Formação eficiente integra professor, comunidade e gestão
8º Conecte-C, evento do CIEB, traz iniciativas do Plano Ceibal, do Uruguai, e do Instituto Crescer que levam inovação à formação docente
por Vinícius de Oliveira 2 de maio de 2017
O 8º Conecte-C, encontro promovido pelo CIEB (Centro para Inovação da Educação Brasileira) foi dedicado à formação de professores, um tema que conversa diretamente com as edições anteriores, que trataram do formato dos laboratórios de informática, da análise de dados, do uso de recursos educacionais abertos e do processo de escolha de aplicativos para uso em sala de aula. Para falar sobre o assunto, estiveram presentes Ana Laura Martínez, ex-gerente do Plano Ceibal, do Uruguai, e Luciana Allan, diretora do Instituto Crescer, instituição que possui oito escritórios nacionais e que está presente em sete outros países (Paraguai, Chile, Argentina, Itália, Omã, Moçambique e Malásia). Ambas trouxeram como exemplo iniciativas de formação docente que trouxeram impacto por estarem integradas a outros programas que envolveram famílias, comunidade e líderes escolares.
Ana Laura trouxe um lado do Plano Ceibal que vai além da vertente da distribuição de laptops para todos os alunos da educação básica, como mostrou o guia Tecnologia na Educação. No país vizinho, o programa criado em 2007 ganhou status de política pública, mas Ana Laura reconhece que seu início foi “desequilibrado”, privilegiando a infraestrutura em detrimento da política para professores. “Até hoje existem professores que não gostaram do que viram no começo (quando ficaram sem saber o que fazer) e resistem muito, apesar de a política ter amadurecido.” Com o passar do tempo, professores e coordenadores pedagógicos foram convidados a se aproximar das instâncias decisórias e hoje as escolas ganharam um profissional que oferece apoio durante as atividades didáticas.
“Uma lição importante que tivemos é que acesso não equivale ao uso. E uso está longe de garantir resultados em termos de aprendizagem”, disse Ana Laura. Em um entendimento que inovação envolve uma mudança cultural na maneira de gerir e construir saberes, dentro do Programa Aprender Tod@s, o Uruguai passou a discutir os papéis de cada ator do ecossistema escolar, a envolver alunos, famílias e comunidade, além de oferecer formação para diretores e professores, tanto para aqueles que já estavam em sala de aula quanto para os alunos dos institutos formadores (no Uruguai, isso é papel de instituições que não pertencem a universidades). Após participar de uma capacitação inicial, cada escola desenha e implementa um projeto de inclusão digital, articulado ao seu projeto escolar.
Para isso, foram criados espaços para que alunos mais velhos se juntassem às crianças para desenharem seus próprios processos de aprendizagem. Famílias e profissionais da comunidade foram convocados a participar de oficinas com os alunos para criar novas maneiras que os permitissem aprender. Para combater o isolamento do professor em sala de aula, equipes de professores passaram a fazer encontros com profissionais externos e com a comunidades para entender as suas demandas e se abrir a novas ideias. Hoje, o projeto que começou nas escolas, já é adotado por institutos de formação docente.
Como desafios que ainda precisam ser enfrentados, Ana Laura menciona quatro pontos: 1) o diálogo entre a cultura digital e o currículo; 2) integração com a pesquisa de estratégias didáticas apoiadas em tecnologia; 3) inclusão de todos (alunos, professores e famílias) nas práticas da escola; 4) vínculo de pesquisas com resultados de aprendizagem.
Já Luciana Allan, do Instituto Crescer, detalhou dois programas: o Crescer em Rede (veja no Guia Tecnologia na Educação a experiência de projetos colaborativos entre escolas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina) e o Sua Classe, Brasil, que possui 13 cursos de 40 horas disponíveis online com temas de formação geral, desenvolvimento pessoal, apoio ao currículo, tecnologia educacional e gestão. Atualmente, o programa possui 200 mil professores em uma aliança com versões semelhantes em países da América Latina.
O objetivo, segundo a diretora do Instituto Crescer, é que o professor saiba planejar uma aula em que ele perceba claramente momentos de felicidade, iniciativa e curiosidade na expressão dos aluno. “Quem é professor sabe quando uma aula faz total sentido para o aluno e que ele não vai esquecer mais. Não interessa se vou trabalhar com computador, tablet ou produção de vídeo, eu quero que no final do dia a aula que ele planejou faça sentido para o aluno”, disse Luciana.
A apresentação completa pode ser assistida na página do CIEB no Facebook.