Avaliação para favorecer a aprendizagem ativa
Após perguntar 'Por que avaliar', saiba o que muda no processo avaliativo quando o estudante é entendido como o centro do processo de aprendizagem
por Heloize Charret 10 de novembro de 2020
Quando falamos de avaliação, é frequente que a discussão se limite à forma e a instrumentos como testes e provas individuais ou, mais raramente, a algumas propostas consideradas mais criativas, como projetos em grupo. Essa constatação se justifica, afinal, este tem sido o modelo hegemônico adotado pelas instituições educacionais em diferentes locais, por muitos e muitos anos. Mas será que uma proposta comprometida com a aprendizagem ativa, com o protagonismo dos estudantes, pode reduzir as discussões sobre avaliação aos elementos ligados apenas aos instrumentos?
Para complexificar a discussão sobre avaliação, talvez o caminho mais profícuo seja iniciar indagando: Por que avaliamos? Esta não é uma pergunta simples e pode ser encarada de duas formas, quando pensamos nas conexões entre a avaliação e a aprendizagem:
– Na primeira perspectiva, as experiências de aprendizagem são entendidas como formas de melhorar o desempenho dos alunos nas avaliações.
– Já na segunda, as avaliações são estruturadas para que possamos desenvolver práticas de aprendizagem mais adequadas aos estudantes, ao longo de todo o percurso.
Na segunda perspectiva, alinhada com a proposta da aprendizagem ativa, o estudante é entendido como o protagonista da sua própria aprendizagem, logo, vemos a avaliação como uma ferramenta que alimenta todas as etapas das experiências de aprendizagem. Nesse sentido, a avaliação torna-se um elemento presente em todos os momentos das experiências de aprendizagem e não apenas no fim, como instrumento estático, capaz de conferir um veredito sobre o que foi ou não alcançado.
De forma geral, pensando na avaliação nesses termos, podemos dizer, didaticamente, que existem três grandes etapas do processo avaliativo, imbricadas com as etapas da experiência de aprendizagem. São elas:
– Momento prévio: Se o aluno é o centro do processo, é importante que seus saberes prévios sobre os temas sejam considerados, para orientar o planejamento da experiência de aprendizagem. Ou seja, planejamos a partir do que os alunos trazem. Assim, a avaliação, que frequentemente é pensada apenas como o fim do processo, marca também o início de tudo, por meio de sua perspectiva diagnóstica.
– Ao longo do processo: É importante checar se o planejamento realizado está sendo eficiente para o desenvolvimento dos objetivos de aprendizagem propostos, assim, temos que estabelecer pequenas, dinâmicas e variadas avaliações ao longo de toda experiência de aprendizagem, com o intuito de replanejar as estratégias, caso seja necessário, e garantir as melhores condições de aprendizagem para todos.
– Ao fim do processo: Após a implementação de toda a experiência de aprendizagem, é fundamental avaliar, de forma global, se os objetivos de aprendizagem propostos foram alcançados pelos estudantes, indicando também as medidas que podem ser tomadas para desenvolver aspectos que ainda permaneçam em processo de desenvolvimento, seja para um aluno, um grupo, ou mesmo para todos os estudantes.
Tipos e funções da avaliação
A partir das observações anteriores sobre a relação entre avaliação e planejamento e da identificação dos diferentes momentos nos quais a avaliação apresenta função central para o alinhamento das propostas de ensino, podemos definir alguns tipos específicos de avaliação, identificando quais são as suas funções dentro do processo de ensino.
– Pré-avaliação ou avaliação diagnóstica
Para ser efetiva e favorecer o protagonismo dos estudantes diante do seu processo de aprendizagem, a avaliação diagnóstica deve ser aplicada antes do início do planejamento, pois é a partir dela que é possível conhecer o estudante na perspectiva do tema a ser trabalhado e só a partir dela saber quais objetivos de aprendizagem podem ser propostos para o grupo de estudantes, ou para diferentes grupos dentro de uma mesma turma. É importante destacar que a avaliação diagnóstica não está relacionada somente aos conteúdos que serão trabalhados, ou ao que o aluno sabe ou não sabe sobre um tema. Para montar uma avaliação diagnóstica eficiente é importante sondar os conhecimentos prévios necessários para a compreensão do tema que será trabalhado, assim como as habilidades necessárias, os interesses que podem engajar os estudantes, os conceitos já construídos, dentre outras coisas.
– Avaliação formativa
Após darmos início a uma proposta de ensino, é preciso garantir que o processo seja otimizado ao longo de seu desenvolvimento e, para isso, o recurso da avaliação formativa é fundamental. Ou seja, é importante utilizar pequenas avaliações, dinâmicas e variadas, que possam alimentar o processo de ensino com informações sobre o desenvolvimento dos estudantes, dentro da temática de trabalho, para corrigir o curso das ações e garantir que os objetivos de aprendizagem sejam alcançados da melhor forma possível por todos os alunos. A avaliação formativa é uma forma de manter o planejamento da atividade dinâmico e ativo.
– Avaliação somativa
Depois que obtivemos todas as informações pertinentes ao ponto de partida dos estudantes, é importante estabelecermos uma avaliação global, que seja capaz de verificar se os objetivos de aprendizagem propostos para o processo puderam ser alcançados.
A expectativa é que, com todas as ações de verificação parcial e alterações de curso implementadas durante a experiência de aprendizagem, na avaliação somativa os alunos consigam de maneira muito mais efetiva alcançar os objetivos iniciais. Mas, caso não consigam, a partir da avaliação somativa, será muito mais simples indicar um percurso alternativo e customizado para garantir o desenvolvimento daqueles que ainda estão processo de conquista dos objetivos propostos.
Autoavaliação
A avaliação somativa não pode ser o ponto final, pois é importante que o estudante reflita sobre o seu papel. Ajudar o aluno a avaliar a si mesmo é ensiná-lo a aprender a aprender, pois a autoavaliação desenvolve o autoconhecimento e estratégias personalizadas para melhorar o próprio processo de aprendizagem. Apesar de ser bastante comum nas salas de aula, a autoavaliação precisa ser desenvolvida com alguns critérios, para que possa ser, de fato, um recurso eficiente, alguns dos quais, são indicados abaixo:
– Os critérios precisam fazer sentido para os alunos, para que eles possam reconhecer quais são os elementos centrais para o seu bom desenvolvimento na experiência de aprendizagem.
– Após a autoavaliação, o aluno precisa ter retorno, para que sua reflexão seja posta em perspectiva e não colocada apenas como uma nota, sem desdobramentos.
– É preciso que a autoavaliação, após ser discutida com o professor, culmine em metas estabelecidas e acompanhadas pelo aluno e seu professor.
Por fim, estabelecendo todas as etapas e níveis da avaliação é possível perceber que avaliar, na perspectiva de uma aprendizagem ativa, nada mais do que manter-se em uma postura constante de coleta de dados variados (procedimentais, factuais e atitudinais) sobre o desenvolvimento dos estudantes, para a tomada de decisão. Decisões estas que também devem ser minuciosamente discutidas, mas isso é tema para outro artigo!
Leia mais:
– Dicas de ferramentas para criar um portfólio digital
– 8 formas de avaliar sem ser por múltipla escolha
Heloize Charret
É cofundadora da MAPA Metodologias Ativas, doutora em educação pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), gestora em escolas de educação básica, consultora da área de Ciências da Natureza no programa de cooperação SESI/UNESCO.