Escola pública do Rio tem telhado verde e práticas sustentáveis
Diretor do primeiro colégio sustentável da América Latina falará no Transformar 2017 como a instituição estimula o desenvolvimento de cidadania e consciência ambiental
por Marina Lopes 30 de março de 2017
Com medidas para melhorar o aproveitamento dos recursos naturais e aumentar a sua eficiência energética, o Colégio Estadual Erich Walter Heine foi o primeiro da América Latina a ser reconhecido pelo Green Building Council como sustentável. Localizado no bairro de Santa Cruz, na zona Oeste do Rio de Janeiro, o colégio também traz a sustentabilidade para o centro das suas práticas pedagógicas.
Inaugurado em 2011, por meio de uma parceria entre a siderúrgica ThyssenKrupp CSA, o governo estadual e a prefeitura do Rio de Janeiro, o colégio chama atenção pela sua estrutura. O telhado verde e a construção em formato de catavento facilitam a circulação do ar e diminuem a absorção de calor no ambiente. Dentro de uma ampla área verde, as instalações seguem padrões de acessibilidade, fazem o reaproveitamento de água da chuva, utilizam lâmpadas LED e possuem placas fotovoltaicas, que também ajudam a garantir a sustentabilidade do projeto.
Com um investimento inicial de R$16 milhões, a construção sustentável foi capaz de reduzir até 40% no consumo de energia da escola e poupar quase R$ 5 mil mensais em despesas de água e luz. E, se por um lado as estratégias garantiram melhor aproveitamento dos recursos, por outro, a estrutura física também deu origem a diferentes práticas pedagógicas voltadas ao desenvolvimento da cidadania e consciência ambiental.
“Assumimos o desafio de fazer acontecer um ensino médio integral, voltado para administração, dentro de um prédio sustentável”, conta o diretor Valnei Alexandre, que fará uma palestra no Transformar 2017, evento sobre inovações educacionais organizado por Porvir/Inspirare, Fundação Lemann e Instituto Península, que ocorrerá no dia 4 de abril, em São Paulo. Ele participará do painel “Escolas sustentáveis que educam para a sustentabilidade” com Nicola Unite, da Green School (Indonésia).
Durante o período em que os alunos passam na escola carioca, das 7 às 17h, as disciplinas do currículo básico e aulas técnicas dividem espaço com atividades de reciclagem, cuidados com a horta e manutenção do telhado verde. “Também quebramos um pouco o estigma de que apenas os professores de uma determinada área do conhecimento, como a biologia, poderiam atuar nesses projetos”, garante o gestor.
Presentes de maneira transversal no dia a dia escolar, as práticas sustentáveis também servem como base para integrar disciplinas. “No telhado verde, enquanto o professor de educação física ajuda os alunos no trato das plantas, o professor de química trabalha com a questão das pragas. Em física e matemática, a turma estuda medidas e estratégias para replicação do material. Uma mesma atividade acaba sendo usada em diversas áreas”, exemplifica o diretor.
Além das práticas que já são recorrentes no colégio, como a manutenção do telhado e os cuidados com a horta, durante o ano sempre surgem novos projetos sustentáveis. Para os alunos colocarem a mão na massa, no final do ano passado, as professoras Michélle Santoro, de artes, e Elaine Loureiro, de biologia, incentivaram as turmas do terceiro ano a recolherem pneus usados para produzir e espalhar poltronas pela escola. “Aproveitamos que temos muitas borracharias na avenida Brasil, que fica aqui perto do colégio. Foi bem tranquilo para os alunos conseguirem os pneus”, conta Michélle.
A professora de artes também destaca que a vizinhança está envolvida nos projetos escolares e marca presença nas atividades do C.E. Erich Walter Heine. “Hoje a comunidade entende a escola como um ponto de encontro. Temos atividades aos fins de semana, e as famílias que moram no entorno também trazem para a escola o óleo de cozinha que usam em casa”, diz.
Diante de uma série de projetos que estimulam a consciência ambiental, a educadora ainda faz questão de reafirmar que o colégio vai além do verde para trabalhar o conceito de sustentabilidade. “A questão é muito maior. Temos projetos que auxiliam na educação ambiental, mas o aluno também precisa entender qual é o lugar dele no mundo. Prezamos muito pela sustentabilidade nas relações interpessoais”, pontua Michélle.
Ela avalia que levar a sustentabilidade para o patamar das relações traz resultados visíveis no comportamento dos jovens. “Como trabalhamos muito as relações interpessoais e incentivamos os alunos a serem cidadãos conscientes, somos uma escola que não tem lixo no chão. Isso parece pouco, mas já estamos formando alguém com noção do seu papel no mundo”, observa. E o diretor, Valnei Alexandre, ainda completa: “Deixamos claro para os nossos alunos que as ações sustentáveis também estão no respeito, em manter os ambientes limpos e conviver bem com os colegas.”