Projeto afrocentrado sobre a história do Brasil terá adaptação para a sala de aula - PORVIR
Johann Moritz Rugendas, 1825.

Inovações em Educação

Projeto afrocentrado sobre a história do Brasil terá adaptação para a sala de aula

Material jornalístico apresentado no Projeto Querino será adaptado para um conteúdo formativo que será disponibilizado na plataforma Polo, do Itaú Social

por Ruam Oliveira ilustração relógio 20 de setembro de 2023

A história do Brasil foi contada, por muito tempo, a partir de uma perspectiva europeia, principalmente com relatos de quem veio de Portugal. Contudo, a população negra, que chegou aqui escravizada, contribuiu significativamente com a construção do país – e por muito tempo teve essa participação apagada historicamente. 

O Projeto Querino, iniciativa jornalística que une podcast e reportagens, traz um olhar afrocentrado sobre o Brasil, explicitando momentos históricos brasileiros sob a ótica dos africanos e seus descendentes. Grande sucesso de público, o projeto, idealizado e coordenado pelo jornalista Tiago Rogero, vai ganhar uma adaptação para ser utilizado na escola.

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“Para a nossa alegria, desde a primeira semana de lançamento do Querino ele já estava sendo usado em sala de aula por professores, principalmente no ensino médio. Mas também em universidades”, conta Tiago ao Porvir. “Por exemplo, eu sei de uma professora da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que usa o Episódio 7 do Querino em sua aula sobre saúde pública. Mas a gente reconhece que são episódios de cerca de uma hora que não estão exatamente no melhor formato para os jovens ouvirem [em aula]”, pondera.

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O sétimo episódio citado pelo jornalista trata sobre o SUS (Sistema Único de Saúde), as vacinas contra a Covid-19 e todo o processo envolvendo o acesso de pessoas negras à saúde pública brasileira. 

A ideia de fazer o projeto chegar às escolas sempre existiu. Tiago foi procurado pela Fundação Itaú Social, que agora desenvolve essa adaptação junto com a equipe do Querino e do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), entidade referência em assuntos de raça.

O Projeto Querino evidencia como o racismo está estabelecido na sociedade brasileira, ocorrendo desde sua fundação. “A ideia é que a gente separe trechos desse material, o que vai facilitar a vida do professor que quiser usar o Querino”, explica Tiago. 

Além de trechos do podcast, o material que será disponibilizado na plataforma Polo, do Itaú Social, vai contar com sugestões de leitura e de atividades que poderão ser desenvolvidas a partir da temática apresentada. A previsão é que este material esteja disponível até o fim de 2023.

O jornalista Tiago Rogero durante o Congresso da Jeduca, em São Paulo. Foto: Alice Vergueiro / Jeduca.

“O projeto Querino trata basicamente de duas coisas: o protagonismo das pessoas negras e o racismo. São dois temas que permeiam toda a nossa história, e que estão presentes em todos os aspectos do nosso dia a dia, então a gente fica feliz de poder ver essa aplicação na prática em diversas disciplinas”, diz Tiago.

Além deste material para uso de professores, Tiago Rogero também está desenvolvendo um livro e uma HQ com o conteúdo do projeto, que ele espera que os educadores usem de maneira paradidática. 

Sobre o Querino 

O nome do projeto faz referência ao intelectual Manuel Raimundo Querino (1851-1923), professor, jornalista e abolicionista, autor do livro “O colono preto como fator da civilização brasileira”, que aborda o protagonismo dos povos negros e afrodescendentes na formação do Brasil. 

O Querino é inspirado no “1619 Project”, idealizado pela jornalista norte-americana Nikole Hannah-Jones, do jornal The New York Times. Nele, Nikole apresenta a história da fundação  dos Estados Unidos a partir da perspectiva da população negra. O projeto também virou livro, uma série documental e integra o currículo escolar de alguns estados.  

Nikole e Tiago participaram esta semana no 7º Congresso da Associação Brasileira de Jornalistas de Educação, a Jeduca, em São Paulo (SP), onde comentaram sobre a criação de seus projetos e como eles podem impactar a educação. 

Na ocasião, a jornalista do The New York Times afirmou que, quando pensou em criar o projeto, queria forçar o governo a pensar diferente. Ela comentou que o 1619 sofre pressões por parte de alguns membros conservadores do legislativo que são contrários à proposta de narrar a criação do país por outra ótica. 

Legisladores dos estados de Iowa, Arkansas e Mississipi criaram projetos de lei que tentam banir o conteúdo das escolas, alegando que ele é “racialmente divisivo e revisionista”. 

O Projeto Querino está disponível em áudio, libras e reportagens em texto. Para conferir, basta acessar aqui. 


TAGS

educação antirracista, ensino fundamental, ensino médio

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