Escola de programação usa espírito olímpico para ensinar resiliência e empatia
Atividade alia lógica de programação e esporte para incentivar a prática de atividades físicas e o trabalho em equipe
por Andréa Oliveira De Angelis 10 de agosto de 2016
A Bits e Blocos é uma escola de tecnologia criativa. Para comemorar as Olimpíadas e desenvolver habilidades como trabalho em equipe, resiliência, raciocínio lógico e conceitos de estrutura robótica, além de envolver os alunos no espírito olímpico, eu, juntamente com os professores Vinícius Oliveira, de robótica, e Guilherme Pastorelli, de desenvolvimento de games, resolvemos inserir os alunos em uma experiência de aprendizagem baseada nos jogos olímpicos.
Durante uma tarde de julho, alunos de 4 a 14 anos vieram pra escola participar da Olimpíada de programação e robótica. Começou assim: as crianças chegaram e de cara já ficaram super felizes porque foram recepcionadas pelos professores vestidos com camisetas do Brasil. Em seguida, nós levamos todos para uma sala e explicamos a atividade. Aproveitamos também para passar um vídeo das olimpíadas e falamos sobre espírito olímpico. Dividimos as equipes fazendo questão de misturar as idades, porque os alunos estão habituados a lidar com crianças da mesma faixa etária. Os maiores acolheram os menores, que não se sentiram intimidados. Quando uma criança menor errava, os maiores muitas vezes estavam do lado assim “vai, tenta de novo, continua”. Depois, usamos um software de roleta eletrônica para sortear que país cada equipe representaria.
A partir daí, explicamos que cada faixa etária dentro das delegações iria programar um jogo diferente usando a plataforma Scratch (software de programação desenvolvido pelo MIT). Uma turma programou um jogo de basquete, outra, um jogo de pênaltis e uma terceira construiu um arco e flecha com LEGO. O de basquete era basicamente um aro que ficava andando de um lado pro outro da tela e eles tinham que fazer a cesta. Já o futebol, era uma tela com um gol e os alunos precisam defender as bolas. Nós usamos a câmera do notebook, que o Scratch permite que funcione como um Kinect (um sensor do videogame XBOX que detecta movimentos), e o aluno ia tentando defender o gol.
Além disso, usamos kits de robótica educacional LEGO Education para construir um arco e flecha, um gol e o mecanismo de chute semelhante ao futebol de botão. Para completar, resgatamos o campo de madeira do futebol de botão para os alunos jogarem. O legal foi que nenhuma dessas crianças tinha jogado futebol de botão na vida, então foi um despertar pra outras brincadeiras. Foi incrível vê-los se divertir com um brinquedo tão simples e que, certamente, foi utilizado por seus pais na infância. Depois da criação dos jogos, foi a vez do treinamento, seguida da competição, que também aconteceu por faixa etária.
Nós terminamos a atividade com a entrega das medalhas e uma festa, que teve direito à música tema da vitória do Ayrton Senna e chuva de papel picado. Também organizamos a fila de cumprimentos e explicamos aos alunos a importância de competir, de saber perder e ganhar, ressaltando que é preciso reconhecer o esforço do adversário e respeitar uma pessoa que também treinou para aquele momento, assim como os atletas. O espírito olímpico mostrou que ganhar não significa anular o valor das outras pessoas. Ele nos traz essa questão da empatia, do respeito e colaboração. Nós tentamos mostrar que não é preciso ser atleta para levar essas ideias pro nosso dia a dia.
Muitas crianças deixam de se envolver ou de praticar um esporte para ficar jogando. Essa geração é aficionada por tecnologia. Muitos dos nossos alunos contam que vão dormir super tarde porque ficam quatro ou cinco horas seguidas conectados, brincando. Apesar de estar em uma escola de tecnologia, não acho que as crianças tem que ficar 24 horas por dia em frente a um computador. Outro objetivo da Olimpíada de robótica foi mostrar que existem atividades que são deixadas de lado para priorizar a tecnologia. Eles saíram daqui pensando “nossa, hoje eu programei um jogo de basquete no Scratch. Mas há quanto tempo que eu não jogo basquete de verdade?”.
Andréa Oliveira De Angelis
Formada em informática e direito, aos 17 anos fundou a EnsinoIP, empresa que oferece metodologia de Informática e Robótica para escolas particulares. Em 2016, ajudou a fundar a Bits e Blocos, escola de Tecnologia Criativa para crianças e adolescentes.