Pesquisa revela quem são os estudantes e os professores da rede pública
Material consolidado pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) está disponível para download
por Ruam Oliveira 25 de abril de 2022
Quarenta e seis por cento dos estudantes da rede pública, tanto do 5º como do 9º ano, e também do 3º ano do ensino médio, se autodeclaram pardos. Dezessete por cento dos alunos do 5º ano dizem dedicar mais de duas horas por dia com estudos fora da sala de aula. Nove por cento dos estudantes do 3º ano do ensino médio não sabem o que farão após concluírem a educação básica.
Esses são apenas alguns dos dados colhidos pelo Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) em 2019. Eles ajudam a entender quem são os estudantes da rede pública brasileira, como estão pensando o futuro e como enxergam a educação que recebem.
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A análise de dados é importante para compreender o cenário geral e projetar ações que melhorem a qualidade de ensino. No caso da educação básica, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) realiza o Saeb a cada dois anos com estudantes do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e alunos do 3º ano do ensino médio. Além disso, professores, gestores e secretários de educação também participam respondendo ao questionário.
Considerando essas informações, o Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) lançou recentemente três livretos contendo detalhes destacados sobre os perfis de estudantes e professores da rede pública e o que pensam professores e gestores sobre avaliações externas.
Percepções e anseios
Quando se trata de olhar para o futuro, por exemplo, o material traz o dado de que 77% dos estudantes do 3º ano do ensino médio planejam continuar estudando e trabalhando após concluírem essa etapa de ensino. Os índices mais altos dentro deste recorte estão no Distrito Federal (80%), São Paulo (80%) e em Santa Catarina (81%).
“É importante iniciar uma cultura de olhar para dados contextuais. Temos muitas informações nos questionários do Saeb, mas muitos gestores ainda se debruçam apenas nos resultados das avaliações de aprendizagem”, afirma Ernesto Faria, diretor do Iede.
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O livreto que apresenta o perfil dos estudantes também traz dados referentes à raça/cor, tempo gasto com deslocamentos até a escola, nível de escolaridade de pais e mães e participação destes na vida escolar dos alunos.
Professores e professoras são atores fundamentais da pesquisa. Ao traçar o perfil desses educadores, os dados apontam que 58% deles atuam apenas em uma escola, enquanto 42% trabalham em duas ou mais.
Os números níveis de satisfação e percepção sobre a valorização da carreira. Para 51% dos respondentes, as vantagens da profissão superam as desvantagens e 80% dos docentes apontaram estar satisfeitos com o trabalho.
No entanto, apesar de satisfeitos, 80% dos docentes não concordam com a afirmação de que a profissão é valorizada pela sociedade.
De acordo com o relatório, 90% dos docentes disseram que a carreira docente era um sonho. Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Paraíba aparecem com as maiores porcentagens para essa resposta: 92%.
Em relação à rotina de trabalho, a carga horária pode soar alarmante: 43% dos professores da rede pública apontaram que trabalham mais de 40 horas semanais.
“Uma carga horária excessiva é outro sinal de sobrecarga. Termos mais de 40% dos professores com mais de 40 horas de trabalho semanais é preocupante. Seria preciso explorar detalhes: uma carga horária próxima de 40 horas é diferente de outra muito acima disso. O reverso da moeda é a alta proporção de jornadas diminutas, possivelmente associadas a contratos precários e à necessidade de vários empregos”, diz Fábio Waltenberg, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e pesquisador do Centro de Estudos sobre Desigualdade e Desenvolvimento.
Avaliações externas
Quando o assunto são as avaliações externas, os professores se mantêm otimistas. Para 75%, tais avaliações têm ajudado a melhorar o processo de ensino aprendizagem e direcionado o que deve ser ensinado nas escolas. Muitos deles (quantos?) discordam que a quantidade de avaliações externas seja excessiva.
Do ponto de vista da gestão, 96% dos diretores de escolas afirmaram levar em consideração os resultados dessas avaliações e 92% acreditam que os estudantes estão preparados para a realização deste tipo de exame.
O material que contextualiza as percepções de professores e diretores sobre essas avaliações também traz dados sobre a implementação de formações no campo da avaliação de aprendizagem e se existem metas para indicadores externos como ideb ou índices estaduais.