Brasil tem duas escolas entre melhores do mundo. E são públicas - PORVIR
Escola Municipal Professor Edson Pisani/Reprodução

Inovações em Educação

Duas das melhores escolas do mundo estão no Brasil. E são públicas

Uma das principais premiações internacionais da educação, o World’s Best School Prizes 2023 reconhece o trabalho de duas escolas do país: uma em Carnaubal (CE) e outra em Belo Horizonte (MG)

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 4 de novembro de 2023

O que as cidades de Carnaubal, no interior do Ceará, e Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, têm em comum? Ambas abrigam as melhores escolas de todo o mundo, eleitas pelo o World’s Best School Prizes de 2023 (Prêmio Melhores Escolas do Mundo, em tradução livre), um dos principais reconhecimentos internacionais da área educacional. O anúncio foi feito neste sábado (4), durante cerimônia online.

A Escola Municipal Professor Edson Pisani, de Belo Horizonte (MG), venceu a categoria “Escolha da comunidade”, obtendo o maior número de votos entre todas as escolas finalistas, e a EEMTI (Escola de Ensino Médio em Tempo Integral) Joaquim Bastos Gonçalves, de Carnaubal (CE), ganhou a categoria “Apoio a vidas saudáveis”.


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Promovida pela T4 Education em colaboração com Fundação Lemann, Accenture e American Express, a iniciativa reconhece e apoia práticas inovadoras. Ao todo, mais de 1.200 escolas em todo o mundo se inscreveram. O prêmio total, de US$ 250 mil (cerca de R$ 1,3 milhão), é dividido em cinco categorias: “Colaboração comunitária”, “Ação ambiental”, “Inovação”, “Superação da adversidade” e “Apoio a vidas saudáveis”. Confira, neste link, todos os finalistas (em inglês).

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Quando a comunidade faz a diferença

Aglomerado da Serra, na zona sul de Belo Horizonte, é uma das maiores e mais antigas comunidades brasileiras: conta com mais de 120 mil habitantes. Há 30 anos, a Escola Municipal Professor Edson Pisani tem sido cenário de transformações sociais do território. A capacidade da equipe escolar em mobilizar alunos, famílias e vizinhos levou à parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Juntos, alcançaram soluções que passam do mapeamento dos problemas hídricos à criação da linha de ônibus que liga a comunidade ao metrô. 

No início dos anos 2000, as obras públicas do programa Vila Viva incluíam o alargamento da rua onde está localizada a escola, e, por consequência, o deslocamento das famílias ali instaladas. A escola convidou os engenheiros e arquitetos do projeto para as reuniões comunitárias e, com um abaixo assinado e o apoio das Faculdades de Arquitetura e Direito da UFMG, conseguiram com que ninguém precisasse ser removido de suas casas. 

Assista ao vídeo de apresentação da escola:

Atualmente, o projeto “Mais favela, menos lixo” envolve os alunos do ensino fundamental e da EJA (Educação de Jovens e Adultos) em um projeto com a Faculdade de Arquitetura. Em depoimento à Nova Escola, a professora Floricena Estevam Carneiro da Silva, que lidera as atividades, afirmou: “A temática do lixo surgiu em encontros e discussões que realizamos para mapear os problemas coletivos. Há lixo em todo lugar, tanto na escola como na comunidade. Por isso, partimos dessa ideia para propor soluções para essa problemática”.

Floricena também contou o quanto as famílias reconhecem o trabalho e confiam na equipe escolar. “Elas veem a escola como um espaço muito positivo para elas e para seus filhos. Por isso, valorizamos muito as ações que ultrapassam os muros da escola e chegam até a comunidade”.

O prêmio oferecido à Escola Ministro Professor Edson Pisani é fazer do projeto “Melhor Escola para Trabalhar” da T4 Education, um mecanismo que busca certificar a cultura escolar e ajuda a transformar o ambiente de trabalho para atrair e reter os melhores professores.

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Saúde mental é assunto da escola

A pandemia deixou marcas profundas em todo o mundo, e a escola também sofreu com todas as implicações causadas pelo período de distanciamento social. A EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves, localizada em Carnaubal, município cearense com pouco mais de 18 mil habitantes, desenvolveu o projeto “Adote um estudante”, em 2021. A iniciativa busca identificar quem precisa de apoio socioemocional com a assistência de um psicólogo profissional, além de apoiar a comunidade a entender a importância do debate sobre saúde mental. 

O diretor da escola, Helton Souza Brito, explicou à Nova Escola que, apesar de contarem com profissionais de psicologia na unidade escolar, decidiram buscar psicólogos voluntários para atender às diversas demandas, dos estudantes e da equipe escolar, pós-pandemia. Mais de 40 profissionais apoiaram o projeto.

“Fazemos a identificação dos pacientes por meio das famílias, dos professores, colegas, amigos ou até mesmo da própria pessoa. A partir disso, começamos o acolhimento. No momento em que os jovens e a família estão cientes dos próximos passos, os atendimentos são realizados de forma online, a depender da disponibilidade de cada um”, contou.

Assista ao vídeo de apresentação da escola:


Atualmente, menos de 10 alunos continuam a ser assistidos. E quem já foi atendido relata melhorias na autoestima e bem-estar, o que resulta, consequentemente, em um melhor desempenho acadêmico. “Conseguimos observar o impacto do projeto ao acompanhar os alunos que ainda estudam na escola, já que a maioria consegue se inserir nos grupos artísticos, esportivos e permanecer no espaço escolar. As famílias dão retorno sobre o trabalho e agradecem o suporte dado, então percebemos que o nosso trabalho se reflete diretamente neles”, pontuou Helton.

Com o prêmio de US$ 50 mil (aproximadamente R$ 247 mil), a escola deve criar uma sala exclusiva para atendimento dos professores, alunos e equipe escolar.

Vikas Pota, fundador da T4 Education e dos Prêmios Melhores Escolas do Mundo, parabeniza as escolas brasileiras pela conquista. “Meus mais sinceros parabéns à EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves e à Escola Municipal Professor Edson Pisani. Educadores de todo o mundo devem olhar para os exemplos brilhantes de suas escolas na diferença que vocês fizeram em tantas vidas. E os governos devem olhar para o trabalho pioneiro que vocês fizeram enquanto buscam respostas para os grandes desafios que enfrentamos hoje. Onde vocês lideram, eles devem seguir. Este momento tremendo para as escolas brasileiras foi possível graças à liderança, à visão e à cultura que suas escolas promoveram”, comemora.

Outras categorias

Na categoria de “Superação das adversidades”, a vencedora foi a escola Max Rayne Hand in Hand, de Jerusalém, uma instituição bilíngue e integrada de judeus e árabes em Israel. Esse reconhecimento acontece em um contexto em que milhares de palestinos foram mortos e centenas de israelenses foram feitos reféns pelos militantes em Gaza desde o início da guerra entre Israel e Hamas há quase um mês. 

A liderança da escola reflete a diversidade de seu corpo discente, com um diretor árabe para o ensino fundamental e um diretor judeu para o ensino médio. Além disso, há uma representação igualitária de funcionários judeus e árabes, que trabalham juntos para criar um ambiente de aprendizado inclusivo.

Ao site Irish News, Dani Elazar, diretor executivo da Hand in Hand – que também administra uma rede de escolas bilíngues e multiculturais judaico-árabes em Israel, disse que o atual momento não é de celebração. “Esperamos que a conquista deste prêmio aumente a conscientização das pessoas de que existe uma alternativa ao ódio e ao medo. Todas as crianças desta terra merecem um futuro melhor. E a união de todos é a única maneira de alcançá-lo.” A escola pretende usar o dinheiro recebido para apoiar a formação de professores e para campanhas de conscientização para igualdade.

O prêmio “Colaboração comunitária” foi para o SPARK Soweto, localizado na comunidade sul-africana onde o ex-presidente Nelson Mandela já viveu. A instituição foi reconhecida por ensinar aos alunos como votar, reduzir a poluição por resíduos e abordar a violência baseada em gênero. Seus alunos também ensinam crianças mais novas a ler.

A Institución Educativa Municipal Montessori com sede em San Francisco, na cidade de Pitalito (Colômbia), ganhou o prêmio de ação ambiental por um programa estudantil que transforma resíduos de polpa de café em produtos ecológicos, como sabão orgânico.

O prêmio de inovação foi para a Riverside School em Ahmedabad, Índia, por sua abordagem centrada no aluno e programa voltado para o cultivo de empatia, criatividade e responsabilidade social. Você pode conhecer mais sobre essa escola na Série Destino Educação do Canal Futura, que teve apoio do Porvir e patrocínio do SESI (Serviço Social da Indústria). 


Histórico

Em 2022, três escolas públicas brasileiras ficaram entre as finalistas. Uma delas é a Escola de Ensino Fundamental Evandro Ferreira dos Santos, em Cabrobó, no sertão de Pernambuco. O projeto que dá suporte aos pais e mães que não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever, alfabetizando-os por meio da EJA (Educação de Jovens e Adultos), foi noticiado aqui no Porvir e recentemente venceu o Prêmio LED – Luz na Educação, na categoria votação popular. Sua responsável, a professora e diretora Elineide Alves, esteve entre as homenageadas da exposição “Encontro com o Porvir: trajetória de educadores que transformam o presente e constroem o futuro”.

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