Desde então, a mobilização passou a ser também da escola, garantindo material para o planejamento e o acesso dos estudantes”, relatou. O CETI criou grupos de estudo para o desenvolvimento das competências cobradas na OBMEP e passou a oferecer aulas de reforço no contraturno escolar e aos sábados, o que tornou o ensino ainda mais atrativo.
Também participaram do webinário os consultores da Coordenação-Geral de Ensino Fundamental, Victor Eyng e Stael Campos; o integrante do Conselho Gestor da Olimpíada de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMbr), Maurício Endo; a gerente de Avaliação e Prospecção do Itaú Social, Fernanda Seidel; e a cofundadora e consultora institucional da Rede Conhecimento Social, Ana Lima.
Materiais de apoio |
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Em janeiro deste ano, o MEC realizou o webinário “Somando Vozes por Toda Matemática”, no qual também reuniu professores e estudantes para conversar sobre a importância do conhecimento pedagógico no ensino da matemática e como práticas inovadoras podem melhorar a aprendizagem. O mês também marcou o lançamento do Caderno de Inovação Curricular em Matemática, no âmbito do Programa Escola das Adolescências. O material apresenta o Clube de Letramento Matemático, que visa apoiar a recomposição de aprendizagens essenciais e tornar o ensino da matemática mais envolvente. |