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Inovações em Educação

Aprendizagem baseada em jogos: 5 maneiras criativas de ensinar inglês para crianças

Como a metodologia pode estimular o trabalho dos professores e o aprendizado das crianças por meio da ludicidade

Parceria com Wings

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 19 de março de 2024

O educador Rubem Alves (1933-2014) costumava dizer que a missão do professor é causar espantos, no sentido de encantamentos e curiosidades. Na zona rural de Domingos Mourão, município no Piauí com 4 mil habitantes, a professora Vilma Amorim parte desse princípio para apresentar o inglês às crianças da Unidade Educacional Raimundo Joaquim dos Santos. Ela se apoia na metodologia de aprendizagem baseada em jogos, que acaba de aprender em um curso de especialização.

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Filhos de agricultores, os alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental têm em suas aulas o primeiro contato com o idioma – na maioria das vezes o único. Na cidade, apenas Vilma e outros dois colegas são professores de inglês. E ela deseja que esse cenário mude em breve. A fim de deixar de lado o estranhamento que um novo idioma pode causar, Vilma recorre à criatividade proporcionada pela proposta pedagógica, que coloca o brincar no foco da aprendizagem. 

“Trabalhava com adolescentes e, em 2024, comecei a dar aulas para as turmas do fundamental 1. Sinto que eles recebem as novidades com mais amor, aprendem com mais vontade, querem brincar de falar, sem ter vergonha”, diz. “Às vezes, eu me pergunto se estamos em uma aula de inglês ou em uma aula de artes, tudo está interligado. É notório ver como se interessam mais pelo inglês enquanto se divertem”, afirma. Vilma acredita que a abordagem ajuda não só no aprendizado, como também “a despertar o gosto pelo estudo da língua inglesa”. 

Para colocar em prática sua proposta, fazendo com que os pequenos experimentem o idioma enquanto aprendem, a primeira estratégia utilizada é deixar as carteiras dispostas em um grande círculo para receber os alunos. Em seguida, uma música para saudar os colegas precede as dinâmicas guiadas que virão, diferentes a cada aula: jogo da memória, ligue os pontos, mímicas, contação de histórias e desenhos de adivinhação na lousa – tudo baseado em estratégias pedagógicas que Vilma aprendeu recentemente.

No universo infantil, é por meio do brincar que as crianças desenvolvem diferentes habilidades cognitivas, físicas e socioemocionais. “A proposta Play-Based Learning (aprendizagem baseada em jogos) promove o aprendizado colaborativo e social, com brincadeiras em grupo e atividades de dramatização, que incentivam a comunicação entre pares, a fim de estimular o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e linguísticas contextualizadas”, explica Kelly Lopez, assessora pedagógica da Wings, solução educacional para o ensino da língua inglesa nos anos iniciais do ensino fundamental e na educação infantil da rede pública.

“Incluir a brincadeira no processo de ensino e aprendizagem da língua inglesa para crianças nos transporta para o mundo delas, fazendo com que as atividades propostas sejam mais significativas e gerem engajamento, motivação e memória afetiva. Tudo isso faz com que o estudante interaja mais com os conteúdos e se aproprie destes saberes mais facilmente”, complementa.

Cinco dicas para aplicar o aprendizagem baseada em jogos no ensino de inglês*
1. Escolha brincadeiras com propósito pedagógico adequadas ao estágio de desenvolvimento de seus estudantes.

2. Prefira jogos com propósito comunicativo, incentivando os alunos a praticarem inglês de maneira natural. 

3. Estruture as instruções em inglês para a brincadeira de forma clara. Simplifique as instruções em frases mais curtas e diretas, e cheque o entendimento delas, verificando a compreensão dos alunos com perguntas específicas. Faça perguntas de checagem, as chamadas Instruction Checking Questions (ICQs). Essa é uma boa técnica para confirmar se os estudantes entenderam o que é esperado das atividades. Exemplo: em uma atividade de leitura que pede aos estudantes para sublinharem termos que não conhecem, boas perguntas nesse sentido poderiam ser: ‘O que vocês farão com as palavras que não entenderem?’ e ‘Precisam escrever o significado das palavras sublinhadas agora?’. 

4. Modele a atividade proposta de forma que os estudantes se sintam seguros para participar e praticar o inglês durante a brincadeira. Você pode deixar no quadro um modelo do roteiro da linguagem a ser utilizada.

5. Com regras de conduta claras para atividades em grupo e jogos, pode-se garantir a participação igualitária e organizar a vez de falar de cada estudante, a fim de evitar questões disciplinares.

*As recomendações são de Kelly Lopez, assessora pedagógica da Wings.

A importância do brincar

No artigo “Criança pequenininha aprende brincando: compreensões e concretizações do lúdico por professores de inglês para crianças”, as pesquisadoras Emanuelle Avelar Gomes Costa e Rita de Cássia Barbirato, da UFSCar (Universidade de São Carlos) mostram como as brincadeiras podem ser uma das formas de aproximar e ressignificar o aprendizado de inglês em escolas públicas. Elas observaram o trabalho de professores que atuam em salas de aula do 3º ano e, no artigo, além de descrever avanços e desafios dos educadores, retratam as contribuições teóricas. 

Lev Vygotsky (1896- 1934), por exemplo, dizia que “o jogo é a forma natural de trabalho da criança, a forma de atividade que lhe é inerente, a preparação para a vida futura” e, por meio da imaginação e do brincar, os pequenos se desenvolvem. “Percebemos que o lúdico está atrelado de maneira intrínseca ao processo de ensino e aprendizagem, um aliado facilitador e motivador no espaço da sala de aula, já que pode ser um estímulo para o desenvolvimento de habilidades, interação social e criatividade da criança”, escrevem.

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De acordo com André Castelo Branco, mestrando em educação e assessor pedagógico da Wings, o uso de brincadeiras, dentro da proposta aprendizagem baseada em jogos, está ancorado em um objetivo de aprendizagem a ser alcançado. 

“A prática do brincar pode ser de suas formas: de maneira livre, sem intuito pedagógico, como pular corda, esconde-esconde. Ou de forma guiada, seguindo uma proposta de ensino e didáticas específicas”, explica. “Aplicadas sob a linha metodológica do Play-Based Learning, as brincadeiras podem ajudar estudantes a se desenvolverem linguisticamente de forma eficaz e natural, desde que tais atividades estejam em consonância com a proposta de ensino em questão.”

Características da aprendizagem baseada em jogos

Quando o ensino de uma língua estrangeira é focado de acordo com a abordagem da aprendizagem baseada em jogos, deixa-se de ter um olhar direcionado apenas para as regras de construção linguística, considerando o propósito comunicativo como elemento norteador da aprendizagem de um idioma estrangeiro, aponta André. 

Alunos da professora Vilma Amorim em Domingos Mourão (PI)

“Consideramos, também, os elementos extralinguísticos, como entonação, gestos e mímicas como parte desta construção cognitiva com relação ao aprendizado da língua inglesa. Aqui, o erro é fomentado e, deve até ser celebrado, desde que ele mostre que o estudante está exercitando pelo brincar sua comunicação, sem preocupações com as regras de uso do idioma”, detalha. 

Ele exemplifica: quando se executa uma brincadeira guiada, como a “Hot Potato” (batata quente, em português), os alunos passam a “potato” uns para os outros enquanto dançam e cantam, em inglês, a música proposta. “Neste tipo de brincadeira, os estudantes são estimulados a cantarem e apresentarem, em inglês, quando a ‘potato’ pára em suas mãos. Atividades brincantes como essas fortalecem o desenvolvimento linguístico se se ancorarem em regras de uso da língua.”

Orgulhosa, Vilma diz que suas crianças não têm medo de errar. E conta como o avanço na aplicação da aprendizagem baseada em jogos vem transformando sua prática. “Eu sempre estudei em escola pública e, na minha época, o máximo que eu tinha era trabalhar com a tradução de músicas, nada envolvia a brincadeira. Hoje sinto a diferença. Se a gente não trouxer algo para o aluno que faça parte do mundo dele e desperte seu interesse, ele acaba se desestimulando”, comenta. “Precisamos entender que estamos em uma realidade bem diferente de uma criança que estuda em uma escola urbana. Levo isso em consideração. Mas minha grande meta é motivá-los, sempre”, finaliza a professora.

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educação bilíngue, educação infantil, ensino fundamental

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