A disrupção chegou aos programas de pós-graduação? A resposta não é tão simples - PORVIR
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Inovações em Educação

A disrupção chegou aos programas de pós-graduação? A resposta não é tão simples

O que instituições de ensino superior podem fazer para se adaptar às mudanças e evitar repetir a experiência da Blockbuster quando a Netflix dava apenas os primeiros passos

por Alana Dunagan, do Clayton Christensen Institute ilustração relógio 1 de julho de 2019

Inscrições em cursos de MBA estão em baixa. Faculdades de direito estão enfrentando dificuldades? Será que as instituições de pós-graduação estão passando por uma disrupção?

Sim e não. É importante lembrar que o ensino superior, e especialmente os programas de pós-graduação, são trilhas individuais para entrada em setores específicos do mercado de trabalho. Nós não estamos propensos a ter um grande fenômeno que abale o modelo de pós-graduação. Cada área enfrenta um conjunto específico de pressões.

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Explorar essas forças que moldam o mercado de diplomas de pós-graduação revela um quadro complexo: alguns programas estão enfrentando disrupção. Outros, cursos de medicina, estão vendo a disrupção dos métodos tradicionais de ensino – semelhante ao que estamos testemunhando nas escolas de educação básica –, mas os programas em si (como as faculdades de medicina) não estão sendo atingidos. Muitos estão enfrentando declínios nas matrículas porque uma economia forte – como a situação atual dos Estados Unidos – tende a manter os trabalhadores no mercado de trabalho e fora das salas de aula. Outros, como a faculdades de direito, estão tendo que se adaptar às mudanças indiretamente, porque são as indústrias onde os estudantes vão trabalhar que estão sendo afetadas.

Você não está sofrendo disrupção, mas está em queda
Nem tudo o que passa por um declínio é alvo de disrupção: forças cíclicas estão reduzindo as matrículas no ensino superior. Aumentos grandes de população são seguidos por baixos índices de natalidade, e embora os ciclos demográficos exerçam pressão sobre as instituições – e provavelmente levarão muitas a fecharem as portas –, um mercado cada vez menor de jovens de 18 a 24 anos não representa disrupção.

Um fator cíclico adicional, que afeta particularmente os programas de pós-graduação, é a economia. Quando os empregos são abundantes, o custo de oportunidade de voltar à escola é significativo. Quando o mercado de trabalho se contrai, os trabalhadores buscam o ensino superior para ajudá-los a se manter na superfície. Na situação atual nos Estados Unidos, as matrículas não tradicionais diminuíram quase um milhão de alunos em quatro anos.

Um terceiro fator, que afeta todo o ensino superior, mas tem efeitos deletérios em certos programas de pós-graduação, é o declínio dos estudantes estrangeiros. Os estudantes internacionais não apenas ocupam vagas, mas também pagam maiores mensalidades do que seus pares locais. As instituições geralmente buscam estudantes internacionais em uma tentativa de aumentar as receitas. Um declínio nos estudantes internacionais é particularmente impactante para os programas de MBA, que há muito tempo atraem uma parte considerável de seus estudantes de fora dos EUA.

O modelo de negócio do ensino superior, incluindo programas de pós-graduação, é relativamente custo fixo. Isso é particularmente verdadeiro para programas presenciais com estruturas caras e para programas que dependem muito de professores em tempo integral. Esse modelo de negócios de custo fixo significa que é difícil para as instituições reduzir os gastos para se adaptar a um número menor de alunos. O declínio de matrículas é difícil para as planilhas das instituições – mas, pelo menos no momento, elas não estão sendo impulsionadas pela disrupção.

Você não está sofrendo disrupção, mas seu mercado sim
Você já leu sobre alguma startup que está mexendo com as estruturas das faculdades de direito?

Nem nós.

E, no entanto, as faculdades de direito estão tendo uma enorme redução nas matrículas, os estudantes de direito estão lutando para conseguir emprego e os salários para advogados estão diminuindo. As faculdades de direito não passa por disrupção, mas o mercado de trabalho para advogados está, e de três maneiras principais. Primeiramente, empresas inovadoras como a LegalZoom estão atacando diretamente a necessidade de soluções caras e personalizadas e trazendo ofertas mais padronizadas e, em alguns casos, comoditizadas para o mercado. Em segundo lugar, as inovações tecnológicas estão permitindo que profissionais que atuam dentro de escritórios de advocacia tradicionais aumentem sua produtividade, tornando possível realizar a mesma quantidade de trabalho com menos advogados. E, finalmente, os mesmos desenvolvimentos tecnológicos também estão derrubando a lógica tradicional que concede aos advogados o monopólio da prática da lei. Se uma pessoa que não é advogada pode fornecer com a ajuda de um software o mesmo serviço que um profissional, então não é o público, mas os advogados que estão sendo protegidos pelo monopólio na prestação de assessoria jurídica.

Como Michael B. Horn e Michelle R. Pistone escreveram em 2016, “Em uma extensão sem precedentes, os avanços na tecnologia junto com as inovações do modelo de negócios estão alterando a rede tradicional de valores dos serviços jurídicos.” Escolas de Direito não estão sofrendo disrupção, mas disrupções no mercado de trabalho jurídico estão mudando a formação – a rede de valor para a faculdade de direito. Existe uma menor demanda por educação jurídica, e a demanda que permanece é cada vez mais especializada e focada em caminhos específicos para o mercado de serviços jurídicos. Como resultado, as faculdades de direito registraram grandes quedas na quantidade e qualidade de seus candidatos, e estão tendo que ajustar significativamente seus modelos de negócios.

As faculdades de direito estão se adaptando de várias maneiras. Algumas estão fechando suas portas. Outras estão expandindo seus mercados desenvolvendo programas online, programas de meio período ou, de forma mais inovadora, criando programas para pessoas que precisam de educação legal, mas não pretendem atuar como advogados. Esses programas são direcionados a profissionais que precisam de educação em domínios legais específicos – como recursos humanos ou segurança cibernética –, mas que veem no diploma de direito algo acima de suas necessidades.

Você pode enfrentar uma disrupção, e mais cedo do que pensa
A disrupção inovadora, que torna os produtos mais simples, mais baratos e mais acessíveis, tem um histórico de dizimar setores e derrubar titãs. Isso ocorre porque os atores existentes muitas vezes não veem quem promove disrupção como uma ameaça até que seja tarde demais. Por que isso acontece? Porque a disrupção se enraíza no segmento inferior do mercado, capturando os clientes que não podem pagar ou não têm aderência a produtos e serviços existentes – e clientes que as ofertas tradicionais geralmente ignoram. A partir daí, esses novos atores empregam facilitadores tecnológicos e um modelo de negócios inovador para avançar aos níveis superiores do mercado, atendendo clientes tradicionais a um custo menor do que os provedores existentes. Mas durante um tempo, os aqueles que promovem a disrupção estão crescendo enquanto ocupantes não sentem nenhuma dor.

Isso era verdade para o Blockbuster. A Netflix, que finalmente levou a Blockbuster à falência em 2010, começou em 1997 – depois que o fundador Reid Hastings teve que pagar US$ 40 para alugar a Apollo 13 na Blockbuster. Em 2000, a Blockbuster recusou uma série de ofertas para comprar a Netflix por US$ 50 milhões. A Netflix não divulgou seus primeiros lucros até 2003. A Netflix cresceu e refinou sua oferta por anos – e os lucros da Blockbuster também cresceram, chegando ao pico em 2004.

Atores que adotam a estratégia da Netflix estão à espreita na periferia do mercado de pós-graduação? Um lugar que esta dinâmica pode estar desempenhando hoje é no mercado de educação em ciência da computação. Apesar da redução geral de matrículas no ensino superior, em ciência da computação elas estão crescendo de forma saudável – dobrando nos últimos dez anos. Mas, como descrevemos em um relatório divulgado recentemente, os bootcamps (programas de imersão) também vêm crescendo. Esses cursos de curta duração, que não valem diploma, são relativamente pequenos; No ano passado nos EUA, eles formaram 36 mil estudantes, uma pequena fração dos quase 20 milhões matriculados no ensino superior tradicional. No entanto, em relação ao fluxo global de oferta de talentos para habilidades digitais, eles são significativos: em 2017, apenas 47 mil alunos se formaram com mestrado em informática e ciência da informação.

Esses programas de bootcamp, que criaram suas raízes na programação, ampliaram suas ofertas para incluir uma gama mais ampla de habilidades digitais, são capazes de gerar disrupção. Eles ainda não competem frente a frente com programas de pós-graduação em ciência da computação, mas têm facilitadores tecnológicos, incentivos para se movimentar no mercado e estão crescendo rapidamente. Esses programas estão traçando um caminho novo e alternativo para a força de trabalho que poderia minar a demanda por programas de pós-graduação em ciência da computação. Por enquanto estes ainda não sentem os efeitos da disrupção.

Quando eles perceberem, talvez seja tarde demais para responder. “Nem a RedBox e nem a Netflix estão na tela do radar em termos de concorrência”, disse o presidente-executivo da Blockbuster, Jim Keyes, 21 meses antes da empresa decretar falência.

* Publicado originalmente no Clayton Christensen Institute e reproduzido mediante autorização


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ensino superior, tecnologia

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