Programa Solve For Tomorrow celebra 10 anos na América Latina e anuncia nova plataforma
Evento na Colômbia destaca o impacto de projetos de estudantes e professores que incentivam a pesquisa e o desenvolvimento científico na escola
por Vinícius de Oliveira 3 de novembro de 2023
Quando um professor adota uma abordagem que permite aos alunos resolver problemas do cotidiano e da comunidade, os efeitos educacionais podem ser vistos além do resultado acadêmico, proporcionando desenvolvimento pessoal dos participantes e irradiando-se para toda a escola. Histórias como esta fazem parte do Programa Solve For Tomorrow, iniciativa global da Samsung que estimula alunos do ensino médio de escolas públicas a identificar problemas reais e desenvolver soluções baseadas em ciência e tecnologia.
Um evento realizado na última quarta-feira (1), na cidade de Bogotá, na Colômbia, celebrou os 10 anos do projeto na América Latina (a iniciativa é realizada no Brasil e em mais 19 países da região). O encontro contou com a presença de executivos da empresa e de representantes de governos, e a fala de estudantes e professores mostrou como a cultura de aprendizagem prática faz a diferença.
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A argentina Valentina Avetta, quando criança, adorava coletar rolinhos de papel higiênico para criar brinquedos. No quintal de casa, cortava grama e flores, misturando-os em uma garrafa com água para observar as mudanças ao longo do tempo. Com o passar do tempo, começou a perceber que essas curiosidades estavam, na verdade, ligadas à ciência.
Destaque da edição de 2016 do Solve For Tomorrow, a jovem, que hoje tem 26 anos e é engenheira, disse que tomou conhecimento do programa pelo Facebook (“rede social que os jovens usavam naquele momento”) e imediatamente convidou uma amiga. Havia pouco tempo que tinha recebido o diagnóstico de diabetes tipo 1 e, com sua colega, decidiu criar um um sensor termocrômico para detectar a perda da cadeia de frio da insulina biossintética, o que é essencial para manter a eficácia do medicamento, que não pode passar dos 30º graus quando aberto. Em linguagem mais simples, o dispositivo monitora a temperatura desse remédio, garantindo que ele seja mantido em condições ideais desde sua produção até o uso.
“Recebemos um monte de formações e mentorias que nos permitiram aprender conceitos e práticas que até então nunca havíamos conhecido, como design thinking, criação de protótipos e o que significam habilidades socioemocionais”, relembra. O projeto acabou conquistando a primeira posição daquele ano na Argentina e abriu as portas para que Valentina seguisse uma carreira nas ciências, avançasse em suas pesquisas e começasse a trabalhar em uma startup de tecnologia.
Após essa experiência, a jovem hoje é avaliadora e embaixadora do programa, acompanhando o desenvolvimento de projetos de outros estudantes que também querem trilhar o mesmo caminho. “Estudantes e professores precisam olhar para os problemas do mundo como se isso fosse feito pela primeira vez e entender que podem ter um papel ativo na educação e mudar suas realidades”, disse.
O professor brasileiro Galileu Pires, que atua na Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré, em Manacapuru (a 68 km de Manaus), no Amazonas, também subiu ao palco para dar o exemplo de protagonismo e de como cada sala de aula pode impactar positivamente uma escola e também a realidade de uma rede escolar. Formado em engenharia mecânica e biologia, com mestrado em ecologia, começou sua carreira na docência em 2016, encontrou o laboratório da escola fechado e alunos sem qualquer contato com práticas de iniciação científica. Após uma conversa com o gestor, reativou o espaço. “Isso começou a instigá-los e a ver que a obtenção de conhecimento transcende a sala de aula, acontecendo também em laboratórios, bibliotecas e assim, cada um pode expressar seu próprio talento de forma natural”.
Em 2017, suas turmas começaram a trabalhar com o tema da poluição ambiental. Algumas de suas alunas afunilaram o conceito para investigar o que fazer com carcaças de peixes que eram descartados nos rios de forma indiscriminada. Ao pesquisar maneiras de utilizar as carcaças, as estudantes descobriram que poderiam produzir fibras parecidas com o algodão.
O projeto foi o vencedor do Solve For Tomorrow em 2019 na categoria de júri popular. “Foi uma alegria imensa na cidade e na escola porque nós transformamos a carcaça do peixe em um papel ecológico. Uma iniciativa inédita nascida no interior do Amazonas, por alunos de uma escola que era esquecida.”
Desde então, Galileu conta que professores e alunos começaram a se interessar não só por iniciativas ligadas às ciências, mas também por outras ligadas à literatura e ao teatro. As turmas de Galileu continuaram a se destacar em 2020, 2021 e 2022, e seus alunos conseguiram acesso à universidade. Outro impacto importante, segundo o professor, foi que meninas deixaram de ter medo das dificuldades em matemática, física e química e passaram a acreditar mais em si mesmas. Com uma nova sala de aprendizagem maker, cerca de 20 mil estudantes e professores agora também têm contato com novas formas de aprender e ensinar. “Hoje eu vejo o carinho e a vontade dos estudantes em estar em sala de aula”, disse o professor.
As palavras da hoje engenheira Valentina e do professor Galileu representam o que Mario Laffitte, vice-presidente de Relações Institucionais Samsung América Latina, trata como principais valores do programa. “Nosso objetivo não seja produzir a próxima grande startup, e sim incutir nas mentes jovens a crença de que eles têm o poder de transformar sua comunidade, sociedade, país e até mesmo o mundo.”
Ao longo destes anos, mais de 311 mil estudantes da América Latina participaram do Solve For Tomorrow, com o apoio de mais de 41 mil professores, em mais de 22 mil escolas públicas. No Brasil desde 2014, foram 173 mil estudantes engajados no programa, mais de 36 mil professores, e mais de 6.600 mil escolas públicas.
“Sempre que promovemos o ‘Solve for Tomorrow’, nos enche de orgulho alcançar não somente as grandes capitais, mas também pequenas cidades e escolas isoladas, muitas vezes situadas em áreas rurais”, destaca Helvio Kanamaru, diretor de ESG e cidadania corporativa da empresa.
“Temos relatos inspiradores de escolas que, após serem reconhecidas pelo ‘Solve for Tomorrow’ e obterem visibilidade na mídia, atraíram maior apoio e um crescente número de famílias desejando matricular seus filhos, por terem se tornado referência na região”, completou.
Nova plataforma Solve For Tomorrow Latam
No evento realizado em Bogotá, a Samsung também anunciou para 2024 a chegada de uma nova plataforma que reunirá projetos desenvolvidos por professores que já participaram do Samsung Solve for Tomorrow em escolas públicas da América Latina.
Entre seus objetivos está o apoio ao desenvolvimento de práticas pedagógicas a partir da abordagem integradora STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e fomento ao seu compartilhamento, bem como se tornar um ecossistema educativo para fortalecer a experiência em escolas da região, principalmente entre os docentes com o programa.
Finalistas do Solve For Tomorrow Brasil 2023
Na última semana, a Samsung anunciou também a lista de projetos classificados à final. Em comum, as atividades se destacam pela atenção à sustentabilidade. Dos dez projetos escolhidos para a fase final do programa, muitos focam em áreas como biogás, bioinsumos agrícolas, combustíveis sólidos, reciclagem, fraldas ecológicas e práticas agrícolas sustentáveis. Também há uma ênfase na saúde, incluindo inovações em fotoproteção com propriedades repelentes e melhoria no conforto auditivo para estudantes autistas. Confira:
- CEDUP (Centro de Educação Profissional Abilio Paulo) – Criciúma (SC) – Melhoria da eficiência de placas fotovoltaicas por meio do resfriamento por água
- Centro de Ensino Casemiro de Abreu – Tutótia (MA) – Produção de Combustível Sólido de Alto Rendimento com cascas de coco e serragem
- Centro de Ensino Sabino Barros – Anexo I – Jacaré – Penalva (MA) – Produção de biogás e biofertilizante como alternativa sustentável na comunidade
- Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Marconi Coelho Reis – Cascavel (CE) – PectiVitalis: revestimento sustentável antidesperdício para frutos
- Escola Estadual Angelo Scarabucci – Franca (SP) – Silêncio consciente – foco nos alunos autistas e os ruídos em sala de aula
- Escola Estadual Cidadã Integral Técnica Jornalista José Itamar da Rocha Cândido – Cuité (PB) – Greentech: cultivando o futuro como alternativa para a agricultura sustentável
- Escola Estadual Professor Paulo Freire – Carnaíba (PE) – EKOfraldas
- Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Vila Velha – Vila Velha (ES) – Biofábrica sustentável para a produção de bioinsumos agrícolas.
- Instituto Federal do Rio Grande do Norte – Campus São Paulo do Potengi – São Paulo do Potengi (RN) – SPP Sustentável – foco na reciclagem no Potengi
- Instituto Federal de Rondônia – Campus Porto Velho Calama Nano – Porto Velho (RO) – FotoCream – antioxidante, fotoprotetor com ação repelente
No Brasil, o Solve For Tomorrow conta com uma rede de parceiros que conta representação no Brasil da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a Reduca (Rede Latino-Americana pela Educação) e a OEI (Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil), além do apoio do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e a coordenação geral da organização social Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).
*O jornalista viajou à Colômbia a convite da Samsung