Projeto aproxima engenharia de alunos de baixa renda
Professores americanos do Mesa querem inspirar o ensino de ciências e exatas em escolas do Brasil em parceira com a Unicamp
por Patrícia Gomes 8 de novembro de 2012
Faz pouco o Brasil percebeu que faltam engenheiros e cientistas para dar sustentabilidade ao crescimento potencial do país. Nos EUA, no entanto, a percepção de que essas eram profissões-chave não é de hoje. Há mais de 30 anos, a organização social Mesa tenta despertar em jovens em situação vulnerável o interesse pela área que reúne ciência, tecnologia, engenharia e matemática – cuja sigla em inglês é Stem – e, com seus programas, encurtar o caminho desses estudantes até a universidade. Agora, a perspectiva do Mesa é cruzar o continente para chegar até alunos brasileiros.
“As semelhanças entre os nossos alunos e os daqui é muito grande”, diz James Dorsey, diretor executivo do Mesa em Washington. Em visita ao Brasil, Dorsay e sua equipe têm conhecido escolas na companhia de professores da Unicamp para entender a educação brasileira. Eles querem descobrir as melhores formas de aproveitar as expertises das duas instituições, além da Universidade de Washington e da de Temple, que também participam do Mesa, para aproximar jovens oriundos de famílias pobres das engenharias, das ciências e do ensino superior. “Vemos esse intercâmbio global como uma oportunidade de realçar as semelhanças, os desafios e as necessidades que estudantes americanos e brasileiros vivem quando apresentados a essas áreas do conhecimento”, diz Erik Jones, diretor adjunto da organização.
Nos Estados Unidos, a receita que o Mesa usa vem mudando ao longo dos anos. Hoje, eles mantêm duas principais frentes de atuação: programas voltados para alunos que estão na educação básica e programas que servem a estudantes dos community colleges, instituições que não têm paralelo perfeito na educação brasileira, mas que são voltadas para o ensino profissionalizante, normalmente frequentadas por alunos de baixa renda após o ensino médio.
Nos programas voltados para a educação básica, o grande foco está nos alunos que cursam o que, no Brasil, equivale ao fundamental 2 e ao ensino médio – apesar de já haver escolas oferecendo oportunidades de formação para crianças a partir da primeira série, com idade de seis ou sete anos. As ações do Mesa têm a intenção de ajudar esses alunos a suprir suas possíveis lacunas de formação e lhes dá a oportunidade de competir em condições de igualdade com qualquer aluno em cursos voltados para ciências e áreas de exatas em boas universidades.
O Mesa estabelece parcerias com professores e gestores locais de educação para oferecer um modelo mais rico de aprendizado. Cada escola escolhe como vai acolher as atividades – elas podem ocorrer no contraturno, dentro da grade horária tradicional ou aos sábados. Todos os programas estão centrados no aprendizado baseado em projetos. Phyllis Harvey-Buschel, diretora de currículo, conta que um dos modelos possíveis é que, ao receber o Mesa, a escola proponha o mesmo tema de estudo a todas séries – que pode ser, entre outros, saúde global e energias sustentáveis. Cada série vai abordá-lo com o grau de complexidade adequado às idades das crianças e dos jovens. Por trás das atividades, uma equipe prepara um material de apoio elaborado para ter interseções com o currículo tradicional nas mais variadas disciplinas.
Assim, se uma escola está trabalhando energias sustentáveis, pode ser que alunos mais novos aprendam a desenhar um moinho de vento, usando conceito de proporção de matemática. Enquanto isso, os mais velhos, já do ensino médio, podem assumir o compromisso de colocar as mãos na massa e construir um moinho capaz de acender uma ou mais lâmpadas. A ideia de ter um único projeto em toda a escola estimula que alunos de idades diferentes desenvolvam empatia, aprendendo uns com os outros, e que os mais novos percebam o quão longe podem chegar.
“Você não imagina como eles se sentem empoderados”, diz Jamie Bracey, do Mesa na Pennsylvania. Eles acabam percebendo que podem fazer engenharia, diz Jamie, porque aquilo que eles estão fazendo na escola já é, de alguma forma, engenharia. Para estimular ainda mais esse sentimento, o Mesa tem uma relação próxima com uma série de empresas que, com alguma frequência, mandam seus profissionais para conversar com os alunos. E também não raramente, esses alunos foram beneficiados pelo Mesa em algum momento da vida. “Isso cria entre eles uma identidade com a área e um engajamento muito fortes”, diz ela.
Outro programa que vem sendo desenvolvido pelo Mesa é o curso de verão de matemática para alunos que vão ingressar com dificuldade na disciplina. Para alunos dos community colleges, alunos de origem pobre recebem orientação para carreira, suporte acadêmico e têm ajuda para entrar em contato com pessoas já inseridas no mercado de trabalho.
Confira vídeo, em inglês, sobre competição de moinhos de vento realizada entre alunos de oitavo ano de escolas de Washington.