Alunos venezuelanos se tornam protagonistas em projeto no RS
Divulgação

Diário de Inovações

Lição de empatia: alunos venezuelanos são protagonistas de projeto no RS

Conheça a jornada de alunos brasileiros e venezuelanos que transformaram a sala de aula em um espaço de acolhimento e empatia

por Moises Bruno de Oliveira ilustração relógio 19 de setembro de 2025

Quando idealizei o projeto “Venezuela aqui e agora: história, cultura e integração” na Escola Municipal Arno Nienow, em Dois Irmãos (RS), minha principal motivação foi criar uma experiência que fosse mais do que um simples conteúdo curricular, mas sim uma vivência prática de acolhimento e valorização da cultura venezuelana.

Diante do crescente número de alunos venezuelanos na escola, senti que era fundamental ensinar a história e cultura de um país vizinho e também promover a integração de todos os estudantes, tornando os alunos venezuelanos protagonistas dessa história.

🟠 Inscreva seu projeto escolar no Prêmio Professor Porvir

Atualmente, a escola conta com 40 alunos venezuelanos, e ao todo, mais de 150 estudantes participaram do projeto. Por isso, a iniciativa não só buscava proporcionar um aprendizado significativo para os estudantes brasileiros, mas também criar um ambiente de respeito às diferenças, acolhendo os alunos venezuelanos e proporcionando a eles uma experiência de pertencimento à nossa comunidade escolar.

Homem com barba e gorro bege, usando casaco colorido com as cores do arco-íris, posando ao lado de uma mesa com cartazes e maquetes sobre a Venezuela. Ao fundo, painel azul com informações e desenhos sobre a Venezuela e seus países vizinhos.
Divulgação

Primeiro passo: acolhendo a cultura

Lancei o projeto em junho, com a participação de alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Organizei as turmas de modo que cada grupo ficasse responsável por um aspecto diferente da história e da cultura venezuelanas. Pensei nessa estrutura para respeitar o nível de compreensão de cada turma e garantir uma abordagem progressiva e dinâmica dos temas.

O 6º ano iniciou com um estudo das civilizações pré-colombianas da Venezuela, focando nas culturas indígenas que habitaram o território antes da chegada dos europeus. Para muitos alunos, essa foi a primeira oportunidade de entrar em contato com esses povos e suas riquezas culturais. 

O 7º ano, por sua vez, aprofundou-se no processo de colonização da Venezuela e nos impactos desse processo nas sociedades indígenas e na formação do país.

No 8º ano, os alunos estudaram as lutas de independência da Venezuela e os movimentos que resultaram na criação de uma nação independente. Finalmente, o 9º ano focou nos recursos naturais da Venezuela e nas questões políticas contemporâneas que envolvem o país, estabelecendo um diálogo com a realidade atual dos alunos.

Leia também

Creche em Manaus ensina e aprende com crianças e famílias da Venezuela

ACESSAR

Grandes pensadores da educação popular na América Latina

ACESSAR

5 projetos escolares de destaque na América Latina e suas lições para educadores

ACESSAR

Metodologia: pesquisa, criação e sensibilização

Eu me baseei na abordagem ativa, com muita pesquisa orientada e uso de diferentes fontes de informação, como textos, vídeos, mapas e entrevistas com imigrantes venezuelanos da nossa comunidade escolar.

O contato direto com esses imigrantes se destacou  no projeto. Por meio das entrevistas, os alunos puderam ouvir relatos reais e emocionantes sobre as dificuldades e os sonhos de pessoas que deixaram seu país e vieram buscar uma nova vida no Brasil. Esse momento gerou grande reflexão e empatia em relação aos percalços enfrentados pelos imigrantes.

Os alunos também tiveram a oportunidade de produzir e criar. Cada grupo se responsabilizou por construir uma maquete com o mapa temático da Venezuela, elaborar slides para apresentações e escrever relatórios sobre os temas que estudaram.

Esses trabalhos exigiram o domínio do conteúdo e o desenvolvimento de habilidades de comunicação, organização e criatividade. O uso de computadores para a pesquisa e para a produção dos slides, bem como materiais como papelão, tintas e isopor para a construção da maquete, foram recursos fundamentais que permitiram aos alunos aplicar o conhecimento de maneira prática e colaborativa.

Mapa em relevo da Venezuela com notas adesivas conectadas por fios coloridos. As notas contêm informações sobre as cidades e parques da Venezuela. A bandeira e uma rosa dos ventos estão visíveis na imagem.
Divulgação

Integração intercultural: empatia e colaboração na escola

A integração dos alunos e o compartilhamento de saberes ocorreram de forma fluida ao longo de todo o processo. A troca de experiências e conhecimentos ocorreu durante as entrevistas e na produção dos trabalhos, quando alunos brasileiros e venezuelanos puderam colaborar de forma direta.

Esse diálogo intercultural ajudou a desmistificar estereótipos e promover uma compreensão mais profunda sobre as realidades dos imigrantes venezuelanos. Cada aluno, ao participar ativamente do processo, se sentiu parte do projeto, desenvolvendo um senso de pertencimento à comunidade escolar e ao grupo de pesquisa.

Além disso, as atividades de sensibilização sobre a diversidade cultural e os direitos dos imigrantes, realizadas com o apoio da equipe pedagógica, ajudaram a criar um ambiente de respeito e valorização. O foco na escuta ativa e no reconhecimento da cultura venezuelana como parte essencial da nossa sociedade contribuiu para a construção de um clima escolar mais acolhedor e inclusivo.

Planejamento e adaptação no ensino de diversidade cultural

Embora o projeto tenha sido muito positivo, surgiram alguns obstáculos. A dificuldade em encontrar materiais acessíveis sobre alguns períodos da história venezuelana representou uma das principais barreiras.

Além disso, adaptar o conteúdo e a linguagem para diferentes faixas etárias exigiu um planejamento cuidadoso, pois o conteúdo de história e política precisava ser ajustado para garantir a compreensão dos alunos.

A organização do tempo também foi um desafio, especialmente com um número tão grande de alunos envolvidos, mas com o apoio dos colegas professores e a colaboração dos próprios alunos, conseguimos superar esses obstáculos e manter o ritmo do projeto.

Mapa temático da Venezuela com várias linhas coloridas conectando regiões a notas adesivas de cores diferentes. As notas têm informações escritas à mão, e a palavra "MAPA TEMÁTICO" está escrita em letras vermelhas.
Divulgação

Celebrando a diversidade na Mostra de Trabalhos

A socialização dos resultados marcou o ponto alto do projeto, quando os alunos apresentaram os trabalhos produzidos para toda a comunidade escolar. Organizei uma Mostra de Trabalhos, na qual cada grupo teve a oportunidade de expor suas maquetes, relatórios e slides, explicando as descobertas e reflexões feitas ao longo da pesquisa.

Alunos, famílias e professores celebraram a diversidade e de reconhecimento do trabalho desenvolvido. Os estudantes venezuelanos, ao compartilharem suas histórias, sentiram-se profundamente valorizados, e os alunos brasileiros se emocionaram com as experiências vividas por seus colegas.

O impacto do projeto na escola foi significativo. Os alunos ampliaram seus conhecimentos sobre a Venezuela e desenvolveram habilidades de pesquisa, análise crítica, comunicação e empatia. 

O contato direto com os colegas venezuelanos e suas histórias reais fortaleceu o respeito à diversidade e a integração cultural, tornando o ambiente escolar mais inclusivo e acolhedor para todos. O projeto proporcionou maior valorização da cultura venezuelana e contribuiu para o fortalecimento da cidadania global entre os alunos, que passaram a ver o mundo de uma forma mais ampla e plural.

Mapa colorido da Venezuela com linhas conectando regiões a notas adesivas coloridas. As notas contêm informações manuscritas sobre as regiões. Uma bússola e a bandeira da Venezuela estão visíveis ao lado.
Divulgação

Legado e impacto: a transformação da escola e dos estudantes

O projeto “Venezuela aqui e agora: história, cultura e integração” representou um legado para a escola, inspirando novas práticas pedagógicas que incorporam a interculturalidade nas atividades diárias. Além do diálogo com as habilidades previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), ele reforçou o papel da escola como um espaço de diálogo, acolhimento e construção de cidadania, deixando uma marca positiva no ambiente escolar e impulsionando ações de inclusão e respeito às diferentes culturas.

Em um mundo cada vez mais globalizado e marcado por intensos fluxos migratórios, iniciativas como essa são essenciais para preparar os alunos para a convivência pacífica e produtiva com diferentes povos e culturas, e também para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. O projeto demonstrou que a escola pode ser um espaço de transformação social, onde o respeito às diferenças e a valorização das culturas são fundamentais para a formação de cidadãos mais empáticos e conscientes.


Moises Bruno de Oliveira

Professor há 11 anos, graduado em História e Geografia, com cinco especializações na área da educação. Realiza projetos com metodologias ativas pelo menos duas vezes ao ano com suas turmas. Leciona para as séries finais do ensino fundamental e para o ensino médio.

TAGS

3ª edição - Prêmio Professor Porvir, aprendizagem ativa, educação socioemocional, ensino fundamental

Cadastre-se para receber notificações
Tipo de notificação
guest

2 Comentários
Mais antigos
Mais recentes Mais votados
Comentários dentro do conteúdo
Ver todos comentários
Jane Dodde Schuh

Parabéns, professor Moisés, por ter esse olhar inclusivo, de acolhimento e muita sensibilidade!

Angela Maria Vieira

Parabéns professor, em 2019 foi vencedora desse Prêmio com um projeto voltado também para a questão da imigração. O estudo de caso que desenvolvi era sobre imigração haitiana. Os haitianos sofrem duplamente o peso da discriminação.

Canal do Porvir no WhatsApp: Receba as notícias mais relevantes sobre educação e inovaçãoEntre agora!