Atividades de cálculo em grupo melhoram notas de estudantes
Resolução de exercícios na lousa foi a solução que Kamila Campos encontrou para que os alunos se engajassem mais e melhorassem suas notas em cálculo
por Kamila Amato de Campos 16 de novembro de 2016
Eu dou aula de cálculo na curso de Análises de Desenvolvimento de Sistemas (ADS). É um curso técnico, voltado para informática, então os alunos têm um perfil de não gostar muito de números; querem mais é saber programar. Ao longo do semestre, eu percebo que muitos têm um grande déficit de aprendizagem em matemática.
Há dois semestres, a instituição organizou duas salas de metodologias ativas, com mesas organizadas em grupos, lousas em todas as paredes e outras ferramentas. E então me colocaram para dar aula nesse espaço. Para mim, que sou professora de exatas e estou super acostumada com o sistema tradicional de ensino, foi um baque, porque fiquei pensando em como iria controlar a turma naquele lugar.
Mas então comecei a pensar que, já que os alunos estariam em grupos, ao invés de ficarem conversando, eu poderia aproveitar aquela configuração e incentivar que eles fizessem algo produtivo e propus a seguinte atividade: passo um número de exercícios na lousa correspondente a quantos grupos tem na sala e dou um tempo para eles resolverem os problemas. Todos do grupo devem fazer o exercício e saber os cálculos porque, ao final, eu sorteio um integrante de uma mesa para resolver a questão na lousa. Se ele acertar, o grupo inteiro recebe meio ponto na próxima avaliação.
Os alunos que fazem parte da área de informática, principalmente do curso de ADS, não têm muita facilidade de interagir com o outro. Eu percebia que eles tinham uma série de dificuldades para trabalhar em grupo e compartilhar conhecimento. Antes, quando eu passava exercícios na lousa, eles ficavam cada um na sua carteira ou só conversando mesmo. Nessa configuração de grupos, eles começaram a prestar mais atenção, e não esperar que eu resolvesse o problema. Agora eles sentem a necessidade de ir atrás e prestar atenção, porque ficam com aquilo na cabeça de não querer prejudicar o seu grupo.
Como matemática, eu já contabilizei os dados e pude perceber o aproveitamento deles em relação a nota e ao conhecimento adquirido. O desempenho geral nas avaliações melhorou muito. Isso acontece também porque são 36 a 40 alunos e só eu. Então, muitas vezes, terminava a aula e muitos estudantes ainda ficavam com dúvida e eu não conseguia atendê-los. Com a configuração das mesas ficou muito mais fácil: eu explico para um ou explico ali no meio e quem entendeu bem vai distribuindo essas informações para os demais. Se antes eu tinha que atender 40 alunos, hoje tenho que atender seis grupos. Isso também ajudou no andamento da aula, já que antes parava toda hora para que os alunos perguntassem.
Eu preparo as atividades para que elas tenham a maior parte do conteúdo que eu ministrei até o momento e que sei que vai cair na prova. Então quando aviso que vai ter atividade, não falta um único aluno na sala, porque eles querem mesmo essa oportunidade de aprender com a atividade. E eu como professora também gosto muito dessa metodologia porque percebo que todos ficam envolvidos. Não é aquela aula chata, “aula de cálculo, para revolver equação derivada”. A cada estudante que vai na lousa e acerta, a turma inteira comemora e bate palmas. Então, o objetivo não é só que eles consigam esse meio ponto, mas que eles possam entender o que estão fazendo.
Kamila Amato de Campos
Formada em Engenharia de Produção, com Mestrado e Doutorado pela UNESP. Há seis anos atua como professora da Fatec Guaratinguetá, em disciplinas na área de exatas e logística.