“Acreditei, desacreditei e voltei a acreditar na escola pública”
Conheça a história do projeto Embaixadores de Minas, em que ex-alunos voltam à escola pública para levar jornada de empreendedorismo para quem está no ensino fundamental
por Vinícius de Oliveira 9 de junho de 2017
“Cara, as coisas só vão mudar quando os alunos assumirem o papel de transformar suas escolas”. Com a experiência de quem conheceu os dois lados da história, viu o que é o mundo do ensino privado e as dificuldades de escola pública, Guilhermina Abreu, 23, hoje abre portas para quem quer mudar a realidade de suas escolas. Ao lado dos amigos Guilherme Menezes, 23, Brenda Maia, 23, e Polyane Costa, 26, ela criou o projeto Embaixadores de Minas, que leva o empreendedorismo para dentro da escola pública e muda o sistema por dentro, aproveitando a grande insatisfação com as aulas e a qualidade de ensino.
Na conversa com o Porvir, Guilhermina conta que sua vida escolar foi marcada por sentimentos contraditórios a respeito da educação pública. “Eu conto muito que acreditei, desacreditei e voltei a acreditar”. Acreditava por conta da história de seus pais, que têm deficiência auditiva, mas sempre tiveram acesso a boas escolas. A frustração veio quando teve a bolsa de estudos cancelada enquanto cursava o terceiro ano do ensino fundamental e teve que mudar para a escola pública junto com os irmãos.
“Apesar de vir de uma condição social de muita luta, percebi o quanto a situação era destoante. Era como se a desigualdade tivesse sido esfregada na minha cara, porque havia conteúdos que eu já tinha aprendido três anos antes na particular e, na pública, a galera ainda não. Eu tinha 9 anos, mas era impossível eu não notar a diferença na qualidade do ensino”, recorda.
A recuperação da esperança e a vontade de mudar veio quando, no terceiro ano do ensino médio, a jovem conheceu o Núcleo de Empreendedorismo Juvenil do Sebrae, uma iniciativa da Escola de Formação Gerencial do Sebrae, que integra o projeto Plug Minas, do Governo de Minas. Na instituição, alunos de escolas públicas têm a oportunidade de obter formação técnica em administração. “Você trabalha a criação de plano de negócios, gestão de pessoas e tudo o que você precisa para desenvolver um negócio, só que tudo é ensinado muito na prática, a partir de projetos. Eu tinha uma empresa que vendia produtos sustentáveis e vários outros projetos que aconteceram ao longo do ano”, conta.
Além de entender que era possível aprender de uma maneira diferente e inovadora, o curso permitiu que os jovens se conhecessem e conseguissem tirar do papel, em 2013, o “Embaixadores na Escola”, o primeiro grande projeto social de impacto do grupo. “Beleza, a gente se formou, teve uma experiência superlegal, mas nossos colegas continuavam estudando naquela escola que a gente não gostava. Então, começamos a nos perguntar como poderíamos multiplicar o que aprendemos na escola do Sebrae para outros alunos de escolas públicas. Como poderíamos retribuir para a sociedade a oportunidade que a gente teve? Era uma coisa que nunca haviam nos cobrado e surgiu naturalmente”, afirma.
Sem recursos financeiros, o grupo chegou à conclusão que não conseguiria levar a técnica, mas a ênfase no protagonismo por meio de práticas e jogos era uma parte que só dependeria de seu entusiasmo. “A gente viu que não adianta governo, projeto de lei… as coisas não vão mudar por cima, pelo topo da pirâmide, porque é muito difícil mesmo. A primeira coisa que descartamos foi fazer qualquer coisa parecida com palestra ou aula, porque odiávamos ficar sentado ouvindo. Foi aí que começamos a discutir a escola que a gente sonhava. Primeira regra: tem que ser divertida e tem que ter jogo”.
No projeto voltado para alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental da rede pública, o próprio aluno identifica os principais desafios e problemas da escola e cria soluções para resolvê-los. As atividades são divididas em quatro módulos: inspiração, diálogo, mão na massa e reflexão, e têm duração de dois meses, sendo realizadas aos sábados. No início, as queixas recaem sempre sobre os professores e a diretoria da escola, mas quando precisam se colocar no papel desses profissionais, a opinião muda. “Na parte dos desenhos do projeto, ao passarem pelas fases de sensibilização, empatia e jogos, eles sempre vão para o bullying, porque começam a puxar para suas atitudes e o que eles estão fazendo de errado na escola. Na última escola, eles falaram muito das aulas, mas conseguiram criar um projeto para junto com os professores melhorá-las”, explica.
O projeto Embaixadores na Escola foi aplicado em oito escolas mineiras, impactando mais de mil crianças e adolescentes. O sucesso foi tanto que, em 2016, o grupo precisou crescer e passou a adotar o nome de Embaixadores de Minas, contando com 11 multiplicadores para alcançar novas turmas pelo estado.
***
Este conteúdo faz parte da série Protagonismo Jovem, que relata, mensalmente, histórias de jovens brasileiros que desenvolvem projetos de impacto social para transformar a educação.