São Paulo cria plataforma e robô no Facebook para cardápio escolar
Iniciativa de governo aberto desenvolvida com apoio da sociedade mostra o que é servido nas refeições de 3.220 escolas da rede municipal
por Vinícius de Oliveira 11 de janeiro de 2018
A tarefa de encontrar o cardápio das 3.220 escolas da rede municipal de São Paulo (SP), que até o final de 2017 demandava habilidade em jogo de caça-palavra para lidar com o Diário Oficial, agora pode ser feita diretamente em uma plataforma digital disponível para computadores, celulares e tablets. Chamada “Prato Aberto”, ela permite às famílias com filhos matriculados na rede conhecerem o que será servido diariamente nas escolas e também à sociedade exercer controle sobre os contratos firmados pelo poder público.
Na plataforma, é possível encontrar as informações por dia e por escola, que podem ser encontradas tanto por meio da digitação do nome no campo de busca ou pela permissão de geolocalização do usuário. “Hoje a prefeitura gasta R$ 700 milhões por ano em alimentação escolar nas mais diversas modalidades e é importante que exista fiscalização de contratos”, disse o secretário de educação, Alexandre Schneider, que destaca ainda que alunos vão poder fotografar as refeições por meio do aplicativo para celular e opinar sobre a qualidade da alimentação. Segundo dados da prefeitura, são servidas diariamente 2,2 milhões de refeições para 995 mil alunos da rede.
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Um outro recurso, disponível nos aplicativos de comunicação Facebook Messenger e Telegram, é o Robô Edu, que envia mensagens direto para o usuário em uma conversa, como qualquer um amigo da lista de contatos. Basta enviar um “oi” e o papo é conduzido até que o cardápio do dia aparece na tela.
“Os pais vão poder falar inicialmente [com o Robô Edu], fazer perguntas fechadas e opinar sobre a qualidade da merenda escolar. Futuramente, vamos fazer o Robô Edu trabalhar um pouco mais, ultrapassando as fronteiras da alimentação escolar e alcançando gradativamente todos os serviços da educação”, disse o secretário.
Pelo lado da gestão, Schneider lembra que a digitalização tende a facilitar os processos internos e melhorar o controle da informação. “A gente tinha uma gestão feita muito à mão, com planilhas de Excel e documentos de Word. O trabalho dos desenvolvedores já nos ajudou a tornar as rotinas internas mais automatizadas e seguras”.
Construção do aplicativo
O desenvolvimento do Prato Aberto é resultado do primeiro ciclo de inovação digital do Pátio Digital, um programa da Secretaria Municipal de Educação baseado na transparência via dados abertos, uma colaboração governo-sociedade e inovação tecnológica. Realizado em parceria com a Unesco (agência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), ele premiou com um contrato remunerado os amigos Guilherme Cordeiro, Maurício Longato, Vitor Makiyama e Lucas Santos, que foram selecionados entre dez equipes participantes. Entre junho e novembro, dedicaram tempo livre e finais de semana para fazer com que a equipe da Coordenadoria de Alimentação Escolar deixasse de lado a publicação de planilhas de Excel e documentos de Word que gerava um enorme trabalho manual.
“A gente descobriu, no dia a dia da competição, que os alunos queriam falar se estavam gostando ou não, mas tinham receio de ser identificados e punidos. Hoje eles têm um canal direto com a secretaria”, disse Maurício Longato, que trabalha como gerente de projetos.
A oportunidade de colaborar com a Secretaria Municipal de Educação também trouxe uma outra visão sobre o poder público, segundo conta Vitor Mokiyama, analista de sistemas. “As pessoas são extremamente capazes para trabalhar nas áreas em que estão inseridas. Às vezes, a burocracia é um engasgo e a partir dessa inovação a gente pode melhorar o acesso da população à informação e, por tabela, a operação do poder público”, disse.
Para Eduardo Spanó, analista de políticas públicas e gestão governamental da secretaria, o lançamento do Prato Aberto com a participação direta de interessados da sociedade civil representa uma mudança de postura do poder público. “Dentro da área de tecnologia, o modo padrão que um governo trabalha é muito fechado. São poucos poucos contratos, sempre grandes empresas e problemas internos são resolvidos com empresas terceirizadas”.
“Com o Prato Aberto, estamos tentando criar uma abertura para a construção de soluções. A gente não pode deixar de ter grandes empresas para nossa operação do dia a dia, mas vamos tentar oxigenar essa rotina dando oportunidade para equipes novas e abrindo a área de TI (Tecnologia da Informação)”, conclui. A partir da entrega do Prato Aberto pelo grupo de amigos, a evolução do projeto ficará por conta da equipe de tecnologia da secretaria.
De acordo com o secretário Alexandre Schneider, os códigos que fazem o Prato Aberto funcionar estão disponíveis gratuitamente para qualquer estado e município. “Dinheiro público não precisa ser gasto duas vezes. Se a gente gastou para desenvolver, qualquer outro município ou estado tem o direito de usar essa tecnologia”.
Para os próximos meses, um novo aplicativo, desta vez para o transporte escolar, deve ser lançado seguindo o mesmo processo de desenvolvimento. Entre outros aprendizados, Fernanda Campagnucci, analista de políticas públicas da secretaria, diz que lançar produtos tecnológicos fragmentados prejudica a adesão. “Uma coisa que a gente já entendeu é que não adianta criar soluções isoladas. A intenção é turbinar Robô Edu para avisar quando o aluno sai ou chega à escola”. Outro ponto diz respeito ao esforço para engajamento das equipes internas e do público externo, que segundo ela, precisa ser maior, e não se restringir à fase de testes (um grupo de alunas ofereceu avaliações durante a evolução do Prato Aberto). Por isso, no processo de criação do aplicativo de transportes, já participam condutores dos veículos, familiares e diretores de escola.