Ensino híbrido e o papel da tecnologia na volta às aulas
Pandemia evidenciou a necessidade de transformação digital e a adoção de novas práticas mediadas pela tecnologia no ambiente escolar
por Maria Victória Oliveira 13 de julho de 2020
Se antes da pandemia a educação mediada pela tecnologia já era um assunto recorrente, a chegada do novo coronavírus mostrou que investir em infraestrutura, formação de professores e familiaridade dos estudantes com atividades realizadas de forma online são caminhos promissores e necessários.
Segundo um parecer com 14 recomendações gerais aprovado pelo CNE (Conselho Nacional de Educação), a volta às aulas presenciais de forma controlada e gradual não conseguirá absorver toda a oferta de aprendizado, reforçando a permanência do ensino à distância até, pelo menos, 2021.
Matheus Borré, coordenador pedagógico Trilhas Pedagógicas EAD (Tri.P EAD), da Plataforma de Ensino Eleva, concorda que, até o começo do ano que vem, a tecnologia será a grande aliada, em um movimento de conseguir retomar conteúdos que deveriam ter sido trabalhados ao longo de 2020 e, por conta da pandemia, sofreram um atraso no cronograma escolar.
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Conceito de ensino híbrido
O recém-publicado e-book Ensino Híbrido: Guia Completo sobre a Implementação do Ensino a Distância, elaborado pela Eleva, defende que a transformação digital tornou-se urgente quando o ensino presencial foi suspenso.
Por mais que muitas escolas estejam fazendo um esforço emergencial para que os estudantes não fiquem sem acompanhamento pedagógico, o momento abre espaço para que se pense até que ponto a tecnologia pode fazer a diferença na educação, com o ensino híbrido no centro do debate.
“O ensino híbrido é uma concepção da união do que é feito em sala de aula em uma estrutura física e o que é feito em uma sala online, que é o ensino virtual. Essa metodologia tenta encontrar a melhor maneira de juntar os dois universos que, por essência, têm uma maneira diferente de educar. Há uma tentativa de combinar os melhores recursos de cada um deles para que tenha-se um processo mais holístico, amplo e interessante para todos os alunos”, explica Matheus.
A estratégia é uma das soluções mais comentadas nas perspectivas pós-pandemia, como afirma o guia. Segundo o coordenador, implementar o ensino híbrido de forma mais estruturada a partir de agora é uma alternativa decorrente de uma necessidade, existente há algumas décadas, de adequação da comunicação praticada pelas escolas, com o objetivo de se conectar mais às novas gerações.
“A pandemia escancarou uma demanda que já era discutida há muito tempo de readaptar as escolas ao um novo cenário, mais próximo da tecnologia e das formas de comunicação usadas pelos alunos. Se antes havia mais tempo para essa discussão, o assunto tornou-se urgente. Mas de forma geral, esses processos de renovação já eram uma tendência.”
O processo de adoção da tecnologia com o objetivo de dar suporte a outras estratégias de ensino conta com alguns pontos positivos, como a possibilidade de maior personalização de acordo com as necessidades de cada estudante. O guia apresenta quatro métodos que podem ser adotados, entre eles a sala de aula invertida, conceito no qual os alunos estudam temas em casa ou presencialmente com a ajuda de tecnologias, e as discussões e exercícios são realizados em sala de aula. Há também estratégias de rotação: o professor monta estações de trabalho com diferentes objetivos de aprendizado e os alunos vão passando por cada posto. É possível realizar adaptações para que os estudantes concentrem-se em assuntos que têm menos facilidade.
O desafio do acesso e da adaptação de escolas
É bem verdade que a tecnologia facilita muitos processos que antes eram custosos, burocráticos, demorados e complicados. Na educação, a internet e aparelhos como smartphones e tablets também tornam mais fáceis pesquisas sobre momentos históricos ou o funcionamento do sistema nervoso central no corpo humano. Entretanto, a chegada da pandemia mostrou que existem inúmeros desafios para oferecer educação de forma online e, possivelmente, o primeiro deles é a desigualdade social.
Enquanto não há cobertura de sinal de internet em 100% do território brasileiro, muitas famílias não contam com os aparelhos para navegação online e, quando contam, é comum que um único celular sirva de instrumento para uma família inteira.
Matheus explica que, antes mesmo de investir em formações, vivências e teorias pedagógicas para que alunos e professores sintam-se aptos a interagir com a tecnologia, é necessário garantir e se certificar de que todos têm acesso ao recurso. “Toda e qualquer proposta que pensarmos daqui para frente precisa considerar se todos têm acesso ao recurso e, se não tiverem, como podemos entregar isso, que é o primeiro passo de uma estratégia que envolve ensino híbrido”, reforça.
Segundo o coordenador, instituições privadas de ensino que, geralmente, contam com mais autonomia em sua gestão, podem usar esse quesito dinâmico para testar, verificar e comprovar processos e ações e, em seguida, compartilhar os resultados com o ensino público, responsável por atingir um grande número de estudantes. “Se no ensino privado conseguimos testar e avaliar com maior rapidez o que dá certo ou não, é fundamental que essas informações sejam levadas à esfera pública, para que todos os processos também acontecem em uma velocidade maior. É uma colaboração entre os dois sistemas.”
Outro fator relevante é a compreensão de que será importante e necessário respeitar os inúmeros períodos de adaptação que a educação sofrerá daqui para frente, o que também é verdade quando o assunto é introdução de tecnologia no currículo. Para Matheus, é válido reforçar que o sistema de ensino vigente coloca o professor como detentor quase único do conhecimento, em uma estratégia pedagógica expositiva e conteudista.
“Isso é algo tradicional e histórico. Então, acredito que um desafio para implementar o ensino híbrido é as escolas concederem esse tempo de adequação aos alunos, professores e coordenadores. Se podemos tirar alguma coisa positiva desse período de quarentena, é o tempo para que possamos testar e avaliar novos processos. Pode ser que parte deles seja descartada, mas, ainda assim, estamos com tempo para aplicar e avaliar o que dá certo ou não.”
Para Matheus, a primeira orientação para o corpo docente, seja em aprendizados durante a pandemia ou com a volta das aulas presenciais, é não ter medo de se colocar em uma posição de aprendiz. “Por vezes, professores acabam caindo na armadilha de pensar que já passaram da fase de aluno, quando, na verdade, durante toda a vida o professor será um eterno aluno”.
O coordenador conta que, durante esse período de quarentena, tem visto colegas receosos de demonstrar que não entendem como adotar tecnologia em suas práticas tanto quanto precisavam. Para ele, é preciso negar esse medo e, com isso, iniciar um movimento de pegar, mexer, navegar, tentar, errar e entender que alguns momentos serão mais desafiadores que outros.
“A partir do ponto que começamos a ter menos medo da tecnologia, começamos a nos colocar mais abertos para testar coisas a partir dela. Professores têm uma característica muito legal que é a vontade de fazer e testar coisas novas. Então, a formação em tecnologia começa a vir mais naturalmente quando passamos a ter os recursos como nossos amigos e não como os maiores vilões”, completa.
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