Projeto de letramento resgata a memória de cidade baiana - PORVIR
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Diário de Inovações

Projeto de letramento resgata a memória de cidade baiana

“Nas tramas da memória” foi o projeto que duas professoras desenvolveram para que os alunos estudassem gêneros textuais e resgatassem a memória de Maracás

por Edna Fontes e Neila Leal Portela ilustração relógio 21 de setembro de 2016

Ao observar que os alunos não conheciam a memória coletiva de Maracás (BA), eu e a professora Neila, também de língua portuguesa, elaboramos o projeto “Nas tramas da memória”. Para construirmos o projeto de forma coletiva, o primeiro passo foi conversar com os alunos, trabalhar a importância de conhecer a história da cidade e saber quais eram as maiores curiosidades deles. O projeto foi então apresentado à direção da escola e a outros professores, como o de história e o de geografia. Explicamos que seria uma prática de letramento, focada em retratar a história de Maracás. Em razão disso, escolhemos o gênero textual memória e, ao longo do trabalho que durou de abril a dezembro do ano passado, fomos agregando outros, como a entrevista.

Nessa construção coletiva do projeto, os alunos diziam como poderíamos desenvolver as práticas, quais pessoas seriam entrevistadas e como funcionariam as rodas de conversa. Nos momentos de pesquisa, eles próprios perceberam que o material disponível em bibliotecas e e outros espaços se resumiam a textos soltos, monografias ou pesquisas sobre assuntos específicos, mas nada mais abrangente, com foco na história da cidade.

foto 01 cropRodas de conversa do projeto Nas Tramas da Memória. Acervo Pessoal. 

Após o diagnóstico e planejamento, os alunos se dividiram em grupos e nós sorteamos temas para cada equipe. Cada um foi relacionando os nomes dos moradores que seriam entrevistados. Chamamos professores aposentados e pessoas da comunidade para virem até a escola. Esses moradores começaram contando uma história, que puxava outra até que alguns alunos se emocionaram quando ouviram os depoimentos.

Na sequência, fizemos uma atividade chamada de retextualização. A partir dos depoimentos das rodas de conversa e do debate que se seguia, os alunos escreviam memórias. Foi aí que percebemos a dificuldade deles com relação a parte linguística, que envolvia a produção do roteiro das entrevistas, convites para visitantes e o próprio texto de memória. Ao longo do processo, fomos trabalhando toda a parte de revisão e aprimoramento textual.

Antes do projeto, os alunos iam até a praça da cidade para se divertir e conversar com os amigos. A partir do momento em que a gente começou a estudar a história de Maracás, eles passaram a ver o local também como um espaço de pertencimento

Por meio da leitura do livro “Maracás: história, mitos e magias”, do escritor maracaense Clóvis Pereira da Fonseca – desconhecido da turma apesar de ser da comunidade –, os alunos descobriram mais sobre a história da cidade, ruas, costumes e festas populares. Nós os orientamos a fazer anotações, tudo para deixá-los inquietos e curiosos, porque iríamos promover um encontro com o autor. Foi muito emocionante, vários alunos deram depoimentos ótimos. A gente que vive no interior não tem acesso a muita coisa e esse deve ter sido o primeiro momento dos alunos com um escritor.

Um outro objetivo do trabalho era aproximar os alunos e familiares. Como eles são dessa era tecnológica, nós quisemos destacar a importância de sentar e conversar com a família, falar sobre o passado e histórias de vida. Esse momento serviu para que os alunos percebessem a importância da história de vida dos pais e desenvolvessem um sentimento de pertencimento.

foto 02 cropRodas de conversa do projeto Nas Tramas da Memória. Acervo Pessoal. 

Como o projeto tinha um caráter interdisciplinar, o professor de geografia explicou diversos aspectos de Maracás, como o relevo, o clima, mostrou a rua onde os escravos viveram, explicou um pouco da história da cidade e falou do processo de povoamento. Já o professor de história abordou a questão dos casarões, das famílias que fizeram parte da história da cidade e falou sobre a importância de preservar o patrimônio histórico, que culminou em uma visita a uma fazenda que serviu como recepção de escravos. Ele contou um pouco também sobre a importância de diferentes povos para a formação da cultura de Maracás e como as tradições, como a festa de São João, estão acabando como tempo.

Hoje, os alunos veem a cidade com mais respeito e percebem que fazem parte da história

Uma questão muito trabalhada durante o projeto foi o olhar dos alunos. Antes, eles iam até a praça da cidade para se divertir e conversar com os amigos. A partir do momento em que a gente começou a estudar a história de Maracás, eles passaram a ver o local também como um espaço de pertencimento. Eles agora sabem que por trás de cada casarão existe toda uma história que envolve a comunidade e hoje veem a cidade com mais respeito e percebem que fazem parte dessa história.

Ao final do percurso, nós organizamos um seminário aberto ao público e os alunos apresentaram slides com fotos e explicações de todo o projeto, além dos textos de memória. Nesse ano, continuamos com a prática e decidimos ampliá-la, já que as atividades realizadas em 2015 foram eleitas como o grande projeto de leitura da escola. Muitos professores abraçaram o projeto e nossa ideia é publicar um livro com todo o material produzido.


Edna Fontes e Neila Leal Portela

Edna Fontes formou-se em Letras, é especialista em Linguística, Literatura e Gestão Escolar. É professora de Língua Portuguesa e Redação no Colégio Estadual Edílson Freire (no Ensino Médio) e no Colégio N. Municipal de Maracás (no Ensino Fundamental). Neila Leal Portela formou-se em Letras e é especialista em Língua Portuguesa. É professora de Língua Portuguesa, Redação e Língua Inglesa no Colégio Estadual Edílson Freire (no Ensino Médio).  

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aprendizagem colaborativa, ensino médio, uso do território

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