Alunos tornam-se autores e inserem geografia em conversas do dia a dia
Com o projeto “Geo Fanfic: O Mundo escrito pelo lado de cá!”, o professor Allan da Silva incentiva os estudantes a serem protagonistas do aprendizado, transformando e aplicando a geografia diariamente
por Allan da Silva 1 de junho de 2016
A prática de ensino e aprendizagem em que o conhecimento é transmitido para o educando faz com que ele tenha a tarefa de absorver as informações sem questionar, reduzindo-o à mero espectador, tornando-o um objeto nesse processo. Isso sempre me fez questionar as minhas ações como educador e colaborador de possíveis mudanças para a educação do nosso país.
Assim, surgiu a inquietante necessidade de dar vez e voz aos alunos do ensino médio. Era preciso inovar. E foi a partir da participação e do diálogo dos estudantes em sala de aula que surgiu o projeto “Geo Fanfic: O Mundo escrito pelo lado de cá!”.
A ideia era pensar a educação de forma inclusiva e muito mais participativa. Era construir conhecimento a partir do aluno e não pegar o que já veio pronto e estabelecido e impor a eles.
A partir daí, eles deveriam escolher temas de geografia estudados em sala de aula e iniciar um conversa em grupo nas redes sociais sobre aquele tema. Eles montaram grupos no WhatsApp ou Facebook e começaram a criar uma história. A rede social é a realidade deles, é o que os atrai. Uma vez que estão conectados, eles buscam outros sites para pesquisar sobre o assunto que escolheram, para dar mais riqueza àquilo que foi estudado em sala de aula.
Eu sempre expliquei pros alunos que o conceito geográfico deveria ser diluído dentro do texto. Eu não queria que a conversa esclareça o conceito ou que fosse algo automático, tipo ‘globalização é isso, isso, isso’. Eu queria que esses conceitos aparecessem diluídos. Assim, qualquer pessoa poderia ler, e com certeza ela iria entender, porque não é uma coisa maçante. Você acaba aprendendo o conceito, mesmo sem perceber que aquele é um conteúdo de geografia. A ideia era justamente essa, de transformar e trazer a disciplina pro dia a dia.
Eu percebi que os estudantes ficaram bem entusiasmados. Eles deixaram de ir para a escola apenas para aprender. Eles passaram a produzir também. Eu sempre falei pra eles “agora vocês também são autores”. A escola passou a ser o lugar de aprender, produzir e compartilhar.
Além disso, eu utilizo as histórias na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). Então os alunos também têm essa missão: além de serem produtores, eles estão proporcionando que outras pessoas tenham acesso a geografia de uma forma muito mais natural.
A ideia principal do projeto era sair do tradicional. Há mais ou menos 20 anos, eu estava no ensino fundamental, e os livros de geografia daquela época são os mesmos que eu uso hoje. Isso é algo que me entristece, porque esses livros não estimulam mais essa geração.
Depois que os textos ficavam prontos, os alunos publicam no blog do colégio. No final, o projeto acabou virando um livro com textos paradidáticos e caça-palavras de geografia.
Com as atividades, os alunos passaram a ler mais, a usar a internet para fazer mais pesquisas. Eles se sentem como autores, como pessoas que produzem conhecimento e não apenas absorvem. O aluno precisa ter essa autonomia, porque o aprendizado vai partir dele, e vai deixar de ser imposto pelo professor que leciona. Eu senti essa diferença, que as aulas de geografia viraram oficinas, meio que o lugar de trabalho deles. Eles pesquisam, tiram dúvidas e trocam conhecimento e informações.
Allan da Silva
Técnico em Informática, licenciado em Geografia e especialista em Ciências Sociais pela UFJF. Professor há 10 anos e membro da equipe responsável pela elaboração do Currículo Mínimo de Geografia da Secretaria Estadual de Educação - RJ.