Docente tem na leitura uma ferramenta importante para trabalhar projetos de vida - PORVIR
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Inovações em Educação

Docente tem na leitura uma ferramenta importante para trabalhar projetos de vida

No Novo Ensino Médio, os projetos de vida podem ajudar os estudantes na maneira como lêem o mundo e pensam sobre seu futuro

Parceria com Árvore

por Ruam Oliveira ilustração relógio 5 de outubro de 2021

Projetar é uma tarefa que precisa ser aprendida aos poucos. No momento em que os adolescentes estão no ensino médio, não é muito comum que já saibam com grande convicção o que querem fazer das próprias vidas e muitos vivem conflitos por ter que escolher, tão cedo, os caminhos que pretendem seguir.

O Novo Ensino Médio tenta resolver, em partes, essa dificuldade. Isso porque agora trabalha de uma forma que o estudante aparece como protagonista de sua história, traz itinerários formativos e busca, olhando para as múltiplas habilidades dos jovens e adolescentes, ampará-los nessa tarefa de se compreender como indivíduos no mundo.

Sendo, pois, indivíduos com gostos, preferências e diferentes inclinações, cai bem trabalhar em sala de aula o autoconhecimento, que é um dos eixos a serem discutidos no Novo Ensino Médio.

Neste período da vida escolar, a leitura pode servir de aliada na compreensão de mundo que os jovens e adolescentes têm ou podem desenvolver. Inclusive uma leitura que vai para além do texto, mas que engloba maneiras de ver e entender a vida e a si mesmos.

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André Sampaio, especialista pedagógico da Árvore, afirma que o trabalho com projetos de vida é um processo de planejamento no qual os estudantes passam a se conhecer melhor, identificam seus potenciais, interesses e paixões e acabam estabelecendo estratégias e metas para alcançar seus objetivos, atingindo sua realização em todas essas dimensões.

O especialista aponta que os documentos oficiais – no caso o que aponta a reforma do ensino médio e a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) – apresentam a seguinte divisão: no primeiro ano do projeto de vida, é um momento onde é possível trabalhar o autoconhecimento e a partir disso a tomada de decisão. No segundo ano, jovens e adolescentes são convidados a avaliar possíveis caminhos dentro deste projeto de vida. É quase como um aprofundamento desse autoconhecimento e uma ampliação de repertório.

E no terceiro ano, as atividades são pensadas para auxiliar estudantes na construção do projeto futuro, incluindo as escolhas da relação do seu próprio projeto de vida, onde o jovem irá se desenvolver profissionalmente. É também neste momento que surgem perspectivas de promover mudanças no mundo.

“Acho que o trabalho com a leitura se encaixa nas três vertentes. No caso do autoconhecimento, feitos com reflexões através da leitura podem nos levar a outros pontos que é dar voz e direcionar os alunos a atividades de protagonismo”, aponta André.

As discussões por meio da leitura mostram ou podem desenvolver as habilidades de estudo dos estudantes. Dessa forma, contribuem para o aprofundamento dos conhecimentos deles e servem justamente como apoio nessa jornada de descoberta pessoal e profissional.

O Colégio Porto, em Natal (RN), viu na leitura um espaço não apenas para discussão de obras que são cobradas no vestibular, mas também como local de diálogo com outras áreas do conhecimento. Com o clube de leitura, os participantes fazem análise de obras literárias relacionando-as com aspectos sociais, psicológicos e históricos,.

Por meio das leituras e do projeto de vida, os educadores da escola trabalham não somente questões do cotidiano, como também sobre a própria preparação dos jovens e adolescentes para o pós-ensino médio.

O bibliotecário Ladislau Viana, conta que ainda há certo desafio para que os estudantes se engajem na leitura. Uma das estratégias da escola foi desenvolver o “Leitor do Trimestre”, onde a escola premiaria o recordista de leitura.  O projeto é uma forma de incentivar a leitura e que, com o tempo, se mostrou interessante para os estudantes além da possibilidade de ganhar um leitor de livros digital.

Acaba que eles chegam em certo momento e esquecem a premiação. Eles encontram ou recebem indicações de livros que são do perfil e se engajam muito, conta.

Ladislau coloca a leitura neste lugar de compreensão das realidades. “Algumas obras abordam contextos do dia a dia, e com a leitura conseguimos identificar aquelas que passamos, além de conseguirmos observar novas situações e temáticas e, a partir disso, pensar de forma mais crítica, buscar soluções, por exemplo”.

Essa busca por soluções e a chance de desenvolver um outro olhar para o cotidiano dialoga com o que foi antes dito por André. A leitura pode servir de aliada também neste sentido de ampliar o repertório dos estudantes e, consequentemente, trazer os alunos e alunas para este lugar de reflexão e pensamento crítico sobre a própria vida e seu futuro – profissional ou não.

“A leitura é um valioso instrumento para o autoconhecimento, uma vez que ao despertar em nós diferentes sentimentos, emoções e identificação, aprendemos a olhar para isso dentro da gente”, destaca Fabiana Reis, professora da rede municipal de Itatiba.

A professora aponta que a leitura permite que os educadores trilhem caminhos entre a ficção e a realidade e isso pode ser explorado nos projetos de vida dos estudantes. A melhor forma de fazer com que isso aconteça, sugere, é por meio de trocas dialógicas entre o docente e a turma onde todos aprendem a partir de seus diferentes contextos e lugares de fala.

Relação com a leitura e intencionalidade

A leitura pode proporcionar que o estudante pratique o autoconhecimento, mas depende também da maneira como ela é apresentada. Em se tratando de educação é importante observar sempre quais sejam as intenções que o educador ou educadora tem ao trazer quaisquer conteúdos para a sala de aula. Se a intenção é, com a ajuda da leitura, desenvolver senso crítico em relação à profissão escolhida, aos gostos que cada estudante tem etc, é válido. Não se trata, portanto, da leitura pela leitura.

“A leitura não é simplesmente a relação que um indivíduo ou estudante tem com o livro, como se eu indicasse um título para a pessoa, ela lesse, e a partir daquela leitura fosse  construído todo um caminho didático, de autorreflexão, para que ela pudesse se desenvolver e pensar todas as potencialidades daquela obra”, pontua André.

Para o especialista, há outros caminhos para trabalhar a leitura, como, por exemplo, quando se desenha uma trilha de leitura que conjugue o ato de ler com outras atividades que os alunos podem realizar, mesmo que lúdicas. “Acho que acaba sendo uma experiência de aprendizagem muito mais significativa. [Os alunos] conseguem refletir de forma mais eficaz e melhor em conjunto com seus colegas e professores a partir de outras dinâmicas”, ressalta.

Ou seja, depende de como a leitura é feita. É preciso criar diferentes dinâmicas para que o estudante consiga construir outras experiências de aprendizagem a partir do que está lendo.

A leitura pode figurar um espaço significativo dentro dos projetos de vida e na trilha por autoconhecimento. Trabalhá-la de maneira conjunta com outras disciplinas não relacionadas com linguagens, como faz a equipe do Colégio Porto, é também uma ferramenta importante para traçar conexões entre a experiência de vida dos estudantes, suas aspirações e maneiras como enxergam o mundo.

“Quero pensar que a leitura ganhará o lugar que realmente merece dentro da sala de aula: ela é elo entre todas as disciplinas. Como entender uma comanda de um exercício de Física se não compreendo o que leio? Entende aonde quero chegar? Penso que leitura seja compromisso de todas as áreas. Se deixarmos apenas para as aulas de Português, pouco poderemos desenvolver em relação às competências e às habilidades em nossos alunos”, afirma a professora Fabiana.

 

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aplicativos, ensino médio, novo ensino médio

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