Jogos ensinam crianças sobre os perigos do crack
Criados na Universidade Católica de Pernambuco, games gratuitos serão levados a alunos de bairros de baixa renda do estado
por Vagner de Alencar
25 de julho de 2013
O Brasil amarga a primeira colocação no ranking de países que mais consomem crack no mundo, aponta um estudo divulgado neste ano pela Universidade Federal de São Paulo. Enquanto os índices parecem crescer assustadoramente no país, parecem faltar iniciativas mais incisivas, sobretudo nas escolas, que trabalhem a conscientização de crianças e adolescentes. Essa preocupação levou a Secretaria de Desenvolvimento Social de Direitos Humanos a pedir para a Unicap (Universidade Católica de Pernambuco) um estudo científico sobre o crack. A universidade topou o desafio e decidiu ir além: criar também jogos, em parceria com a faculdade de jogos digitais, para criar games gratuitos que instruam e ajudem crianças de comunidades de baixa renda no combate ao consumo da droga, partindo de situações do dia a dia.
“Nossa intenção é servir como uma outra fonte de informação, uma outra porta de entrada que pode ter influência positiva na vida da criança. O papel da família é imprescindível para evitar que os jovens se envolvam com as drogas. No entanto, todo combate à prevenção feito hoje é pouco, precisamos que mais e mais seja feito”, afirma Lucas Alencar, 22, graduado em jogos digitais no ano passado pela Unicap e um dos criadores dos games.
A iniciativa, que surgiu por meio do Projeto de Enfrentamento ao Crack da Secretaria de Desenvolvimento Social de Direitos Humanos, foi desenvolvida por três professores e quatro universitários da Unicap, que se dividiram para realizar a pesquisa, o webdesign e a arte dos games As Aventuras de Biu Biu e Desafios da Vida. No último dia 18, os jogos educativos foram apresentados na Campus Party Recife, evento que reuniu inovações na área da tecnologia, internet e entretenimento eletrônico.
Os jogos são destinados a crianças de 7 a 11 anos e estão disponíveis gratuitamente no site da Unica. Porém a ideia é que eles ganhem escalabilidade no estado, sendo usados em projetos sociais e organização sem fins lucrativos. Para chegar a mais estudantes, sobretudo de regiões mais vulneráveis da capital pernambucana, em parceria com o Governo Estadual de Educação, os jogos serão levados a escolas de regiões vulneráveis. Somente no estado, segundo levantamento do Ministério de Saúde, há mais de 30 mil usuários de crack.
De acordo com Alencar, durante a criação dos personagens, que contou com o apoio de psicólogos e outros especialistas, houve a preocupação de não retratar os personagens por meio de estereótipos. “Pensamos em não colocar, por exemplo, a figura de um traficante com essas ou aquelas características, porque as crianças poderiam associá-las ao seus pais, tios ou outros familiares. Decidimos adotar personagens neutros.”
No primeiro game, As Aventuras de Biu Biu, o jogador passeia pelas ruas de uma bairro de vila e precisar ir à padaria, levar um colega para fazer compras ou organizar um encontro com amigos no parque. Para avançar de fase, tem que driblar os chamados Senhores Cracks, que vão tentar oferecer a droga aos jogadores.
Já no segundo jogo, Desafios da Vida, os personagens fictícios João e Maria passam por diferentes estágios da vida, lidando com questões de saúde, família e estudos. Como uma espécie de analogia ao crescimento das crianças, que, primeiro, precisam se divertir no parque, depois ajudar nos afazeres de casa e, por fim, estudar para ter uma profissão.
No entanto, para alcançar esses estágios, vão sendo apresentados obstáculos nos quais o jogador precisa se atentar para não se desviar de seus objetivos. “No meio do caminho, há coisas que trazem danos, uma delas é a pedra do crack. Caso o jogador toque nela, automaticamente o mouse começa a mexer com um sinal de que está fazendo algo errado, ou seja, se entrar nesse caminho pode perder o rumo de suas metas”, completa Alencar.







Como enfatiza o texto, trata-se de “jogos destinados a crianças de 7 a 11 anos”, portanto em séries do Ensino Fundamental. As minhas breves reflexões se fixarão mais neste quadro didático-pedagógico. Inicialmente vale ressaltar as boas intenções dos organizadores em construir meios e estratégias tecnológicos para enfrentar o crescimento assustador em Pernambuco (e também no Brasil) do consumo de crack. Trata-se de um recurso didático- pedagógica, por assim dizer, destinada ao consumo das escolas, da mesma forma que um livro didático qualquer (doado ou não por instituições públicas). Vou me ater aos desdobramentos deste elemento que faz parte de um conjunto de outros que permeiam a complexidade “ensino-aprendizagem”. Assim, os organizadores do jogo midiático num determinado momento, ou seja, no segundo vídeo, se utilizam de dois personagens “JOÃO e MARIA” para dar um cunho de “tomadas de decisões” de caráter ético que busca a “preservação da vida”. Já lecionei no antigo Curso Primário. Mas, se eu fosse um professor de ensino fundamental hoje e tivesse que ser “convidado” pelo meu superior a usar esse recurso, eu me recusaria, mesmo que tivesse que usar o expediente que uma professora de 9a. série do “Colégio Militar de Porto Alegre” utilizou recentemente, recorrendo à Justiça Federal para defender seus direitos, que foram acatados. Duas razões para tanto: uma de caráter histórico e outro de preservação da própria vida. No caso da Profa. do Colégio Militar ela se recusou a usar o livro didático de História que defendia a Ditadura Militar de 64, quando para ela o livro silenciava as mortes e perseguições dos militares à época. No caso de João e Maria dos vídeos , eu vejo um contrassenso em relação aos personagens da história dos Irmãos Grimm. Neste caso João e Maria se livram da bruxa através da morte que Maria submete a bruxa no tacho de água fervendo. E este é um dos momentos de que a criançada de hoje vibra com o conto. Sutilmente os autores dos vídeos conservam os nomes da tradição histórico-oral para que professores e alunos criem a sua própria oralidade diante de um contexto em que eles não sabem atualmente em que estão se envolvendo. E com isto chego ao 2o. ítem: a situação conflitante em que os professores de Ensino Fundamental hoje se vêem em suas classes menos em relação ao consumo do que ao tráfico propriamente do crack por parte de alunos. Nestes últimos anos tenho encontrado com ex-alunos da Pedagogia que hoje lecionam em escolas públicas de Ensino Fiundamental de periferia no Estado de São Paulo. Resumindo: há professores/as qu sabem quem são esses “traficantes” mas são levados ao silêncio porque sabem que suas vidas correm risco. Será que em Pernambuco o quadro ensino-aprendizagem, incluindo sobretudo os alunos e alunas é diferente do que ocorre nas escolas públicas estaduais paulistas? Neste caso, então, o tráfico por parte destes alunos é o de levar dinheiro para casa, mesmo porque eles não têm autonomia, pois estão ligados a uma grande “rede”…
Como enfatiza o texto, trata-se de “jogos destinados a crianças de 7 a 11 anos”, portanto em séries do Ensino Fundamental. As minhas breves reflexões se fixarão mais neste quadro didático-pedagógico. Inicialmente vale ressaltar as boas intenções dos organizadores em construir meios e estratégias tecnológicos para enfrentar o crescimento assustador em Pernambuco (e também no Brasil) do consumo de crack. Trata-se de um recurso didático- pedagógica, por assim dizer, destinada ao consumo das escolas, da mesma forma que um livro didático qualquer (doado ou não por instituições públicas). Vou me ater aos desdobramentos deste elemento que faz parte de um conjunto de outros que permeiam a complexidade “ensino-aprendizagem”. Assim, os organizadores do jogo midiático num determinado momento, ou seja, no segundo vídeo, se utilizam de dois personagens “JOÃO e MARIA” para dar um cunho de “tomadas de decisões” de caráter ético que busca a “preservação da vida”. Já lecionei no antigo Curso Primário. Mas, se eu fosse um professor de ensino fundamental hoje e tivesse que ser “convidado” pelo meu superior a usar esse recurso, eu me recusaria, mesmo que tivesse que usar o expediente que uma professora de 9a. série do “Colégio Militar de Porto Alegre” utilizou recentemente, recorrendo à Justiça Federal para defender seus direitos, que foram acatados. Duas razões para tanto: uma de caráter histórico e outro de preservação da própria vida. No caso da Profa. do Colégio Militar ela se recusou a usar o livro didático de História que defendia a Ditadura Militar de 64, quando para ela o livro silenciava as mortes e perseguições dos militares à época. No caso de João e Maria dos vídeos , eu vejo um contrassenso em relação aos personagens da história dos Irmãos Grimm. Neste caso João e Maria se livram da bruxa através da morte que Maria submete a bruxa no tacho de água fervendo. E este é um dos momentos de que a criançada de hoje vibra com o conto. Sutilmente os autores dos vídeos conservam os nomes da tradição histórico-oral para que professores e alunos criem a sua própria oralidade diante de um contexto em que eles não sabem atualmente em que estão se envolvendo. E com isto chego ao 2o. ítem: a situação conflitante em que os professores de Ensino Fundamental hoje se vêem em suas classes menos em relação ao consumo do que ao tráfico propriamente do crack por parte de alunos. Nestes últimos anos tenho encontrado com ex-alunos da Pedagogia que hoje lecionam em escolas públicas de Ensino Fiundamental de periferia no Estado de São Paulo. Resumindo: há professores/as qu sabem quem são esses “traficantes” mas são levados ao silêncio porque sabem que suas vidas correm risco. Será que em Pernambuco o quadro ensino-aprendizagem, incluindo sobretudo os alunos e alunas é diferente do que ocorre nas escolas públicas estaduais paulistas? Neste caso, então, o tráfico por parte destes alunos é o de levar dinheiro para casa, mesmo porque eles não têm autonomia, pois estão ligados a uma grande “rede”…