Escola inclusiva ganha força com formação docente e parceria com as famílias
Evento da Somos Educação debate a legislação e destaca a importância da formação continuada de professores, do uso da tecnologia e a parceria entre famílias e escolas para fortalecer a inclusão escolar
por Maria Victória Oliveira
8 de agosto de 2025
O Censo Escolar 2024 apontou que, entre 2023 e 2024, as matrículas na educação especial cresceram 17,2%, passando de 1,8 milhão para 2,1 milhões. Apenas na educação infantil, o Panorama da Educação Especial 2024, documento do Instituto Rodrigo Mendes, mostra que, entre 2013 e 2024, as matrículas na educação especial aumentaram 526,9% na creche e 528,1% na pré-escola.
Mas, afinal, o que caracteriza a educação especial? Como as escolas podem se preparar para acolher alunos e famílias atípicas? Como a gestão deve se posicionar diante do crescimento do número de estudantes com deficiência em sala de aula? E os professores, de que maneira podem promover o desenvolvimento dessas crianças e adolescentes?
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Diante dessas questões, a SOMOS Educação promoveu o evento online “Inclusão: desafios e oportunidades para a gestão escolar”. Dividido em quatro momentos, o evento abordou a legislação, os desafios da inclusão na gestão escolar, a formação de professores como pilar fundamental para promover a inclusão, o papel da tecnologia no processo de inclusão por meio de ferramentas como o PEI (Plano de Ensino Individualizado), e a importância da parceria entre famílias e escolas para a promoção da inclusão.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) define como pessoa com deficiência aquela que apresenta impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que, em interação com barreiras, possa limitar sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Nesse sentido, é proibido negar matrícula, exigir laudo médico ou cobrar valores extras desses estudantes. A depender das características do estudante, é necessário adotar medidas como flexibilizações curriculares e a presença de profissionais de apoio, cuja necessidade deve ser definida pela escola com base em critérios técnicos, e não apenas no diagnóstico, para garantir não só o direito à educação, mas também o desenvolvimento da autonomia e independência dos alunos.
A formação continuada de professores como base para a inclusão
Arthus Bustamante, especialista em inclusão e formador de professores do Instituto Singularidades, apresentou cinco características essenciais das formações continuadas eficazes que beneficiam a aprendizagem dos estudantes.
Em primeiro lugar, essas formações devem ter duração prolongada para que os professores possam aplicar os novos conhecimentos, testar, discutir com colegas e tornar as práticas parte da rotina pedagógica. Além disso, devem promover metodologias que levem o professor a refletir profundamente sobre sua atuação, mais do que simplesmente apresentar métodos ativos de aprendizagem.
Para serem mais efetivas, as formações precisam contar com a participação coletiva dos professores, seja de uma mesma série para garantir horizontalidade, seja de uma mesma disciplina para garantir coerência vertical na escola.
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Outra característica importante é a coerência no objeto de estudo e o foco no conhecimento pedagógico do conteúdo, isto é, o saber que une o domínio do conteúdo ao conhecimento dos princípios pedagógicos e à forma como os estudantes aprendem esse conteúdo.
“Precisamos pensar a escola como um espaço de inteligência distribuída, onde todo o corpo docente seja qualificado continuamente.”
Thalita do Valle, coordenadora de tecnologia educacional da SOMOS Educação, trouxe dados do Instituto Rodrigo Mendes que mostram que 94% dos professores não têm formação para lidar com alunos com deficiência. “Sem conhecimento, ficamos inseguros e frustrados em relação ao desenvolvimento desses alunos em sala de aula. Por isso, a formação continuada deve ser um pilar necessário para transformar nossas escolas.”
Ela destacou ainda que, no caso da educação especial, é importante considerar as constantes atualizações médicas que trazem novas evidências. Assim, além de identificar o tipo de inclusão presente na sala, é necessário ter práticas, ferramentas e estratégias baseadas em evidências.
Cabe ao gestor escolar, além de sensibilizar e conscientizar a comunidade escolar sobre a inclusão, deve incentivar a atualização constante das práticas, promover interações entre os alunos, monitorar e avaliar estratégias, respeitar as particularidades e, acima de tudo, compreender que a inclusão é um processo contínuo.
“Precisamos entender que a educação inclusiva é um processo. Não podemos limitar o que o aluno vai aprender, estabelecer prazos ou ter pressa, mas saber que estamos fazendo o máximo para incluí-lo em sala de aula”, disse.

Diferenças entre integração e inclusão escolar: conceitos e práticas
Lidiane Olo, diretora de produção dos materiais didáticos da SOMOS Educação, ressaltou a importância de diferenciar integração e inclusão escolar. “Inclusão não é caridade, exceção ou apenas colocar pessoas no mesmo ambiente. Inclusão escolar é garantir acesso, permanência, participação e aprendizagem.”
Na integração, o aluno deve se adaptar ao grupo, com foco na deficiência, ocupando o mesmo espaço físico e recebendo apoio pontual. Já na inclusão, as limitações são respeitadas, mas reconhece-se que os alunos têm papéis importantes no ambiente, que deve se adaptar a eles, proporcionando condições para participação ativa e desenvolvimento.
Plano de ensino individualizado e o papel da tecnologia na educação especial
No segundo semestre de 2025, a SOMOS Educação iniciará a fase de testes de uma nova funcionalidade na Plurall, plataforma da empresa: a construção do PEI (Plano de Ensino Individualizado) para alunos com dificuldades acentuadas, não necessariamente com deficiência.
O PEI é um documento detalhado que descreve objetivos educacionais, estratégias de ensino e adaptações para atender alunos com necessidades específicas, garantindo uma educação adaptada às suas capacidades e potencialidades. A ferramenta facilitará a comunicação e o alinhamento entre todos os envolvidos no processo educacional.
Os educadores poderão importar um PEI existente ou construir um novo por meio de um questionário sobre o estudante. Assim, escola e famílias terão compreensão ampla das necessidades e poderão trabalhar alinhadas na educação especial.
A importância da parceria entre famílias atípicas e escolas para a inclusão
“É impossível enfrentar esse desafio sozinho. Precisamos da união da escola e das famílias.” A frase das educadoras Tais e Roberta Bento, especialistas na relação família-escola e fundadoras da SOS Educação, foi o tom do debate que encerrou o evento.
Dentre os desafios da inclusão (como a falta de formação adequada na graduação, infraestrutura insuficiente, cobranças e falta de empatia das famílias, falhas na comunicação e ausência de suporte institucional), as educadoras destacaram que conhecer os perfis das famílias atípicas pode indicar caminhos para o trabalho em educação especial.
A AAIDD (Associação Americana de Deficiência Intelectual e Desenvolvimento) mapeou seis perfis de famílias de inclusão: vítima, defensor, perseverante, educador, negociador e surrenderer. São famílias que já passaram por situações de preconceito, que adotam uma postura combativa, que já foram acolhidas e, por isso, acreditam na possibilidade da inclusão, que se tornam verdadeiras especialistas na deficiência de seu filho ou filha, ou aquelas que acreditam que não existe uma resposta única para o processo de inclusão e que o único caminho é a parceria com a escola.
“Todos são perfis de famílias que passaram por traumas, medos e solidão, enfrentando muitas vezes o desprezo. Hoje, vivem em uma sociedade que não está preparada para oferecer o apoio necessário a essas famílias. Embora tenham perfis diferentes, a base dos sentimentos que compartilham é muito parecida: todas essas famílias têm um desejo enorme de pertencer, ser aceitas, participar e colaborar”, explicou Roberta.
Uma sugestão, portanto, é identificar cada perfil de família e promover, por exemplo, momentos de troca e conexão entre famílias atípicas, para que possam se ajudar e potencializar o processo de inclusão na escola. Entre outras possibilidades para fortalecer a parceria verdadeira entre família e escola estão a escuta ativa dos pais, o envio de retornos frequentes sobre pequenas conquistas dos estudantes, o compartilhamento de estratégias para o dia a dia, a solicitação de opinião e a aceitação de sugestões, entre outras.
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