Os 8 temas mais importantes para a escola em 2025 - PORVIR
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Inovações em Educação

Os 8 temas mais importantes para a escola em 2025

O Porvir revisitou sua cobertura recente e conversou com especialistas em educação para entender o que deve ser oferecido aos estudantes neste ano letivo

por Ana Luísa D'Maschio / Vinícius de Oliveira ilustração relógio 10 de janeiro de 2025

O ano de 2024 foi marcado por acontecimentos que impactaram diretamente a educação. O uso da inteligência artificial surgiu como uma nova possibilidade para o planejamento pedagógico, com o apoio de ferramentas que facilitam a vida dos professores, incluindo aqueles que estão no estágio inicial e desejam se aperfeiçoar.

Ainda no campo da tecnologia, intensificaram-se as discussões nacionais sobre a restrição do uso de celulares nas escolas do ensino básico em todo o Brasil. A medida, que se tornou projeto de lei aprovado pelo Senado, aguarda sanção presidencial para entrar em vigor.

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A resiliência escolar é outro assunto que também se destacou durante o ano mais quente já registrado no país. Secas severas atingiram a Amazônia e o Pantanal, enquanto enchentes catastróficas devastaram o Rio Grande do Sul. Em 2024, as mudanças climáticas saíram do campo da ciência e passaram a afetar diretamente o cidadão comum, tornando-se um debate prioritário nas escolas. No entanto, ainda há um longo caminho para que as instituições de ensino estejam plenamente preparadas para enfrentar desastres naturais, como mostra a nossa Série Escolas Resilientes, vencedora do 6º edital da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação). Vale lembrar, inclusive, que o estado do Pará se prepara para receber a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém, em novembro de 2025.

Esses são os temas centrais que seguem em destaque neste novo ano letivo, mas outros assuntos importantes também precisam estar no radar das escolas em 2025. O Porvir consultou especialistas para entender quais são as novas prioridades e como as escolas devem adaptar seus planejamentos para enfrentar as demandas do próximo ano.

1) Mudanças climáticas

As mudanças climáticas já são, e continuarão sendo, um tema central para a educação nos próximos anos, afirma Cinthia Rodrigues, jornalista e fundadora do projeto Quero na Escola. Para ela, o impacto desses fenômenos vai além da sala de aula e transforma as instituições em pontos estratégicos para a sociedade.

“A escola, como um local de convivência de muitas pessoas, acaba sendo impactada por esses eventos extremos, como o aumento das temperaturas. Além disso, é um espaço de solidariedade, podendo até servir como abrigo em situações extremas, como vimos recentemente. Por isso, ela precisa não só tratar dessas questões, mas também se preparar para lidar com as mudanças climáticas e mitigar os impactos desses eventos.”

Ela também destaca a importância da formação educacional para promover uma mudança de paradigma na relação da sociedade com o meio ambiente. “Precisamos que as pessoas se vejam como parte da natureza e entendam que os ecossistemas dos quais fazemos parte estão chegando a um ponto irreversível. A escola, como espaço de formação, precisa priorizar a continuidade da vida”, afirma.

Segundo Cinthia, as mudanças climáticas não são apenas um tema emergente, mas um dos maiores desafios para educadores e educadoras em 2025, ano em que acontece a COP no Brasil. “Quando escolhemos os temas que serão trabalhados na formação das pessoas, a prioridade deve ser a vida. Preparar as futuras gerações para enfrentar esses desafios é indispensável”, conclui.

Destaques para o planejamento 2025:

2) Celulares nas escolas

Para o planejamento 2025, espera-se que a discussão sobre o uso de celulares nas escolas vá além da simples questão da proibição ou permissão. Lúcia Dellagnelo, conselheira do Porvir e consultora do Banco Mundial em políticas de educação digital, defende que o debate deve se centrar no papel da tecnologia no desenvolvimento dos estudantes, e não na restrição de seu uso.

Para Lúcia, a tecnologia está presente de forma inegável nas vidas de crianças, adolescentes e adultos. Em vez de apenas proibir o uso de celulares, a discussão precisa envolver a reflexão sobre como utilizá-la de forma que favoreça o bem-estar, o desenvolvimento cognitivo, emocional e social de todos. “Precisamos ajudar estudantes, crianças e jovens a desenvolverem a autorregulação para usar a tecnologia de maneira ética e responsável”, afirma.

Proibir o uso dos dispositivos móveis, segundo Lúcia, não resolve questões mais amplas que enfrentamos na sociedade atual. “É fundamental que a tecnologia seja usada para o nosso benefício, e não para aumentar desigualdades sociais ou criar mais dificuldades”, argumenta.

Em vez de adotar uma postura reducionista, que se limita a perguntar “deve ou não ser permitido o uso de celulares?”, a proposta é educar os estudantes para que desenvolvam as habilidades necessárias para usar a tecnologia de forma ética e reflexiva. 

Lúcia também alerta para o erro de tratar o uso de celulares como sinônimo de redes sociais, lembrando que o dispositivo é uma ferramenta ampla que vai muito além da interação nas plataformas digitais, servindo também como recurso para acessar a internet e facilitar a comunicação. “Nós precisamos encontrar esse caminho que permita com que os jovens de hoje usem a tecnologia em favor do seu próprio desenvolvimento”, conclui.

Destaques para o planejamento 2025:

3) Inteligência artificial

Em 2024, a inteligência artificial alcançou marcos significativos na educação. Para o especialista Seiji Isotani, presidente da Sociedade Internacional de Inteligência Artificial na Educação (IAIED, na sigla em inglês), 2025 promete ser um ano ainda mais transformador, com a implementação de novas ferramentas que têm o potencial de mudar a forma como alunos e professores interagem com a tecnologia no ambiente escolar.

“Em 2024, tivemos a oportunidade de desenvolver e consolidar várias tecnologias de inteligência artificial para resolver problemas complexos na educação, não apenas no Brasil, mas globalmente”, destaca Isotani. “Tivemos avanços importantes, como a criação de soluções para expandir o acesso à IA em regiões com poucos recursos, além de ferramentas que apoiam a personalização do aprendizado.”

O especialista vê um grande potencial na introdução dos “learning companions” (companheiros de aprendizagem) para o planejamento 2025. Esse recurso utiliza um personagem animado que acompanha o usuário ao longo do tempo, conhecendo suas preferências. Foi criado para oferecer suporte prático, orientar e auxiliar nos estudos que o usuário realiza de forma independente em casa, utilizando o computador para aprender o que desejar. “Professores e alunos terão a oportunidade de trabalhar com agentes digitais que vão colaborar para que os estudantes aprendam de forma mais eficaz, busquem seu bem-estar e sigam suas carreiras”, afirma.

Seiji ressalta que os “learning companions” não são apenas uma ferramenta para os alunos. Eles também irão ajudar os educadores a produzir materiais personalizados e pensar de maneira inovadora para criar abordagens pedagógicas mais eficientes. “Esses agentes vão permitir que professores criem materiais de forma mais criativa, além de contribuir para que os estudantes se sintam mais motivados e preparados para os desafios da educação.”

Para ele, o uso da inteligência artificial na educação é um passo fundamental para construir um sistema mais inclusivo e acessível. “É essencial que continuemos trabalhando para utilizar a IA de maneira responsável, garantindo que ela contribua para a construção de um país melhor, com uma educação mais equitativa e adaptada às necessidades de todos”, ressalta.

Destaques para o planejamento 2025:

4) Educação antirracista

Em um contexto de transformação educacional, a educação antirracista se consolida como um dos pilares essenciais para a construção de uma sociedade mais igualitária. Daniel Bento, diretor-executivo do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), destaca a importância de um investimento contínuo em formação e aprofundamento nesse campo, como um meio de repensar os próprios fundamentos da educação no Brasil.

Daniel ressalta que a educação antirracista vai além da abordagem de temas sobre racismo nas escolas, sendo um processo de reflexão sobre como a educação deve ser estruturada em seu conjunto. “É necessário olhar para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, especialmente após modificações importantes, como as leis 10.639/03 e 11.645/08, que trouxeram a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena”, afirma.

Essas mudanças são vistas por Daniel como fundamentais para a construção de novas possibilidades pedagógicas, tanto no ambiente escolar quanto na gestão educacional, que deve ser sensível às questões raciais. O CEERT chegou a formar gestores em 140 municípios para trabalhar com essas questões. “Em 2024 e 2025, esperamos expandir esse trabalho para mais de 300 municípios, em parceria com o Ministério da Educação”, revela.

A ampliação das ações reflete a urgência de se repensar a educação brasileira à luz de uma nova perspectiva, que considere as desigualdades raciais como um desafio central. Daniel destaca a relevância da implementação do Plano Nacional de Educação, que será em breve aprovado, e a Política Nacional de Equidade, também lançada pelo Ministério da Educação. Essas iniciativas buscam estabelecer metas e métricas claras para promover a equidade racial, incluindo a educação das relações étnico-raciais e a educação escolar quilombola.

“A educação antirracista precisa ser uma prioridade em todas as esferas, tanto nas redes públicas quanto nas escolas privadas”, conclui Daniel. Para o planejamento 2025 e além, ele reforça que é crucial que toda a sociedade esteja engajada na construção de uma educação que promova a equidade racial e a inclusão, para transformar o cenário educacional do país nos próximos anos.

Destaques para o planejamento 2025:

5) Ensino fundamental – anos finais

Com esforços do governo federal, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, escolas que oferecem os anos finais do ensino fundamental terão, com o programa Escola das Adolescências, apoio técnico-pedagógico e financeiro, incluindo a criação de guias temáticos e apoio financeiro com base em critérios socioeconômicos e étnico-raciais. Nesta etapa, os resultados de aprendizagem apresentam um declínio em relação aos anos iniciais e colaboram para dificuldades ainda maiores no ensino médio. 

Entre os objetivos do programa, está a redução das desigualdades educacionais e a adaptação do currículo e das práticas pedagógicas às demandas e contextos dos adolescentes, além do incentivo ao desenvolvimento integral dos estudantes e de ações para recompor aprendizagens (especialmente em língua portuguesa, matemática e ciências da natureza), com foco na redução da evasão e abandono escolar.

Os recursos financeiros são divididos em custos de capital e gastos com custeio. Os custos de capital incluem a criação de espaços para o desenvolvimento de clubes de letramentos (científico, matemático, literário e comunitário), enquanto os gastos com custeio destinam-se à aquisição de insumos e recursos didático-pedagógicos para apoiar as atividades e intervenções pedagógicas nas escolas. 

Teresa Farias, coordenadora de ensino fundamental no Ministério da Educação, destaca a importância de refletir sobre os anos finais, especialmente devido ao momento de transição vivido pelos estudantes. Ela explicou que, ao longo dos anos do 6º ao 9º ano, os alunos estão entre a infância e a juventude, um período marcado por profundas transformações. “Nesse período de 11 a 14 anos, profundas e intensas mudanças acontecem tanto do ponto de vista do desenvolvimento humano desses estudantes quanto no sentido de experimentar uma nova e diversa forma de organização escolar”, aponta.

Destaques para o planejamento 2025:

6) Matemática

A realidade do ensino de matemática no Brasil é bem preocupante e cheia de desigualdades que já existem há bastante tempo. A maioria dos estudantes acha a matemática difícil, o que gera muita ansiedade, medo de errar e faz com que muitos acabem rejeitando a matéria. 

De acordo com o Pisa – avaliação promovida pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) –, cerca de 65% dos alunos de 15 anos no Brasil estão muito ansiosos com a matemática, e aproximadamente 64% se sentem incapazes de resolver problemas matemáticos. Essa ansiedade vem tanto de fora, como o apoio da família, quanto de dentro da escola, com experiências negativas em sala de aula. 

Além disso, os dados do SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) revelam disparidades significativas no aprendizado de matemática entre estudantes brancos e pretos, assim como entre diferentes níveis socioeconômicos. Por exemplo, no 5º ano do ensino fundamental, 65% dos estudantes brancos aprendem matemática no nível adequado, contra apenas 40% dos estudantes pretos. Já no ensino médio, apenas 11% dos estudantes brancos e 4% dos pretos alcançam o nível adequado em matemática. Os dados mostram que o modelo atual de ensino de matemática precisa e assumir um caráter mais regionalizado e contextualizado.

Neste ano, o Ministério da Educação, em parceria com professores e educadores de diferentes etapas, pesquisadores e acadêmicos especializados, associações da sociedade civil, fundações, o Conselho Nacional de Educação e o Fórum Nacional de Educação, deve lançar a Política Nacional de Fortalecimento do Ensino da Matemática estruturada em seis eixos fundamentais: governança, gestão estratégica, currículo, formação de professores, práticas pedagógicas e avaliação. 

Um foco importante dessa política é criar materiais didáticos que valorizem a diversidade cultural, reconhecendo as contribuições das populações indígenas e quilombolas. Além disso, haverá programas de formação continuada para 800 formadores de professores de matemática, com o objetivo de desenvolver práticas pedagógicas antirracistas e decoloniais. 

Nesse contexto, as escolas têm a responsabilidade de não apenas ensinar matemática, mas também de garantir que todos os alunos tenham a oportunidade de aprender, se desenvolver e utilizar a matemática como uma ferramenta para a vida. Isso exige um esforço coordenado de todos os atores da comunidade escolar, incluindo professores, gestores, alunos e suas famílias. No que se refere às práticas pedagógicas, elas devem considerar a diversidade cultural dos alunos e apresentar a matemática de forma contextualizada.

Destaques para o planejamento 2025:

7) Metodologias ativas

A avaliação de mais de 2 mil projetos nas duas edições do Prêmio Professor Porvir revela que, na prática, a educação básica ainda está muito presa ao modelo tradicional de ensino. As metodologias ativas, por outro lado, propõem algo bem diferente: uma aprendizagem mais personalizada, onde os alunos têm a liberdade de aprender sozinhos, em grupos ou com a ajuda de um mentor, muitas vezes usando as tecnologias que já fazem parte do seu dia a dia. Além disso, essa abordagem busca levar o aprendizado para contextos reais ou simulados, conectando a escola com a comunidade e a cidade.

O foco não é apenas garantir que os alunos aprendam conteúdos, mas também que desenvolvam habilidades importantes, como a resolução de problemas e a colaboração. Ou seja, a ideia é preparar os estudantes para os desafios do mundo real, indo além da simples memorização de informações.

No entanto, colocar as metodologias ativas em prática não é fácil. Há um grande desafio na mudança da cultura escolar, que envolve uma nova forma de trabalhar entre alunos, professores e gestores. Mesmo com todas as inovações que as metodologias trazem, o maior obstáculo é criar um ambiente onde todos, de fato, aprendam juntos e respeitem as diferenças. Isso exige que o professor se torne mais flexível e comprometido com essa transformação, e que os pais e a comunidade também participem ativamente do processo educativo.

Destaques para o planejamento 2025:

8) Educação financeira

A educadora e pesquisadora Cristiane Pessoa, professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), acredita que a educação financeira deve ser um componente essencial nos currículos escolares desde os anos iniciais. Para ela, esse tipo de ensino vai muito além da simples compreensão sobre dinheiro, sendo fundamental para o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre as dinâmicas sociais, políticas e econômicas.

“É importante, necessário e fundamental que a educação financeira seja inserida desde cedo”, diz. “A educação financeira que defendemos é sobre pessoas, muito mais do que sobre dinheiro. Ela envolve ensinar as crianças, desde pequenas, a entender o que é o capitalismo, o neoliberalismo, e como lidar com questões relacionadas à justiça social.”

A professora destaca que, ao introduzir a educação financeira nas escolas, os alunos são preparados para compreender questões cruciais que moldam a sociedade, como a distribuição de renda e a igualdade de oportunidades. “Devemos lutar por uma sociedade mais equânime e igualitária, onde todos tenham direito à justiça e à distribuição de renda.”Para Cristiane, a educação financeira precisa ser pensada de maneira holística, relacionando-se com aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos, éticos, sociológicos, filosóficos e até ambientais. “Nós acreditamos que é fundamental que crianças, jovens e até adultos sejam formados com uma visão coletiva, onde o bem-estar individual não esteja acima do bem-estar coletivo”, finaliza.

Destaques para o planejamento 2025:


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educação antirracista, educação financeira, ensino fundamental, ensino médio, matematica, metodologias ativas, socioemocionais

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