Professor de biologia usa tintas coloridas para ensinar funcionamento do cérebro - PORVIR
Crédito: Arquivo pessoal

Diário de Inovações

Professor de biologia usa tintas coloridas para ensinar funcionamento do cérebro

Para fugir de modelos didáticos pouco atraentes, educador de São Lourenço da Mata (PE) desenha os lobos cerebrais na própria cabeça, em aula para 2º ano do ensino médio

por Luiz Phillipe da Silva Simões ilustração relógio 2 de março de 2022

Sempre observei que as imagens do cérebro nos livros de biologia trazem uma perspectiva muito estática. Isso me incomodava, pois não desperta no aluno a necessidade de perguntar sobre os lobos cerebrais.

Falar do sistema nervoso já é algo complexo e se torna mais emblemático quando não dispomos de recursos didáticos que gerem impacto e significado ao estudante. Como sou careca, logo pensei: “Por que não recriar os lobos cerebrais em minha própria cabeça em forma de pintura?”

Para a turma do 2º ano do ensino médio aqui em São Lourenço da Mata (PE), elaborei minha aula sobre o sistema nervoso. Nela, criaria uma pintura em minha própria cabeça, retratando as partes do cérebro (lobos cerebrais). Convidei um ex-aluno que hoje trabalha comigo para realizar a pintura e de imediato ele topou.

Os modelos didáticos sobre o cérebro são feitos de plástico rígido, pouco coloridos e pouco atraentes aos olhos dos estudantes. Recriando os lobos cerebrais pintados em minha própria cabeça, estaria dando vida às partes que os estudantes do nível do ensino médio não conhecem, pela falta de acesso a um cérebro real. Assim, o momento se tornaria muito mais atrativo para o aprendizado.

Criei toda uma expectativa nos alunos para a aula sobre esse tema, dizendo a eles que na data marcada teríamos algo diferente. Utilizei recursos simples, tais como tinta de pele (usada por palhaços) e uma imagem dos lobos cerebrais já pintados em partes. A pintura foi realizada a dedo.

No dia marcado, estava eu com a cabeça toda pintada da forma que eu sempre desejei e planejei para uma aula inovadora e diferente de tudo aquilo que os estudantes estão acostumados.

Assim que eles me viram entrar na sala, criou-se um movimento de surpresa, espanto e impacto: percebi naquele momento que, mesmo sem ter ao menos iniciado a aula, o meu objetivo de levar o aprendizado e conhecimento sobre as partes (lobos cerebrais) foram atingidos.

Iniciei a aula justamente já trazendo a informação sobre o cérebro, pois a curiosidade dos alunos foi aguçada com aquela imagem que eles estavam vendo ali. De imediato, começaram as perguntas: “Por que as cores diferentes?, Por que algumas partes são maiores que outras?, Qual é o nome de cada parte?”

Diante desse bombardeio de perguntas, tive a certeza que o meu objetivo havia sido alcançado, pois em uma aula tão importante que é conhecer o sistema nervoso, a parte primordial do sistema iria passar despercebida, uma vez que as imagens do livro não transmitem realidade aos estudantes – tampouco causa o impacto de despertar a curiosidade sobre o órgão.

Consegui concluir todo o assunto de forma muito tranquila, pois os estudantes estavam tão focados na imagem que eles estavam vendo em mim que não perderam o foco da aula.

Trazer para a sala de aula situações que gerem uma aprendizagem significativa para os alunos é de suma importância, pois tenho certeza que essa aula nunca será esquecida por eles. Toda vez que puderem se deparar com uma imagem do cérebro, mesmo que ela não contenha a pintura que separa as partes, certamente vão conseguir discernir cada lobo cerebral e cada função.

Sendo assim, é de grande importância que as aulas sejam bem planejadas de acordo com cada realidade. Claramente, se eu fosse um indivíduo cabeludo, não iria conseguir êxito nesta aula.


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Luiz Phillipe da Silva Simões

Graduado em Ciências Biológicas (UFRPE), com especialização em Ensino de Ciências e Matemática (IFPE), trabalha no Centro Educacional Balão Mágico, em São Lourenço da Mata (PE). 

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ciências, ensino médio

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