Apoio da família impulsiona jovem a seguir seu projeto de vida no ensino médio - PORVIR
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Inovações em Educação

Apoio da família impulsiona jovem a seguir seu projeto de vida no ensino médio

Nesta etapa, o acompanhamento feito pelos pais ou responsáveis deve considerar que o estudante tem maior autonomia e uma relação já estabelecida com a escola

por Marina Lopes ilustração relógio 9 de setembro de 2016

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Este conteúdo faz parte da
Série Engajamento Familiar

O envolvimento da família com a escola se transforma de acordo com o avanço e amadurecimento do estudante. No ensino médio, surgem novos desafios e questões a serem consideradas. Com maior autonomia e responsabilidade para lidar com suas atividades escolares, o jovem também passa por um momento de tomada de decisões que envolvem a elaboração de um projeto de vida.

Ensino fundamental: Comissões fortalecem a participação da família na escola
– Educação infantil: Tudo começa com a confiança entre família e escola

Ao consultar documentos e pesquisas, as referências ao envolvimento da família na escola costumam aparecer com maior frequência na educação infantil e no ensino fundamental. Conforme avançam as séries escolares, isso tende a diminuir. “Quando a criança é menor, você precisa de um apoio maior da família. O esperado é que, à medida que a criança e o adolescente vão crescendo, eles consigam desenvolver maior autonomia. A relação passa a ser cada vez mais direta entre a escola e o próprio sujeito”, explica Tania Resende, pesquisadora do Observatório Sociológico Família-Escola, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Diferentemente de outras etapas, os pais ou responsáveis devem considerar que no ensino médio os estudantes já possuem maior autonomia, inclusive para lidar com conteúdos e questões escolares. Mas ainda que a família não tenha uma presença direta na escola, ela deve estar atenta para acompanhar resultados e frequência. “Muitas vezes, o jovem já vai sozinho para a escola. Será que ele está indo mesmo?”, exemplifica.

Quando a criança é menor, você precisa de um apoio maior da família. O esperado é que, à medida que a criança e o adolescente vão crescendo, eles consigam desenvolver maior autonomia para pensar seu projeto de vida.

A pesquisadora também destaca a necessidade de olhar para o desenvolvimento geral dos jovens, incluindo suas formas de ocupação do tempo e grupos de amizade. “São importantes nessa fase a atenção global dos pais para o que está acontecendo na vida dos filhos e o acompanhamento próximo, por meio do diálogo e da orientação”, diz.

No momento em que o jovem passa pela elaboração do seu projeto de vida, o envolvimento da família também é fundamental. “O ensino médio costuma ser uma fase difícil, em que surgem questionamentos sobre a sua existência e rumos a serem tomados na vida”, reflete a professora e pesquisadora Ivany Pinto Nascimento, da Universidade Federal do Pará. Ela menciona que antes existiam ciclos de vida muito bem definidos, do nascimento até o momento de chegada ao mercado de trabalho. “Com mudanças de valores, esse jovem tem uma dificuldade muito grande de escolher o que ele quer”, relaciona, ao citar que existem inúmeras possibilidades.

Mas como a família pode auxiliar esse estudante sem interferir nas suas escolhas? Para Ivany, a resposta está no diálogo. “Ela pode conversar com o jovem sobre qual é a sua perspectiva e o que ele pensa para o futuro. Também pode proporcionar filmes e livros para perceberem o que está acontecendo ao seu redor”, conta. No entanto, a professora também faz uma ressalva e diz que “ajudar o jovem não é determinar o que ele vai fazer, porque isso impede o estabelecimento de um diálogo”.

Ajudar o jovem não é determinar o que ele vai fazer, porque isso impede o estabelecimento de um diálogo

“Os pais acham que o projeto de vida é deles. Eles querem elaborar um plano de acordo com as suas expectativas e frustrações”, aponta. Em outros casos, o repertório familiar também dificulta a apresentação de novos horizontes aos estudantes, restringindo possibilidades aos percursos mais comuns no meio em que os pais vivem. Isso implica nas informações sobre continuidade dos estudos, o que é a universidade e o conhecimento de diferentes profissões. Nessa perspectiva, Ivany defende que seria importante a escola promover encontros com as famílias e os estudantes para tratar da elaboração de um projeto de vida. “A família não nasce já educada, ela também precisa de uma orientação. Seria excelente se a escola pudesse trazer essa família para conversar sobre isso”, sugere. Ela destaca que esse apoio também deveria ocorrer em outras etapas.

Na rede estadual do Ceará, com o redesenho do ensino médio que aconteceu em 2012, os estudantes passaram a contar com apoio na elaboração do seu projeto de vida. Durante a etapa, no Núcleo Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais, o tema é trabalhado a partir das perspectivas Escola e Família, Comunidade e, por fim, Trabalho e Sociedade. O primeiro ano, especificamente, incentiva os jovens a conhecerem a origem da sua família, o local onde nasceram e como o ambiente influencia suas características pessoais. Isso é usado para que eles comecem a pensar no seu projeto de vida a partir do resgate de suas origens e de sua conexão com a família.

O professor de geografia Lucas Holanda também encontrou outra maneira de trabalhar essa questão. Na Escola Estadual de Educação Profissional Comendador Miguel Gurgel, em Fortaleza, ele atua como diretor de turmas do 1º ao 3º. Entre outras responsabilidades, ele assumiu o papel de cuidar do relacionamento da escola com as famílias. “A partir desse projeto de acompanhamento mais profundo, eu percebi que muitos familiares não tinham orientações para lidar com as demandas dos filhos”, lembra.

Ao perceber isso, ele começou a fazer um encontro bimestral na escola voltado à orientação dos pais ou responsáveis. A ideia é discutir assuntos relacionados ao momento em que os jovens estão passando, entre eles suas escolhas para o futuro e caminhos profissionais. “Será que o projeto de vida que os pais imaginam é o mesmo que o aluno tem para si?”, questiona o professor, ao mencionar que nos encontros eles são estimulados a conhecer melhor as necessidades dos filhos.

O programa Jovens Urbanos, criado em 2004 pela Fundação Itaú Social, com coordenação técnica do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), também busca ampliar o repertório de jovens das periferias de grandes metrópoles que estão nessa etapa. Por meio de parcerias com ONGs ou escolas, a iniciativa trabalha na perspectiva da educação integral para estimular e apoiar a elaboração do projeto de vida desses jovens.

No ensino médio, a própria família percebe uma autonomia maior dos jovens e acaba se afastando da vida escolar. Os jovens também acabam exigindo que as famílias tenham menor participação na sua vida acadêmica

Durante o desenvolvimento do programa, Wagner Santos, que coordena a inciativa, diz que foram pensadas estratégias de como envolver a família no processo. Inicialmente, a ideia de colocar os pais ou responsáveis em uma posição de acompanhamento de todas as ações do programa enfrentava resistência das duas pontas, tanto das famílias quanto dos próprios jovens, que se sentiam constrangidos ou acuados com essa presença constante.

Assim, o caminho encontrado para envolver os familiares, e ao mesmo tempo considerar a autonomia já desenvolvida pelos jovens nessa etapa, foi organizar encontros públicos para apresentar a produção desenvolvida pelos estudantes durante o programa, que contempla explorações dos territórios, experimentações tecnológicas e projetos de intervenção na comunidade.

“No ensino médio, a própria família percebe uma autonomia maior dos jovens e se afasta da vida escolar. Os jovens também acabam exigindo que as famílias tenham menor participação na sua vida acadêmica. Eles entendem que têm autonomia e protagonismo para discutir as coisas”, diz.

Em alguns casos, Wagner menciona que as famílias costumam ter um pouco de dificuldade para entender a relevância do programa no desenvolvimento dos jovens, já que ele não está configurado como um ensino profissionalizante, mas um processo de descobertas. “Os familiares associam que o jovem deve trabalhar, até por uma condição das nossas periferias. Mas o momento também é de ganhar repertório e construir novas referências. Quando eles [os participantes] entram no último estágio, que é a produção de projetos coletivos, as famílias percebem como o programa possibilitou a construção de novas referências, que vão inclusive ajudar o jovem no mercado de trabalho”, conta.

Para explicar aos familiares sobre a proposta do programa Jovens Urbanos e contar com o envolvimento deles, no Rio de Janeiro o CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável) desenvolveu uma experiência chamada Café com os Responsáveis, que acontece mensalmente ou bimestralmente em organizações e escolas dos bairros de Deodoro, Realengo e Vila Kennedy. Tudo começa com um convite para os pais ou responsáveis conhecerem o programa e experimentarem algumas atividades que os jovens fazem. “Sempre tem um lanche muito bom para acolher as famílias. Isso tudo cria um caráter divertido e um ambiente gostoso”, cita Sergio Pereira, gerente da área de Juventude e Esporte do CIEDS.

Desde o primeiro encontro, a dimensão e a importância do projeto de vida também se torna um assunto para ser trabalhado com os responsáveis. “Quando encontramos jovens com perfis de profissões novas, também tentamos explicar para essa família. Desde o primeiro encontro, falamos que o jovem tem toda a vida pela frente e todas as possibilidades”, afirma.


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engajamento familiar, ensino médio, projeto de vida, série engajamento familiar

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Ana da Silva Oliveira

O envolvimento da família com a escola se transforma de acordo com o avanço e amadurecimento do estudante. No ensino médio, surgem novos desafios e questões a serem consideradas. Com maior autonomia e responsabilidade para lidar com suas atividades escolares, o jovem também passa por um momento de tomada de decisões que envolvem a elaboração de um projeto de vida.

Patrícia Cardoso

O acompanhamento da família na vida escolar do estudante é primordial. Com o passar do tempo, o mesmo desenvolve uma maior autonomia para tomada de decisões, o que não significa que a família deverá deixar de acompanhá-lo.

Yoane Santos

No cotidiano escolar,a maioria dos problemas de indisciplina,falta de interesse e dificuldades de relacionamento entre os estudantes se dá pelo fato de não terem um acompanhamento de fato de sua família,muitos estão “soltos” e tentam resolver seus problemas sozinhos sem maturidades para tal, e isso tem prejudicado o aprendizado e limitando a visão de um projeto de vida promissor, acabam reproduzindo e se conformando com a vida sem perspectivas.

Marcelino Vasconcelos

a família também carece do aconchego do filho, é recíproco

Fatima Zenor Amorim Dias

Os jovens das escolas públicas geralmente mal veem seus responsáveis. Muitas vezes são criados por parentes que não coseguem firmar um bom contato com a escola. É uma realidade avassaladora ver nossos alunos dependentes de atenção, por diversos motivos, em seus locais de moradia.

Fatima Zenor Amorim Dias

Isso tudo é uma quimera para a classe operária.

Josineide Cavalcante da Silva

É primordial o apoio familiar.

Ivaldino Arienti

A família é a base de tudo. O estudante precisa ter o
apoio Constante dos familiares para obter mais autonomia e crescimento da responsabilidade no que faz.

Rosa Worchinski

Olá
O acompanhamento da família na vida escolar dos filhos é fundamental para o sucesso dos educandos.

Marraiane

Os pais são responsáveis pelo desenvolvimento de seus filhos, por acompanhá-los na vida escolar sedo que sua participação proporciona melhoria no processo de ensino-aprendizagem contribuindo para o desenvolvimento de social, emocional e físico. 

Marraiane

Acompanhar os filhos na vida escolar possibilita maior autonomia e confiaças aos estudantes.

Oliveira

A relação entre família e escola é bastante desafiadora e tem uma interferência direta no processo de aprendizagem do aluno. Isso porque cada uma das partes tem um papel diferente na construção de conhecimento e formação da criança e, dessa forma, é preciso que elas se relacionem da melhor maneira possível, com diálogo e harmonia.

MARIANA CEZAR

O Envolvimento da família com a escola é fundamental pois na adolescência é que predomina as amizades fortes que direcionam o ser humano para o futuro

MARIANA CEZAR

A família é a base de tudo por isso a relação entre a escola e responsáveis deve criar laços. O mundo de hoje oferece muitas oportunidades e caminhos, portanto cabe a família orientar e direcionar os adolescentes para o melhor caminho.

vanderleia

A participação da família na vida escolar do estudante é primordial. O estudante consegue ir mais além. A família é o alicerce para um começo, meio e fim.

Rivania

A parceria da família na escola, é um dos principais elementos para o sucesso da educação,portanto os pais,responsáveis e escola devem estarem em constante sintonia, tendo como objetivo principal o aprendizado das crianças e dos adolescentes.

ALDO MAURAPY PAUAKA

Importante envolvimento da família com a escola transforma mas avanço de alunos ,considerando novos desafios por tanto envolvem a elaboração de projeto de vida

Paulo Henrique

O envolvimento da família e a consideração dos desafios do amadurecimento dos estudantes são cruciais para o sucesso educacional e o desenvolvimento integral dos alunos. 
Integrar o envolvimento familiar e as questões do amadurecimento dos estudantes na prática escolar ajuda a criar um ambiente mais acolhedor e eficiente, promovendo um desenvolvimento mais equilibrado e bem-sucedido para os alunos.

aluiziopadilha

em qualquer etapa da vida do aluno a família sempre se faz necessária

HAROLDO GUERRA

Família e escola devem manter uma constante parceria, pois sendo fundamental para a criança e ou o jovem, ela acaba favorecendo a formação de um indivíduo consciente do seu papel na comunidade e no país num sentido mais amplo.

EDINALVA OLIVEIRA DO NASCIMENTO

O acompanhamento da família na escola é imprescendível na vida escolar do estudante, para que ele possa ter um melhor desempenho na vida estudantil.

ALINE ALVES RAMM

Muito bom o discurso, inovador e apresentável

kleber silva

Família parceira é tudo.

Waldinei do Carmo de Souza

A família é de fundamental importância para o projeto de vida

Waldinei do Carmo de Souza

A autonomia do jovem na construção de seu projeto de vida é fundamental prá sua auto afirmação na sociedade

Waldinei do Carmo de Souza

A ideia do café ☕️ com os responsáveis é excelente pra socializar as demandas da escola e de seus entorno

Waldinei do Carmo de Souza

A empatia entre os jovens é de fundamental reflexão

Waldinei do Carmo de Souza

A participação da família no projeto de vida dos alunos é de fundamental importância

Maria Eunice gomes da silva

é muito proveitoso a participação da Família na vida escolar assim o auno vai se sentir mais confiante e apoio pra segui em frete

Janice de Fátima Preuss da Cruz

O apoio da família é um pilar fundamental na jornada de um jovem que busca construir e seguir seu projeto de vida durante o ensino médio. Quando pais, responsáveis e irmãos se envolvem de forma positiva, o estudante se sente mais seguro e motivado para explorar seus interesses e enfrentar os desafios do percurso escolar.

Eliziane Merlugo

É muito importante termos a participação da família na escola, colaborando com o educando e com a entidade, isto torna o aluno mais seguro e confiante em suas escolhas.

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