Vida Severina ganha destaque em projeto de leitura e escrita
O poema Morte e vida Severina foi analisado, reescrito e encenado por alunos do 9º ano de uma escola de Paripiranga, no interior da Bahia
por José Souza dos Santos 23 de setembro de 2015
Eu trabalho na zona rural da Bahia, no interior mesmo, na comunidade de Antas do Raso (município de Paripiranga). Depois que eu participei do curso Caminhos da Escrita**, percebi a importância da leitura no desenvolvimento da habilidade escrita e oral.
No curso, eu desenvolvi um projeto que, depois de aprimorado, resultou no trabalho “O ator em cena: Morte e vida Severina”. A minha ideia era estimular o trabalho colaborativo entre os estudantes do 9º ano e desenvolver, de uma forma interessante, o hábito de leitura.
Primeiro, eu apresentei obras sobre retirantes. Falei que aqui na nossa comunidade existem Severinos, como no poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Aproveitei que eles já tinham lido a obra “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, e propus que realizassem uma analogia entre os personagens Fabiano e Severino.
No passo seguinte, os alunos leram e analisaram o poema, reconhecendo muitos elementos presentes na realidade em que vivem, como a questão migratória para o sudeste e a cultura das benzedeiras que curam mazelas, que ainda é muito forte. Além disso, descobriram questões que até então desconheciam, como o problema agrário da disputa de terras na região. Trazer um projeto que gerasse no aluno um sentimento de identificação foi uma das estratégias usadas para que eles quisessem e gostassem de participar das atividades.
Os estudantes realizaram um estudo dirigido com questões sobre o poema para, depois, elaborarem um mapa conceitual sobre o tema. Logo após a análise, eles colocaram a mão na massa. Leram o poema novamente e, em grupos, elaboraram cinco paródias contando sobre as realidades dos Severinos que eles conhecem e convivem. Essa experiência fez com que entendessem que o Severino do poema é uma metáfora para representar as mazelas que a população vive. No final da produção, apresentaram os trabalhos para a sala em um seminário de leitura e discussão.
Para encerrar o projeto, eu propus que os alunos encenassem partes do poema. Todos ficaram muito felizes com a ideia. Eles dividiram os papeis e espalharam cartazes pela escola para divulgar a peça. A encenação foi essencial para trabalhar a oralidade de cada um.
Nós fomos convidados para apresentar a peça fora em outras escolas da região e em uma universidade. Todos os alunos que participaram do projeto ficaram muito entusiasmados.
Quando eu propus o trabalho em grupo, houve um pouco de resistência, porque trabalhar com o outro significa casar ideias, o que é difícil. Mas, aos poucos, quando eles identificaram as semelhanças com a realidade que enfrentam, a participação aumentou. O trabalho colaborativo foi uma das partes mais interessantes do projeto, porque cada um deu seu entendimento sobre o tema.
Com a realização dessas atividades, os alunos perceberam que a receita para escrever bem é ler. Todo escritor também é um leitor.
**Caminhos da Escrita é um curso online para formação de professores, que faz parte da Olimpíada de Língua Portuguesa “Escrevendo o Futuro”, iniciativa da Fundação Itaú Social e do Ministério da Educação (MEC), sob coordenação do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).
José Souza dos Santos
José Souza dos Santos é professor de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental II, no município de Paripiranga, Bahia. É licenciado em Letras vernáculas e pós-graduado em Estudos Linguísticos e Literários. Tem experiência em análise do discurso e em ensino superior EAD.