Inspirados no Renascimento, alunos criam projetos com impacto social - PORVIR

Diário de Inovações

Inspirados no Renascimento, alunos criam projetos com impacto social

Iniciativa voltada aos estudantes do 7º ano do ensino fundamental de Ipatinga (MG) une criatividade e conhecimento histórico

por Débora de Castro Andrade Rosa ilustração relógio 3 de julho de 2023

O Renascimento, movimento caracterizado por transformações artísticas e culturais entre os séculos 14 e 16, marcou a passagem gradativa da Idade Média para a Idade Moderna. Neste período, pesquisadores como Nicolau Copérnico (1473-1543) e Galileu Galilei (1564-1642) avançaram nos estudos das ciências naturais, enquanto na literatura se consagraram as obras de William Shakespeare (1564-1616) e Miguel de Cervantes (1547-1616). E não há como negar que um dos maiores nomes da Renascença foi Leonardo da Vinci (1452-1519). Suas telas, como Monalisa ou A Última Ceia, seguem entre as mais famosas do mundo. Mas o artista não se restringiu às pinturas: cientista e inventor, debruçou-se na anatomia humana e em pesquisas relacionadas à matemática e à engenharia civil. 

Sou professora de história em Ipatinga (MG) e em 2022, quando apresentei à minha turma do Colégio Fibonacci uma reportagem sobre algumas de suas invenções, a surpresa foi geral. Neste ano, o mesmo aconteceu com meus alunos do Pilar Instituto de Educação, também matriculados no 7º ano. Assim foi criado o projeto “Inventores do Renascimento”.

Partimos dos desenhos que da Vinci deixou como legado: ao todo, são mais de 7 mil páginas de anotações e estudos em cadernos conhecidos como códices. Por lá, é possível encontrar protótipos de bicicleta e paraquedas, esboços de robôs e tanques de guerra que pareciam adivinhar o futuro. E também O Homem Vitruviano, de 1490, é um dos desenhos mais conhecidos e estudados, por simbolizar o encontro entre arte e ciência que representou o movimento renascentista (e é a foto principal deste artigo). 

Influenciada pelas inúmeras criações dos gênios desse período histórico, especialmente as de Leonardo da Vinci, bem como à reação positiva dos estudantes sobre o tema, pedi aos alunos do 7º ano que se reunissem em grupos. Cada equipe deveria apresentar uma invenção voltada aos nossos dias atuais, ou seja: a turma precisava desenvolver algo que fosse criativo e, ao mesmo tempo, tivesse impacto social.

Tudo começa com o esboço do projeto. O molde deveria ser inspirado nos cadernos do Leonardo, na maneira como ele desenhava e explicava o funcionamento de cada parte. Em seguida, uma carta deveria comprovar a funcionalidade da proposta, a fim de que os mecenas pudessem patrociná-la. Afinal, no período do Renascimento, os artistas viviam do apoio financeiro de mecenas, nobres burgueses que patrocinavam os artistas para que retratassem a eles e a suas famílias, a fim de conseguir status e representatividade social (principalmente a burguesia que não tinha título de nobreza e ainda estava alcançando esse lugar). 

Eu e professores convidados formaríamos a banca examinadora, ou melhor, os mecenas interessados, a fim de selecionar dois projetos e seus respectivos protótipos: o mais criativo e o com maior impacto social. 

No segundo ano do projeto, no Pilar Instituto de Educação, contei com o apoio dos colegas das disciplinas de ciências e robótica. Informalmente, os estudantes poderiam consultá-los a fim de tirar dúvidas, pedir referências para as pesquisas e mostrar o que haviam descoberto. Tudo era feito fora do horário da aula, com espaço para apresentar cada etapa. Ao todo, o projeto dura, em média, quatro semanas.

O projeto mostra que a ciência não está tão longe da gente, que os meninos e meninas podem, sim, ser inventores. Os resultados até agora foram surpreendentes. Deixo abaixo alguns exemplos:

  • Um travesseiro antimosquito, com uma caixinha de som que emite uma frequência que só os insetos ouvem. A turma apresentou a pesquisa sobre como os inseticidas são poluentes e que essa alternativa ecológica nos protegeria de epidemias de dengue, por exemplo. Esta proposta ganhou a categoria de melhor invenção.
  • Um tênis com câmeras acopladas e fones bluetooth para apoiar pessoas com deficiência visual. Conforme o trajeto fosse feito, viriam os avisos: “início da calçada”, “fim da calçada”, “buraco à frente”. 
  • Um localizador com câmera para quem gosta de acampar. Você aponta para um bicho que não conhece e quer saber se é venenoso? Ele vai te trazer a informação. 
  • Uma cama hospitalar que vira de lado. Sabemos que esses móveis só sobem e descem, causando desconforto, e esse modelo traria a função para ajudar a locomover os pacientes. Foi pensado durante as aulas de robótica, com a produção de autômatos (máquinas que se movem sem eletricidade, como um relógio).
  • Um tecido com analgésico para ajudar quem tem dores. A substância é liberada aos poucos. O projeto foi feito pelo grupo com uma aluna que passa por isso em casa: sua mãe tem fibromialgia.
  • Um smartwatch (relógio inteligente), para apoiar as pessoas na comunicação em Libras (Língua Brasileira de Sinais), tanto para traduzir quanto para dar informações de como responder. Este invento ganhou a categoria de mais criativo. 

Neste link, você pode assistir aos vídeos com os inventos da turma deste ano

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) propõe interdisciplinaridade, relação com o cotidiano e a realidade do estudante, bem como seu protagonismo. O projeto “Invenções do Renascimento” possibilita colocar em prática todas essas orientações, com três objetivos principais: ampliar o olhar dos alunos para a investigação científica; trazer para a prática os conceitos de “empirismo” (experiência real) e, claro, experimentar o “espírito curioso” do homem renascentista.

Acredito na pedagogia ativa, que coloca os alunos como coautores de experiências pedagógicas e protagonistas de seu próprio aprendizado. Acredito também na mão na massa, ainda mais hoje, com tantos celulares e computadores. Alguns alunos me disseram: “Professora, acho que não sou criativo”. E minha resposta sempre é: “Todo mundo é criativo, você só não se permitiu ser criativo ainda”. É muito legal apoiar a turma a ter consciência do próprio potencial. Afinal, ser professor é tratar a disciplina da maneira mais interessante possível. 


Débora de Castro Andrade Rosa

Professora de história, pós-graduada pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul, em "A moderna educação". Atua há mais de 10 anos na rede pública e particular do interior de Minas Gerais. Atualmente, leciona no ensino fundamental, médio e superior.

TAGS

aprendizagem baseada em projetos, educação mão na massa, empreendedorismo, ensino fundamental, Finalista Prêmio Professor Porvir, Prêmio Professor Porvir

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