Professora supera internet lenta e ajuda turma a criar jogo campeão
"O Sonho do Imperador", que conta a história da cidade de Petrópolis, foi escolhido pela prefeitura do Rio de Janeiro como a melhor solução desenvolvida na plataforma FazGame
por Odette dos Santos Sacramento 2 de março de 2016
A prefeitura apresentou a plataforma FazGame (software que permite a criação de games educacionais por aluno e professores) aqui na Escola Municipal Haydea Vianna Fiuza, no Rio de Janeiro e foi criado um concurso no qual as Escolas do Amanhã* deveriam criar e apresentar games, seguindo alguns critérios. Mesmo sendo professora da educação infantil, eu acabei entrando nessa e resolvi desenvolver dois jogos com duas turmas diferentes: uma de terceiro ano do ensino fundamental e outra do quinto. Quando vi a (cofundadora) Carla Zeltzer apresentando a plataforma, pensei “gente, isso é um ganho. Os alunos vão trabalhar com games, são pré-adolescentes, que não têm acesso a internet em casa. Aqueles que jogaram videogame, jogaram em Lan House, então pronto, eles vão explodir de felicidade”.
Aqui na escola nós temos problemas de infraestrutura. Além de não ter computador suficiente para uma turma inteira, a internet é bem devagar. Com várias máquinas conectadas, a conexão caía e não dava para jogar. Por isso, eu pedi que a professora da turma indicasse os alunos que ela achava que deveriam participar do projeto. No total, foram seis estudantes do quinto ano.
Demorou uma semana de trabalho para convencer os alunos e fazê-los acreditar que realmente iriam criar um game. No começo, eles acharam que ia ser uma coisa tipo videogame, tipo esses de aventura, de correr e pular. Quando viram que não seria bem assim, perguntaram: “Como a gente vai fazer isso? Como alguém vai aprender assim?”. Mas eu fui conversando e expliquei “Olha, vocês vão estudar, mas têm o computador pra fazer isso”. Pronto. Eles não queriam saber de outra coisa.
Então eu propus que os alunos do quinto ano trabalhassem com história. A grade curricular já tinha sido toda cumprida, deixando tempo para trabalharmos conteúdos que não são aprofundados em sala de aula. O jogo que nós criamos, “O Sonho do Imperador”, se passa em Petrópolis, uma cidade distante da realidade deles, com toda uma parte histórica que não faz parte do currículo normal. Os estudantes fizeram uma primeira pesquisa para ver se o tema iria interessar mesmo e, quando viram que o assunto valia a pena, toparam a ideia.
No primeiro encontro, expliquei para eles como o projeto ia se desenvolver. Eles viram e jogaram outros games que já estavam prontos na plataforma. Depois, fizemos uma pesquisa sobre os assuntos que iríamos desenvolver. Como eles já são um pouco mais velhos, já se dividiram em grupos: um pesquisou sobre o local, enquanto o outro tratou de um aspecto que achava interessante sobre aquele local (identificado pelo primeiro grupo). Em seguida, fizemos uma reunião para formular as questões do game.
Esse projeto foi algo diferente. Nós somos uma escola da comunidade, então além das dificuldades de aprendizagem, que são muito grandes, qualquer coisa que a gente traga de novidade ajuda muito no trabalho. Foi uma oportunidade diferente, de juntar conhecimento com tecnologia. No começo, eles achavam que estavam ali para brincar. Foi algo como “eu vou jogar, vou ficar no computador e fazer o que eu quero”. No final, eles já sentiram que não era isso, que tinham um papel importante a ser feito. Mexeu muito com a turma saber que aquilo que estavam fazendo iria ajudar outras pessoas a aprender. A disposição para a aprender e poder ensinar foi muito legal.
O projeto todo foi realizado em mês, de novembro a dezembro do ano passado. É um período conturbado, época de prova, final de ano. Mas sentir que eles estavam realmente interessados em fazer acontecer valeu a pena.
No final disso tudo, “O sonho do imperador” foi classificado como melhor game desenvolvido. Nós colocamos o projeto em prática em um curto espaço de tempo, com uma infraestrutura que não era tanta, e conseguimos. Poxa, tudo bem, não foi com uma turma toda, mas os alunos chegaram lá, eles conseguiram. A ideia é fazer com a turma toda em 2016. Nós vamos colher os frutos.
*Escolas do Amanhã é um programa da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, criado em 2009, com o objetivo de reduzir a evasão escolar e mudar a realidade dos alunos que moram em áreas conflagradas da cidade.
Odette dos Santos Sacramento