Mais da metade dos jovens dizem ter ficado para trás nos estudos
Na terceira edição da Pesquisa Juventudes e Pandemia, jovens de 15 a 29 anos apontam dificuldade com acesso à tecnologia, a organização para a rotina de estudos em casa ou mesmo com o trabalho. Além disso, chamam a atenção para a saúde mental e o exagero no uso de redes sociais.
por Redação 27 de setembro de 2022
Metade dos estudantes brasileiros de 15 a 29 anos ficou para trás no aprendizado durante a pandemia. Este é um dos principais resultados da terceira edição da pesquisa Juventudes e Pandemia, coordenada pelo Atlas das Juventudes e realizada em parceria com o Em Movimento, CONJUVE (Conselho Nacional da Juventude), Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Rede Conhecimento Social, Unesco, Porvir e Visão Mundial com apoio de Itaú Educação e Trabalho, GOYN SP, Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e Fundação Roberto Marinho.
A pesquisa coletou 16.326 respostas de jovens de todo o país entre julho e agosto de 2022. Além de educação, também abordou vida pública, trabalho e renda e saúde. Entre os objetivos do trabalho, está a produção de novas evidências com e sobre jovens de diferentes regiões, vivências e realidades sociais, sobre os efeitos da pandemia e do contexto atual em suas vidas e na sociedade. Além disso, às vésperas do primeiro turno das eleições os dados buscam influenciar o debate democrático e subsidiar a construção de uma agenda pública a partir das prioridades para e com as juventudes.
De acordo com o relatório, 8 em cada 10 estudantes passaram a usar tecnologia tanto para estudar quanto para fazer pesquisas, indo além, inclusive, do conteúdo apresentado em sala de aula. Mas o contexto em que esse uso aconteceu foi de crise financeira e emocional. Por isso, um outro aspecto do levantamento ressalta que entre as principais demandas para o futuro da educação estão acompanhamento psicossocial, políticas de bolsa de estudos e auxílio estudantil.
Thaís Duarte, estudante de licenciatura em educação do campo pela UFERSA (Universidade Federal Rural do Semiárido), em Mossoró (RN), participa desde a primeira edição da pesquisa e conta que, durante o pico da pandemia, um de seus maiores medos estava relacionado à adaptação para os estudos em casa e sobre o que esperar do futuro.
Confira o lançamento da pesquisa
“Eu não sabia o que ia fazer para continuar estudando porque tive que conciliar trabalho com os estudos e minha vida dentro de casa. Estava sendo bem complicado”, comenta.
A estudante chegou a trancar a faculdade por um período por não estar dando conta dos estudos e do restante das outras obrigações, acompanhado da necessidade de adaptação às aulas online. “Agora estou sentindo na pele, porque deveria estar me formando”, diz.
E Thaís não foi a única a viver essa incerteza. De acordo com a pesquisa, 45% dos jovens deixaram a escola ou faculdade entre 2020 e 2021, mas retornaram. O relatório também destaca que 11% dos respondentes ainda pensam em parar de estudar.
Mariana Lima, estudante que também participa da pesquisa desde o começo, conta que percebeu que seu aprendizado foi reduzido e comprometido durante o período de aulas remotas. “Felizmente eu não precisei trancar a faculdade, porque meu curso se adaptou ao modelo remoto. Como ainda estava no início, as matérias eram mais teóricas, com direcionamento para leitura, então não me prejudicou tanto”, conta Mariana.
Vida pública e democracia
Quando se trata das perspectivas sobre democracia e vida social, os jovens também têm o que dizer. Os dados levantados apontam que 82% dos jovens de 15 a 29 anos dizem que vão levar suas visões de futuro para as urnas este ano.
Eles também consideram que, com a pandemia, o assunto ganhou importância entre as pessoas. Os jovens passaram a verificar a veracidade de informações e monitorar a implantação de políticas públicas, por exemplo. Entre as áreas que os candidatos devem priorizar estão educação (63%), saúde (56%), economia, trabalho e renda (49%) e redução das desigualdades (25%).
Marisa Villi, diretora executiva da Rede Conhecimento Social, uma das instituições correalizadoras da pesquisa, destaca que a inclusão de uma temática sobre aspectos políticos se dá muito por conta do período em que o país está vivendo. “A gente fez essa escolha pensando em como a pesquisa poderia contribuir para uma perspectiva de fortalecimento da democracia. Trazer informações sobre voto tem a ver com produzir informações e evidências que ajudem não só as juventudes, mas também quem está tomando decisões sobre políticas públicas”, afirma.
Ela também pontua que esta edição ajuda a olhar para o futuro. “Quando a gente tenta levantar hábitos e aprendizados adquiridos durante a pandemia, queremos responder à necessidade de entender como atuar daqui para frente a partir de uma perspectiva do que as próprias juventudes estão apontando como prioridade”, disse.
Saúde, Trabalho e renda
A pesquisa também trouxe dados sobre as expectativas e vivências desses jovens quando se pensa em saúde, trabalho e renda. Muitos deles começaram no mundo do trabalho ainda durante o período mais agudo de pandemia. 8 em cada 10 jovens estão otimistas em relação às oportunidades de qualificação profissional, e 6 a cada 10 disseram que é possível ter produtividade sem que necessariamente estejam de forma presencial nos trabalhos.
Quanto à saúde, 8 em cada 10 jovens acreditam que a pandemia ainda não acabou. A saúde mental também ganhou notoriedade no debate. 74% dos jovens apontaram que oo tema está agora mais inserido na sociedade. A ansiedade aparece com um dos efeitos recordistas desse período na vida dos jovens (65%). Uso exagerado de redes sociais e cansaço constante também apareceram como outros elementos de impacto durante a pandemia.