Caixa de sonhos combate reprovação e resgata motivação dos alunos
Em escola pública de Major Sales (RN), professora conta como incentivou seus alunos do ensino fundamental a desenvolver a escrita
por Lana Jersica Alves de Lima 6 de fevereiro de 2020
Ao iniciar o ano letivo, deparei-me com uma turma que apresentava um grande índice de repetência, na maioria das vezes ocasionado pela falta de domínio da escrita convencional. Com a convivência diária, percebi uma certa desmotivação dos alunos em relação aos estudos, refletindo significativamente em seus comportamentos. Foi daí que nasceu o projeto “A caixa dos sonhos”, desenvolvido com o 4º ano do ensino fundamental, na Escola Municipal Antônio José da Rocha, em Major Sales (RN).
Resolvi investigar quais eram as expectativas dos alunos para o futuro e entender se elas estavam ligadas à desmotivação com os estudos. A partir disso, comecei a planejar estratégias para a superação dessas questões e foi aí que surgiu a ideia da construção da “caixa dos sonhos”.
Durante a apresentação da proposta logo surgiram os mais variados sonhos, dos sentimentais aos materiais. Também falamos sobre os sonhos já realizados para mostrar que aquilo que eles desejavam poderia se tornar realidade.
Após esse momento de reflexão, orientei que a turma se dividisse em dois grupos. Cada equipe teria que ornamentar a sua caixa dos sonhos, na qual seriam depositados bilhetes com os seus propósitos a curto e longo prazo. Para fazer essa atividade, os alunos que ainda não apresentavam domínio da escrita convencional receberam apoio da professora ou dos colegas.
No intervalo entre a construção da caixa dos sonhos e a sua abertura, houve alunos que com muito entusiasmo traziam seus depoimentos, relatando que um de seus sonhos foram realizados.
O tão esperado dia de abertura da caixa dos sonhos aconteceu no pátio da escola em forma de roda de conversa. Preparei uma toalha no chão e alguns balões de sonhos, pedi que eles sentassem em volta da toalha para nossa conversa.
Os alunos estavam ansiosos para saber se algum dos seus sonhos haviam sido realizados e ficaram atentos a cada bilhete que saia da caixa. Um a um, os alunos liam seus sonhos e contavam se algum havia sido realizado. Quando não apresentava o domínio da leitura, eu ou outro colega ajudávamos. Era gratificante ver como eles apontavam seus avanços, percebendo eventuais desvios ortográficos cometidos na construção dos bilhetes.
Os sonhos que haviam sido realizados foram depositados em uma caixa à parte, com a identificação “já realizei”, enquanto os demais eram discutidos, coletivamente, para que o aluno encontrasse uma estratégia para realizar seu sonho. Nesse momento, eles se dispuseram a fazer estudos em casa com os colegas que tinham como sonho não reprovar. Também foi sugerida a construção de cofrinhos para juntar dinheiro e presentear a mãe e surgiu até a ideia de fazer orações ao ir dormir.
Após esse momento rico de trocas, voltamos para a sala e, ainda em círculo, orientei que eles fizessem uma leitura minuciosa de seus bilhetes para identificar possíveis desvios na escrita e reescrevessem da forma que considerassem correta.
Com esse projeto, consegui identificar os possíveis causadores do desânimo e do mal comportamento em sala de aula. Já para a formação dos alunos, as atividades permitiram que um se colocasse no lugar do outro para arquitetar soluções para problemas e sentirem que são importantes e perceber que poderiam contar com a colaboração dos amigos para a realização de seu sonho.
A autoestima dos alunos acabou renovada e se refletiu no entusiasmo e na participação de outras tarefas realizadas em sala, inclusive naquelas que aparentemente estavam acima do nível de determinados alunos, que passaram a se sentir à vontade para externar e pedir ajuda.
Lana Jersica Alves de Lima
Professora da Rede Municipal de Ensino, cursa o segundo ano de atuação na educação infantil e no ensino fundamental 1. Graduada em pedagogia pela Faculdade de Educação da UERN (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte) em 2017. Egressa do Programa de Educação Tutorial, onde fez parte do grupo de extensão Diálogos em Paulo Freire e Educação Popular.