Professor transforma a cidade em sala de aula para ensinar geografia
Com visitas a museus, prédios históricos e outros espaços públicos, educador mostra como é possível ultrapassar os muros da escola para aprender
por Paulo Roberto Magalhães 26 de julho de 2017
Sou professor de geografia e, com o passar do tempo, observei que as aulas dentro da sala já não estavam funcionando muito. Depois de algumas experiências, percebi que os alunos dos 6º e 7º anos conseguiam entender melhor o conteúdo quando eles saiam da escola para interagir com o espaço público. Foi aí que eu comecei a desenvolver projetos para ocupar territórios educativos da cidade de São Paulo.
A proposta de transformar a educação a partir dos muros da escola começou em 2010, quando a Escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias, localizada no Glicério, região central de São Paulo(SP), participou do projeto “Ação Educativa – Exposição A cidade esconde o rio: a história da várzea do Tamanduateí”. Realizado em parceria com a Fundação Energia e Saneamento e a Diretoria Regional de Educação Ipiranga, da Prefeitura Municipal, ele estimulou que começássemos a vasculhar o território timidamente.
Na época, a comunidade não olhava com bons olhos os nossos alunos fotografando o bairro ou tentando entrevistar moradores. Eu saia com eles nas ruas, e as pessoas não tinham muita aceitação. Alguns achavam que os alunos deveriam ficar dentro da sala de aula.
Apesar de tudo, não desistimos de explorar o espaço público. Nos anos seguintes, fui intensificando a saída da escola nas proximidades dos bairros. Até que tomamos conta e invadimos a ruas com caminhadas, cortejos, pesquisas de campo e atividades a pé até a Câmara Municipal, Mercado Municipal, Catavento, Banco do Brasil Cultural, Caixa Cultural, Museu da Imigração Japonesa, Sala São Paulo, entre outros espaços interativos. Quando eu vi, já estava nas ruas dando aulas públicas.
Semanalmente ou a cada 10 dias, eu saio com os meus alunos pela cidade. Sempre preparo uma aula ligada ao conteúdo programático, como foi o caso da nossa visita ao FabLab Livre SP, localizado na Galeria Olido. Eu percebi que os alunos tinham dificuldade para trabalhar cartografia e levei a turma para construir mapas de papel compensado e jogos de quebra-cabeça no laboratório de fabricação digital.
Outro dia levei os alunos para ver uma exposição do pintor Cícero Dias. Como estávamos estudando o livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, fomos conhecer o trabalho do artista que ilustrou a capa da primeira edição da obra.
Antes de sair da escola com os alunos, eu sempre visito o local com antecedência, pego autorização dos pais e converso com a turma. É tudo muito organizado, sempre procuro seguir um cronograma. Eu até fiz um material com sete passos para planejar uma aula pública no território educativo.
Diferente das nossas primeiras experiências, hoje quando saio com os alunos, todo mundo já me conhece. Tenho uma página no Facebook onde sempre procuro compartilhar o que estamos fazendo.
As saídas ajudaram muito a melhorar a disciplina dos alunos. O interesse deles pela disciplina também aumentou. As pessoas ficam encantadas quando eu levo eles para exposições, eles sabem questionar e são muito participativos. Esse trabalho é muito significativo.
Paulo Roberto Magalhães
Professor de geografia na rede pública e privada desde 1991. Formado em geografia pela Universidade Católica de Santos, em ciências sociais pela Unesp e bacharel em ciências políticas pela Unesp. Mestre em arquitetura e urbanismo pela FAU – PUCAMP . Tem pós-graduação lato-sensu em globalização e economia na Universidade Estadual Paulista, curso de pedagogia e habilitação em administração e supervisão escolar.