Ludicidade e vínculos são pilares de projeto sobre alimentação saudável
Divulgação/ Colégio Sesi da Indústria Portão

Inovações em Educação

Ludicidade e vínculos são pilares de projeto sobre alimentação saudável na educação infantil

Com momentos na horta, bolo rosa e suco verde, o projeto “Momento com a Nutri”, do Colégio Sesi da Indústria Portão, de Curitiba (PR), promove hábitos saudáveis e busca desmistificar a alimentação. A instituição é finalista do Prêmio Melhores Escolas do Mundo 2025

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 28 de julho de 2025

Uma criança que comemora a presença de um brócolis no prato de comida pode surpreender. Isso porque é comum se deparar com a seletividade alimentar na infância. Muitas famílias buscam orientação profissional e testam alternativas para driblar a falta de interesse dos filhos pelos alimentos ou pelos momentos de refeição. Pensando na importância de estimular hábitos alimentares saudáveis desde cedo e de promover uma relação positiva com a alimentação, o Colégio Sesi da Indústria Portão, de Curitiba (PR), desenvolveu o projeto “Momento com a Nutri”.

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A iniciativa é responsável por colocar a instituição entre as finalistas do Prêmio Melhores Escolas do Mundo 2025, premiação internacional criada em 2022 pela organização britânica T4 Education, que reconhece projetos educacionais inovadores e transformadores.

Concorrendo na categoria “Apoiar Vidas Saudáveis”, o projeto é fruto de um trabalho contínuo realizado ao longo de décadas na instituição, que integra a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Sistema Fiep). “O Sesi Portão é uma das unidades mais antigas aqui no Paraná. Para se ter uma ideia, minha filha estudou nessa unidade há 28 anos e, já naquela época, tínhamos ações voltadas à educação nutricional”, comenta Raquel Nascimento, gerente sênior de educação básica e cultura do SESI (Serviço Social da Indústria) do Paraná.

Prêmios e reconhecimento
O Colégio Sesi da Indústria Portão está entre as quatro instituições brasileiras finalistas do Prêmio Melhores Escolas do Mundo 2025. Saiba mais sobre a premiação neste link.

Como escola de tempo integral, a instituição oferece cinco refeições para a educação infantil, cinco refeições: café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde e uma última refeição antes de as crianças irem para a casa. E, desde cedo, as educadoras percebem uma seletividade e resistência das crianças. 

Débora Domiciano, diretora da unidade, destaca como a sensibilidade natural da infância faz com que pequenos detalhes impactem a aceitação dos alimentos. “Qualquer textura, cheiro ou sabor um pouco diferente já interfere. Já os alimentos industrializados passam por processos que garantem constância no sabor. Mas, ao consumir um legume ou fruta, isso muda: a laranja de hoje pode estar mais doce ou mais azeda amanhã. Isso gera insegurança na criança, que acaba resistindo”

Parceria Porvir e T4
A edição de 2025 do prêmio traz outra novidade. Como parceiro oficial da T4 Education no World’s Best School Prize no Brasil, o Porvir reforça seu compromisso com a valorização de boas práticas educacionais. Ao longo do ano, você encontrará aqui uma cobertura especial da premiação, com entrevistas e exemplos valiosos das iniciativas finalistas.

Alimentação além do ato de comer 

Cristina Marti, nutricionista da escola, conta que o projeto é dividido em quatro fases. “A educação nutricional vai muito além de uma aula de culinária. A criança precisa ter uma intimidade com o alimento, se relacionar com ele e aceitar sua presença antes de efetivamente comer. Por isso, trabalhamos várias abordagens.” 

Na primeira etapa, as crianças vão até a horta, onde mexem na terra. Esse contato é fundamental, segundo Cristina, uma vez que a maioria das crianças, por morar em apartamentos, não têm acesso direto à terra. “Estimular os sentidos na terra, vendo plantas e insetos, melhora a relação com a alimentação, que também é sensorial. É muito importante que a criança sinta a textura da terra seca e molhada, porque muitas só conhecem a areia da pracinha ou da praia. Muitas crianças têm nojo de pegar na terra, porque essa relação íntima com a natureza foi se perdendo”, reflete.

Crianças e educadora sentadas à mesa com alimentos coloridos, em atividade sobre alimentação saudável.
Divulgação/ Colégio Sesi da Indústria Portão

Na segunda fase, são realizadas atividades lúdicas: assistir a um vídeo, fazer uma leitura, um jogo ou alguma proposta que fale sobre comida, sem a criança ter que necessariamente comer, o que fica para a terceira etapa. É nesse momento que Cristina apresenta algum alimento in natura: “Se eu levo um repolho, por exemplo, eles vão olhar, cortar, cheirar, pegar, sentir, vão ter uma relação com o alimento, trabalhando todo o sensorial nessa exploração. Às vezes dou uma lupa e falo que eles são detetives fazendo uma investigação. No final, depois de toda a explicação, a gente experimenta.”

Por fim, na quarta etapa, as crianças colocam a mão na massa. Em parceria com as merendeiras, elas preparam receitas e provam os alimentos.

O diferencial do projeto está na sua continuidade. Ele não se limita a períodos específicos, mas integra a grade curricular da educação infantil de forma recorrente. “O ‘Momento com a Nutri’ faz parte do dia a dia da escola. Nós entendemos que, para alcançar nossa intenção de formar essa criança para que, futuramente, seja um adulto com hábitos mais saudáveis, isso deve acontecer de forma natural, não será imposto”, afirma Débora.

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Essa abordagem também se reflete nos momentos de refeição. Nenhuma criança é obrigada a comer, mas todas têm acesso aos alimentos. “Eu sempre falo para todo mundo, para as famílias e para os educadores, que nossa função é dar oportunidade. Se você perguntar para a criança: ‘Quer uma salada?’, ela vai falar que não. Então deixa na frente e fala: ‘Daqui a pouco eu venho buscar. Se você não quiser, deixa no cantinho’. Na escola ela sempre tem uma variedade. Não é porque muitas não comem vagem que eu vou tirar totalmente do cardápio, porque tem crianças que comem, e as que não comem precisam ter essa oportunidade de experimentar”, analisa Cristina.

A importância do vínculo e do lúdico na alimentação saudável 

Vencer a resistência das crianças e fazer com que ao menos experimentem novos alimentos depende de um trabalho afetivo e lúdico. “As crianças levam para a sala o que retiram da horta, onde encontram materiais próprios, aventais com desenhos e frutas coloridas. Tem também a contação de histórias, toda essa parte de encantamento da infância. Na parte de colocar a mão na massa, as merendeiras trazem propostas diferentes de que eles gostam, como o pão de beterraba, que é rosa”, exemplifica Débora, ou o suco do Hulk, na coloração verde por conta da couve.

Educadora entrega pé de alface para criança em atividade na horta escolar.
Divulgação/ Colégio Sesi da Indústria Portão

Evitar rigidez e brigas no refeitório são outras estratégias utilizadas por Cristina. “O momento da refeição não é para chamar a atenção da criança. Aquele ambiente tem que ser de paz, agradável e prazeroso, porque ninguém consegue comer nervoso ou chorando.”

Além de conhecer as crianças pelo nome, a nutricionista também trabalha para que sua relação seja a melhor possível, demonstrando a importância do vínculo com quem oferece os alimentos.

Resultados

Raquel Nascimento comenta que, além do trabalho com as crianças realizado na escola, a instituição também tem momentos nos quais as famílias aprendem sobre alimentação saudável, o que é servido para os filhos e o preparo desses alimentos. “Com esse projeto, a gente consegue ressignificar a relação das crianças com a alimentação. Apesar de passarem a maior parte do tempo na escola, quando chegam em casa, vão levar esse pensamento consciente.”

A pandemia de covid-19 representou um momento desafiador, em que as educadoras, juntamente com a nutricionista e merendeiras, precisaram retomar a importância dos hábitos saudáveis de alimentação com as crianças, que voltaram do isolamento mais resistentes, principalmente com relação às verduras. Para Cristina, é preciso que as famílias desenvolvam o hábito de comer alimentos mais saudáveis em casa.

“As famílias trazem relatos de que as crianças aprenderam a comer tal fruta na escola ou que levaram bronca porque os pais comeram muito açúcar ou pediram pizza. Nós desenvolvemos um trabalho de formiguinha na escola, mas percebemos que, quando a família também está engajada a mudar, esse retorno vem muito mais rápido. Quando não temos esse engajamento, o processo para alguma melhora é muito mais moroso.”

Criança segura um sanduíche com vegetais durante atividade de alimentação saudável em grupo.
Divulgação/ Colégio Sesi da Indústria Portão

O sucesso foi tão expressivo que, em 2025, o projeto passou a ser implementado, em caráter piloto, também com turmas do ensino fundamental que almoçam na escola. Nessa etapa, além das vivências práticas, o conteúdo se conecta às competências e habilidades da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), sendo trabalhado de forma interdisciplinar.

Raquel afirma que, com o projeto, o objetivo é cultivar nas crianças uma relação emocional e positiva com a alimentação, baseada em padrões saudáveis e conscientes. Segundo ela, essa transformação ultrapassa os muros da escola, promovendo um novo olhar para a qualidade de vida, a saúde e a nutrição, tanto para os estudantes quanto para suas famílias. Tudo isso para que o vínculo com o alimento se fortaleça desde a infância, formando hábitos que acompanhem as crianças ao longo da vida e contribuam para escolhas mais conscientes no futuro.


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currículo, educação infantil, melhores do mundo

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