Programas de imersão turbinam o aprendizado de idiomas
Iniciativas funcionam como intercâmbios e permitem vivenciar uma nova língua, mas sem sair do Brasil
por Vanessa Fajardo 15 de janeiro de 2019
Sabia que é possível treinar o inglês em um local onde ninguém fala português, como se fosse no exterior, mas sem sair do Brasil? Esta é a proposta de empresas que apostam em imersões para o ensino de idiomas e sentem o aumento da procura nos meses das férias, como janeiro.
Funciona assim: você viaja para um lugar, pode ser um sítio, um hotel ou qualquer outro espaço e precisa, obrigatoriamente, falar o idioma que está estudando, independente do seu nível de proficiência. Todos os funcionários do local e os parceiros de experiência também se comprometem com o propósito de não falar português (pelo menos quando se tratam de grupos de brasileiros). Para cumprir a meta, vale até mímica.
O número de dias, o destino dos programas e as atividades oferecidas variam de acordo com as empresas organizadoras. Em comum as imersões têm objetivos de fazer com que os alunos percam o medo de falar inglês (ou outro idioma), melhorem a conversação e ganhem estímulo para seguir no estudo da língua. Há pacotes para os fins de semana com preços a partir de R$ 700.
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A The Fools, com sede em Novo Hamburgo (RS), oferece imersões de um a 30 dias que incluem atividades variadas como yoga, trilhas, prática de esportes, oficinas de culinária e dinâmicas do mundo business, que simulam, por exemplo, conversas ao telefone. Além do inglês, existe a opção de programas para o ensino de italiano, alemão, francês, espanhol e português para estrangeiro. Durante as imersões não há aulas tradicionais.
“O foco fica nas atividades e não se a pessoa está falando está gramaticalmente correto. O aluno consegue se desligar da ideia de que pode estar falando errado e o idioma vem como ferramenta”, diz Milena Escarrone, fundadora e gerente de marketing da The Fools, que também tem unidades em Porto Alegre e Joanópolis (SP).
As atividades misturam, propositalmente, alunos com níveis de proficiência diferentes. “O iniciante sempre se desafia e os avançados também ensinam”.
Entusiasmo para continuar os estudos
Pela English Camp há imersões somente em inglês para crianças no estilo acampamento americano e também programas para adultos em um formato mais “acadêmico.”
Para os adultos os programas são de cinco dias de duração em uma pequena chácara próxima de Itapetininga, a 170 quilômetros de São Paulo. Todos os participantes só podem falar inglês, mesmo os níveis mais básicos.
As atividades são dirigidas de acordo com o nível de inglês de cada grupo. “Nosso objetivo é fazer o aluno sair com mais conhecimento, principalmente na questão da conversação. A ideia é que ele passe a falar com mais fluência e desenvoltura porque sabemos que essa é a grande dificuldade que os adultos têm”, explica Silvia Goulart Urioste, responsável pelo atendimento ao cliente da empresa.
Segundo ela, o programa é muito procurado por profissionais de diferentes áreas que têm pressa de adquirir o idioma, como médicos, advogados, pilotos e comissários. “A maioria vem porque precisa correr atrás e falar inglês rápido porque no dia seguinte pode perder emprego ou promoção e estão sob pressão grande. Os resultados são surpreendentes, ao final os clientes ficam até emotivos.”
Apesar dos ganhos desse tipo de programa, Silvia reforça que o aluno não fica dispensado de estudar o idioma da maneira mais clássica. “Se não praticar o que aprendeu, vai esquecer. Escolas têm sempre a mesma metodologia, mas o aluno tem a opção de buscar um professor particular. É fundamental continuar os estudos, o que a imersão oferece é o entusiasmo, uma visão realista do nível de proficiência e a consciência de que é possível evoluir. Não é que a pessoa não consegue aprender.”
Para as crianças as atividades seguem o estilo de acampamento americano. Elas vão para um alojamento e a programação inclui atividades tradicionais no exterior como jogos de beisebol e hóquei, além de brincadeiras com marshmallows. Neste caso, não há uma obrigatoriedade de falar 100% em inglês.
“Os monitores falam em inglês o tempo todo, as crianças nem sempre. Dessa forma, incentivamos o usa da língua de uma maneira suave porque não foge do conceito de diversão. A criança aprende mais rápido porque tem menos problema na cabeça. Mas o adulto, quando foca e se disciplina, também evolui, e a imersão é alternativa para acelerar o aprendizado.”
Para Milena, da The Fools, uma das maiores barreiras para o aprendizado de línguas é o medo de errar. “Nossa educação é baseada assim e, no aprendizado do idioma, isso é muito chave. Não dá para esperar até conseguir fazer tudo certo. Precisa errar para afinar. Nosso trabalho é conseguir desconstruir. A educação é cognitiva, e se, por acaso, a pessoa relaciona o aprendizado a um sentimento ruim, não vai lembrar depois. Nosso corpo é muito esperto nesse sentido, por isso é preciso associar esse ensino a uma emoção positiva.”
O bancário William Melo já fez duas imersões com a The Fools, uma em novembro de 2017 de três dias no Rio Grande do Sul, e outra de três dias, em fevereiro do ano passado, em São Paulo. Ele diz que optou pelos programas por conta de necessidade profissional.
“Foi maravilhoso e superou as expectativas, tanto que alguns dos meus colegas de trabalho também fizeram a imersão. Dei um salto tremendo no meu idioma.”