Como a leitura pode apoiar projetos interdisciplinares? - PORVIR
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Inovações em Educação

Como a leitura pode apoiar projetos interdisciplinares?

Projetos criam bons leitores e colocam a leitura como ferramenta para a compreensão de conteúdos para além das áreas de linguagens

Parceria com Árvore

por Ruam Oliveira ilustração relógio 27 de setembro de 2021

Quando se fala em leitura, é possível entendê-la de um jeito mais simples, ligando-a apenas ao ato de interpretar símbolos, associando-a às questões de linguagens, por exemplo. Mas tente ser um pouco mais amplo. Falar sobre leitura é também ensinar como compreender o mundo. O incentivo à leitura passa também por este lugar.

Ler um mapa, ler uma imagem ou outro elemento – visual ou não – faz parte da maneira como se enxerga e se percebe o mundo e, portanto, é possível compreender tal aspecto como leitura.

Mas e quando o assunto está nas aulas de matemática e geografia? Ainda assim é possível trabalhar a leitura? A resposta é sim. Partindo deste conceito de leitura de maneira mais universal, não apenas associada às áreas de linguagens, é possível colocá-la em um local estratégico e usá-la como ferramenta de suporte na compreensão de conteúdos.

Projetos interdisciplinares podem ser ricos espaços para criar bons leitores. E é preciso, porém, que os próprios professores a tenham em sua rotina de uma forma mais presente. Quem afirma isso é a professora Selene Coletti, professora alfabetizadora e de Educação Infantil e atualmente vice-diretora da EMEB Philomena Salvia Zupardo, em Itatiba (SP).

Há mais de 40 anos atuando na área, Selene conta que já participou de diversas iniciativas  de disciplinas distintas  e presenciou, por exemplo, um projeto em que os educadores e educadoras tinham um período, em todas as aulas, para se dedicar à leitura junto com a turma.


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No caso dos projetos interdisciplinares, Selene destaca: é importante que os educadores estejam engajados, principalmente nos ensinos fundamentais 1 e 2. Isso porque, com a rotina, há a tendência de que se criem “caixas” em que os professores precisam dar conta de entregar o conteúdo e, por consequência, terem alguma dificuldade em programar projetos com outras áreas do conhecimento.

É possível usar trabalhar artigos de jornais e quadrinhos, por exemplo, além do livro didático nos formatos físico ou digital. Música ou vídeo também se encaixam nesta perspectiva de leitura mais global e, de certa forma, multimodal. “Na escola, os professores e as professoras já têm que levar para a sala de aula esses diferentes textos que já circulam na nossa sociedade”, afirma Letícia Reina, gestora educacional da Árvore.

Muitas e vastas possibilidades

Selene traz um exemplo a ser aplicado durante a Olimpíada. Um professor de educação física pode se reunir comum professor ou professora de língua portuguesa e, juntos, trabalharem um aspecto cultural, um aspecto social ou até mesmo histórico (ou físico) dos jogos por meio de textos e outros materiais de apoio

No caso dos docentes que atuam  de maneira polivalente, a educadora destaca que fica ainda mais fácil utilizar a leitura em diferentes áreas do conhecimento. Em uma roda de conversa sobre divulgação científica, contos de fada para tratar de empatia… As possibilidades de leitura são muitas e vastas.

No mesmo texto, o professor de língua portuguesa consegue abordar a estrutura, enquanto a professora de história pode focar no gênero informativo.

A gestora educacional destaca que, de modo geral, muitos conteúdos do ensino fundamental se complementam. “Por exemplo, conteúdos de história que dialogam com conteúdo de geografia e afins. E para garantir que haverá bons resultados é necessário um esforço não apenas dos docentes, como também da coordenação pedagógica nesta interlocução”, comenta Leticia.

Construção colaborativa 

Lidar com a interdisciplinaridade é também uma possibilidade de fazer com que o estudante entenda cada componentes com mais unidade, ressalta o professor Andrios Bemfica, chefe do Departamento Pedagógico da Secretaria de Educação de Tramandaí (RS). Parafraseando Paulo Freire, Andrios destaca que é por meio da leitura que se constrói a cidadania. “A leitura os ajuda a compreender o mundo e a compreensão se dá na unidade de conhecimento”, afirma.

Semanalmente, as escolas da rede de Tramandaí compartilham via redes sociais o projeto “Semeando leitura em Tramandaí“, que funciona como um mural virtual onde divulgam práticas pedagógicas de incentivo à leitura, tendo como ferramenta a plataforma Árvore. O conteúdo adotado é eclético. A edição mais recente do mural trouxe o relato da professora Tatiana Girardelo, que trabalhou o livro “Matemática Mortífera” com sua turma para mostrar que matemática não é só número.

Andrios aponta que o projeto vai além da leitura ao apoiar os estudantes para que sejam produtores de conteúdo. “O caso do mural traz uma série de exemplos neste sentido”, afirma. Ao mesmo tempo em que estão aprendendo sobre educação financeira, também lidam com sustentabilidade financeira, consumo, empreendedorismo e matemática. “Ou seja, uma forma de trabalhar habilidades para a vida prática”, reforça Andrios.

Estimulando a participação leitora

Engajar os alunos depende muito de como os assuntos são apresentados em aula. A professora Selene também acredita ser indicado convidar os estudantes a construir juntos as escolhas literárias “Ouvi-los é um passo importante para colocá-los como protagonistas e sujeitos ativos do processo”, diz.

Outro ponto destacado por Letícia é que a leitura precisa ter objetivo. “Quanto mais o professor tiver clara a sua intencionalidade pedagógica, com a proposta que quer e quanto mais ele sabe os objetivos que deseja desenvolver, mais o aluno adquire habilidades de leitura”, aponta.

Ela exemplifica: se a intenção do professor é que seus estudantes desenvolvam a habilidade de serem leitores de jornal ou produtores de notícias e reportagens, a primeira estratégia é disponibilizar o máximo de jornais e revistas para estimular o contato com o gênero. “É uma estratégia possível: disponibilizar para seus alunos bons modelos de texto, escolher fontes seguras, jornais impressos ou digitais, falados ou escritos”, ressalta Letícia.

As notícias são uma das muitas ferramentas usadas tanto por Selene quanto por Andrios em seus projetos de incentivo à leitura com abordagem entre diferentes disciplinas. É lendo um artigo sobre ciência, por exemplo, que um estudante pode conhecer mais sobre um vírus e falar disso na aula de biologia. Com um vídeo sobre arte renascentista poder compreender mais sobre a história das civilizações.

Com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), as escolas estão se deparando com a possibilidade de trabalhar habilidades que encontram campo fértil para florescer no âmbito dos projetos interdisciplinares. Quando se pensa em combinar conteúdos e explorar possibilidades de ensino, a leitura, inclusive a partir dessa perspectiva mais ampla, pode servir de facilitadora da compreensão, contribuindo assim com a ampliação do conhecimento dos estudantes.

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aplicativos, aprendizagem baseada em projetos, educação infantil, ensino fundamental, interdisciplinaridade

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