Programa aproxima professor e família para melhorar desempenho e atitudes do aluno na escola e em casa - PORVIR
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Inovações em Educação

Programa aproxima professor e família para melhorar desempenho e atitudes do aluno na escola e em casa

Iniciativa da Universidade de Nebraska (EUA) busca desenvolver habilidades socioemocionais e promover o desenvolvimento acadêmico por meio do engajamento familiar

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 13 de julho de 2020

O acolhimento dos alunos na volta às aulas presenciais, suspensas após a pandemia do coronavírus (COVID-19), reforça a necessidade de aproximação cada vez maior entre família e escola. Nos Estados Unidos, bem antes da paralisação, um programa desenvolvido pela Universidade de Nebraska já apostava nesta abordagem para tratar de questões socioemocionais e melhorar resultados acadêmicos de crianças desde a educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental. Chamado TAPP (Teachers & Parents as Partners), que em português pode ser traduzido como Parceria entre a Família e a Escola, ele atua para resolver questões socioemocionais específicas da criança que estejam interferindo no seu desempenho acadêmico por meio de uma comunicação estratégica entre o professor e a família.

“A família é o principal contexto no qual uma criança interage e os pais são as principais figuras de interação e aprendizado. Já as escolas são o segundo ambiente de aprendizagem em que as crianças transitam e, por isso, os professores estão em um local único para o desenvolvimento das habilidades das crianças”, diz Susan M. Sheridan, diretora do Nebraska Center for Research on Children, Youth, Families and Schools (Centro de Pesquisa em Infância, Juventude, Famílias e Escolas de Nebraska), organização de pesquisas interdisciplinares sobre desenvolvimento positivo da criança, sucesso educacional e apoio às famílias, escolas e comunidades. “Os professores têm todo o conhecimento necessário sobre as dificuldades e problemas que precisam de intervenção”, afirma.

Baixe: Resumo do funcionamento do programa (PDF em português)
Conheça a série do Porvir sobre engajamento familiar

Como funciona

O plano de intervenção é implementado simultaneamente em casa e na escola. O especialista no TAPP, o professor e os pais se reúnem três a quatro vezes em aproximadamente oito semanas. A duração da intervenção pode variar dependendo dos objetivos individuais que foram traçados. Pais e professores coletam informações sobre os problemas de comportamento do aluno e identificam quais os fatores que estão contribuindo para a ocorrência desse comportamento.

A partir desse momento, é traçado um plano conjunto de intervenção que busca atingir as metas de aprendizagem e/ou comportamentais dos alunos. As ações valem tanto para casa quanto para escola. Por exemplo, se um aluno precisar ter o seu comportamento monitorado por mais tempo do que o estabelecido anteriormente, pais e professores entram em um acordo e, consequentemente, uma determinada atividade do TAPP é mantida por mais tempo. A mudança para a próxima etapa é feita apenas quando todos os objetivos da etapa anterior são alcançados com sucesso.

“Por exemplo, se um aluno precisar ter o seu comportamento monitorado por mais tempo do que o estabelecido anteriormente, pais e professores entram em um acordo de forma conjunta e, consequentemente, aquela etapa do TAPP é mantida por mais tempo. A mudança para a próxima etapa é feita apenas quando todos os objetivos da etapa anterior são alcançados com sucesso”, diz Susan.

O programa trabalha em quatro eixos: identificação e priorização da aprendizagem e necessidades comportamentais; escolha de objetivos e estratégias para o ambiente escolar e em casa; implementação de um plano de ação conjunto e, por fim, a avaliação e monitoramento. Durante esse processo, que dura cerca de oito semanas, um profissional especializado na abordagem acompanha o professor em visitas às famílias, em três a quatro sessões. Pais e professores coletam informações para desenvolver, em conjunto, um plano de intervenção que busca atingir as metas de aprendizagem e/ou comportamentais dos alunos.

Doutoranda na Universidade de Nebraska, a brasileira Renata Trefiglio Mendes Gomes começa em breve um trabalho em São Paulo (SP), em parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), para implementação do TAPP em escolas públicas. “Para saber se o TAPP é efetivo no Brasil, é preciso primeiro fazer um estudo-piloto. A implementação vai seguir padrões internacionais de intervenções comportamentais. Primeiro, com um grupo focal de pais e professores para entender as percepções e retornos sobre como a implementação deve ser feita”, descreve Renata. Em seguida, um pequeno grupo de estudantes de escolas públicas de São Paulo (SP), acompanhados de seus pais e professores deverão ter contato com o a abordagem do TAPP.

Resultados positivos

Nos Estados Unidos, TAPP é adotado em todos os tipos de famílias, em diferentes níveis socioeconômicos, idioma ou outras características que dificultam o envolvimento na aprendizagem e na escolaridade, como no caso de imigrantes latinos em que a criança é a primeira integrante a falar inglês. “Levamos em consideração a realidade de cada família para desenvolver seus pontos fortes e apoiar as crianças, criando ou aperfeiçoando esse relacionamento”, disse Susan.

Ao longo dos últimos 20 anos, o TAPP tem mostrado impacto positivo, segundo pesquisas Universidade de Nebraska. Para Susan, os benefícios podem ser notados no aprimoramento de comportamentos acadêmicos, como por exemplo o tempo de participação ativa e conclusão de tarefas, melhora de comportamentos sociais, incluindo as habilidades de autocontrole e autorregulação.

Além disso, alunos que participam do programa também têm demonstrado redução de problemas de comportamento, como por exemplo atitudes desafiadoras, de provocação e impulsividade e uma consistência comportamental entre o ambiente doméstico e escolar. Este último quesito, aliás, tem um histórico negativo no Brasil. Dados de 2015 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontam que os docentes brasileiros foram os que relataram ter mais alunos com problemas de comportamento. O Brasil também aparece no levantamento como a nação em que mais tempo de aula é perdido para manter a disciplina. Como uma das soluções a organização sugere justamente uma maior participação de alunos, professores e pais nas decisões da escola, tema que você pode encontrar aqui no Porvir tanto na série de reportagens sobre Engajamento Familiar quanto no Especial Participação dos Estudantes na Escola.

Na prática

Com uma rotina sobrecarregada como professora do 4º ano da Escola Piñon Valley Elementary, em Colorado Springs, no estado do Colorado, a professora Danae McClure disse que não poderia assumir novos processos até que passou por uma formação e começou a aplicar o TAPP em seu dia a dia.

As cenas a seguir são muito comuns à realidade brasileira. “Famílias muitas vezes não conseguem se conectar com as escolas. Muitas vezes isso tem origem em sua próprias experiências durante a vida escolar (em que comunicado da escola significa algo errado), outras vezes, por mais que você telefone ou mande e-mails nunca tinha retornos”, disse Danae, que viu nesta situação um motivo para tentar algo novo.

“Precisávamos de uma nova maneira de comunicar com as famílias para que elas possam estar mais próximas e realmente fazer parte do processo educativo”, conta. Como exemplo usa o caso de uma aluna que tinha uma relação próxima com o pai e que começou a progredir à medida que o fluxo escola-família começou a ser mais constante. “Antes, o pai era chamado quando era se envolvia em problemas ou quando algo não ia bem. Esse foi o primeiro ano que ela viu um retorno positivo de um professor”.

Danae disse que seu objetivo principal era aumentar a participação da aluna em sala de aula. “Ela tinha medo de cometer qualquer tipo de erro. Em três semanas após início do programa, era ela quem apresentava o trabalho na frente de todos. Foi um progresso muito grande para quem tinha dificuldades com leitura”.

Além da comunicação com a família que passou a destacar atitudes positivas em sala de aula, a professora conta que suas aulas passaram a começar com dinâmicas que incluem a apresentação das tarefas e dos objetivos de aprendizagem, sempre pergunta o que e como os alunos querem aprender e abre espaço para que compartilhem algo novo com o colega.

Ao ser perguntada sobre o que mudou na sua relação com os alunos, a professora diz que a melhora é resultado de detalhes. “São estratégias simples que poderiam ser aplicadas parte do dia a dia, mas não eram antes de eu fazer parte do programa. Elas se tornaram uma prática comum, um hábito e eu pude me conectar com os estudantes e famílias de uma maneira mais pessoal”. E o tempo a mais que era a preocupação inicial? Danae conta que, como a comunicação ficou mais eficiente, passou a resolver tudo mais rápido, e não teve que esperar os problemas se acumularem para só então acionar as famílias. Desta vez, conta, os resultados aparecem em poucas semanas e geralmente com uma notícia positiva.

Conheça projetos Centro de Pesquisa em Infância, Juventude, Famílias e Escolas de Nebraska no Brasil


TAGS

educação infantil, engajamento familiar, ensino fundamental, ensino médio, formação continuada, socioemocionais

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