Empresa apoia escola a testar recursos digitais antes da compra
Nos EUA, Clever já está em 53.000 instituições com um programa que ajuda a qualificar compras de tecnologia
por Tony Wan, do EdSurge 8 de agosto de 2016
Publicado originalmente no EdSurge e traduzido mediante permissão.
O ditado “teste antes de comprar” funciona para roupas e carros, mas nem tanto para as tecnologias educacionais. Gestores às vezes compram software sem fazer qualquer consulta a professores e estudantes. E professores mais aventureiros começam a usar novas ferramentas por conta própria sem avisar ao departamento de tecnologia. Então surgem questões técnicas: como exatamente um novo aplicativo será instalado em 30 dispositivos? Quem vai criar e instalar as contas dos alunos?
A lista de aborrecimentos parece interminável. Mas a empresa Clever acredita que seu novo programa pode ajudar a resolver alguns problemas. Desde março, a startup com sede em São Francisco, na Califórnia (EUA), convidou uma dezena de empresas e 18 redes para testar o “Clever Co-Pilot”, um programa que organiza testes de 30 dias para qualificar decisões de compra. A iniciativa está a aberta a qualquer interessado.
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“Redes precisam de um jeito fácil para testar software dentro da sala de aula”, diz Dan Carroll, cofundador e diretor de produto da Clever, que fala com conhecimento de causa. Em seu emprego anterior como diretor de tecnologia em uma escola charter (pública com administração privada), cerca de metade das ferramentas que adquiria não eram usadas ou ficavam subutilizadas. Naquela época, ele tentou rodar uma dezenas de pilotos, mas lidar com a logística de apenas quatro “quase me matou”, diz.
Desde seu lançamento em 2012, a Clever desenvolveu interfaces de programação que sincronizam dados de alunos entre sistemas das escolas, tornando mais fácil para educadores e empresas fornecerem contas de usuários. Essa tecnologia permite a estudantes acessar diferentes aplicativos com uma única credencial. Com o uso desses mecanismos para simplificar o processo de implementação, abriram-se novas maneiras de pilotar novos produtos, disse Carroll ao EdSurge.
Com mais de 53.000 escolas e 220 empresas, o programa Co-Pilot da Clever busca não apenas facilitar pilotos − mas também as compras.
Preparação de voo
Veja como funciona o Co-Pilot. Gestores compartilham quais ferramentas precisam para seus alunos − uma ferramenta de reforço de matemática para ensino fundamental, por exemplo. Com base nessa demanda, a empresa oferece sugestões a partir de uma lista de produtos (tanto a escola quanto o fornecedor precisam estar cadastrados). A escola pode escolher quais deseja testar, e depois a Clever disponibiliza contas de usuário e a documentação explicando como as soluções digitais funcionam.
Existem atualmente 12 ferramentas disponíveis pelo programa Co-Pilot, cobrindo áreas como programação, artes, matemática, ciências e digitação. É esperado que o número aumente. Até agora, as empresas não precisam desembolsar valor adicional para participar do Co-Pilot (elas continuam a pagar à Clever uma mensalidade para usar a interface que faz a conexão com as escolas).
Ao longo do piloto de 30 dias, professores e estudantes têm acesso ao produto integral − e não a uma versão básica ou de demonstração. Depois disso, a Clever fornece um relatório com a frequência de uso e uma análise quantitativa e qualitativa feita por professores e estudantes. Esses dados são desenhados para “ajudar redes a qualificarem decisões”, diz Carroll, que acrescenta que “não dita como as escolas devem comprar”.
Para Jun-Soo Huh, diretor de ensino personalizado da Alpha Public Schools, um piloto bem realizado oferece ideias sobre a facilidade de uso de um produto e “se professores conseguem rapidamente ter acesso aos dados e tomar decisões”. Um piloto de 30 dias é a duração mais apropriada; se for menor, “estudantes podem demonstrar engajamento maior só por conta da novidade”. A rede de escolas charter de Huh vai pilotar um programa no final deste ano.
À medida que as redes avançam do piloto para a compra, o programa oferece um novo meio de remuneração para a Clever e suas empresas. “Gerar interesse de venda é o pedido número um dos nossos parceiros”, diz Carroll. A Clever fica com uma fatia de cada venda que acontece como consequência do programa Co-Pilot.
Até agora, 18 redes já completaram ou estão dentro do Co-Pilot. Seis delas já efetuaram compras, incluindo a Morgan County Schools, que optou por adquirir a plataforma adaptativa MobyMax. “Tentar obter retorno de professores e estudantes pode ser desafiador e levar tempo”, afirma Casey Morgan, coordenador de TI. Trabalhar com o Co-Pilot “nos permitiu fazer o trabalho de base, preparar professores e deixar o trabalho com dados e coleta de avaliações para a Clever”.
Antes de “O que funciona”
O interesse em pilotos tem disparado. Muitas escolas, sem dados sobre eficácia, fazem esses testes para ter uma ideia de como uma ferramenta pode funcionar, e se professores e estudantes vão realmente utilizá-la. De acordo com um estudo da Digital Promise, 62% dos gestores usam pilotos para se informar sobre decisões de compra.
Grupos regionais de educação também organizaram avaliações de curto prazo para ajudar escolas a entender o que faz sentido comprar. A Silicon Valley Education Foundation organizou o “iHub Pitch Games“, em que educadores experimentam soluções por três meses (Veja o último relatório). O programa iZone, da rede de Nova York, convida professores a testar novos produtos por meio do desafio “Short-Cycle Evaluation Challenge“. A LEAP Innovation realiza pilotos anuais na rede de escolas públicas de Chicago e recentemente publicou resultados sobre produtos para letramento.
Até o governo federal dos EUA entrou na briga: no ano passado, foi divulgada uma chamada para propostas para realização de “ciclos rápidos para avaliação de tecnologia“. O Departamento de Educação selecionou o centro de pesquisa Mathematica Policy Research para criar uma série de ferramentas para ajudar redes a avaliarem recursos digitais.
Carroll não garante que o programa da Clever vai ajudar escolas a entenderem o que funciona. Em vez disso, ele considera que a indústria está ficando muito presa à questão da eficácia.
O “maior problema que as pessoas não estão falando diz respeito ao uso”, disse ao EdSurge. Afinal de contas, é prematuro julgar de que maneira um produto “funciona” se ele é pouco usado − ou nem usado. Mais dados de utilização podem oferecer melhores sugestões além da eficácia, como sob quais circunstâncias e para quem. Com suas interfaces de programação − e agora com o Co-Pilot − a Clever tem o poder de controlar acessos e dados de uso que permitem essas análises. Essas percepções são valiosas não só para educadores, como também para empreendedores refinarem seus produtos.
A empresa não têm planos imediatos para mergulhar nesses dados. Até agora, “o que o Co-Pilot pretende fazer é assegurar as ferramentas adquiridas já despertem interesse e sejam usadas”, diz Carroll.
Tony Wan, do EdSurge
É um editor associado no EdSurge, responsável pelas newsletters de quarta-feira. Também pode ser encontrado cafeinado em meetups e eventos. Já fundou a Luckybird Games e foi editor do Stanford Journal na sessão de Asian Affairs. Gasta todo o tempo livre que tem escalando montanhas.