Quer aplicar Itinerários Formativos de maneira diferente? Tente a literatura

Os Itinerários Formativos chegaram na vida dos estudantes do ensino médio para causar uma significativa mudança. Eles representam uma parte mais flexível dos currículos, na qual os educandos têm a possibilidade de explorar seus gostos, habilidades e projetos de vida. 

Uma aliada fundamental neste processo é a leitura. Com o propósito de dar mais autonomia e protagonismo aos estudantes que os itinerários propõem, ela pode não só apoiar, como também servir de elemento central na hora de alcançar os objetivos propostos. 

“Por mais amplo que esse termo possa ser ou parecer, ele reivindica um processo de escuta dos estudantes e uma modificação no próprio papel dos educadores”, aponta André Sampaio, especialista pedagógico de Árvore. A amplitude a qual ele se refere é a relacionada aos temas possíveis a serem trabalhados nos Itinerários Formativos. 

Eles estão divididos em quatro eixos estruturantes: Ciências da Natureza e suas tecnologias, Linguagens e suas tecnologias, Ciências Humanas e Sociais aplicadas e Matemática e suas tecnologias.

Escolha das leituras

Para que a leitura, em suas múltiplas possibilidades, apareça nos Itinerários Formativos, a figura do educador é fundamental. André ressalta que o papel do professor enquanto pesquisador – aquele que vai encontrar as referências e inseri-las no universo dos estudantes – é muito significativa. 

Por mais amplo que esse termo possa ser ou parecer, ele reivindica um processo de escuta dos estudantes

André Sampaio, especialista pedagógico

Para ele, é importante ficar atento à cultura das juventudes e como elas podem ajudar a construir os processos de aprendizagem. Ou seja:se um professor ou uma professora sabe que seus estudantes gostam de animes ou mangás, é válido entender como inseri-los nos projetos – de forma a ampliar o jeito como os conceitos são apresentados e, consequentemente, aprendidos. 

“É sempre bom destacar que o Novo Ensino Médio, por exemplo, tem uma proposta de diálogo entre competências, habilidades e os conceitos dos objetos de conhecimento e o reconhecimento do gosto dos alunos”, pontua o especialista. 

Um primeiro passo então é selecionar materiais que o docente entenda serem confiáveis a ponto de atribuí-los aos estudantes.

André explica que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) já propõe que as habilidades leitoras sejam desenvolvidas por meio de campos como o artístico literário, o jornalístico midiático, campos relacionados à vida pública e às práticas de estudo e pesquisa. Com isso, as formas de fazer uma curadoria de textos se expande e aumenta as chances de trabalhar a leitura nos Itinerários Formativos. 

“Acho que a gente precisa oferecer aos estudantes a maior gama possível de textos que envolvam esses quatro campos de atuação, porque eles propõem o desenvolvimento de habilidades leitoras que são diferentes.” 

Nesse sentido, ler uma notícia ou alguns resumos de pesquisas científicas, pode surtir melhor efeito do que a leitura completa de um livro, por exemplo. 

O especialista de Árvore também pontua que a seleção dessas leituras precisam fazer sentido dentro de cada campo escolhido para que sejam qualificadas. André pontua que a leitura que é feita em sala ou extraclasse, no entanto, precisa reverberar nas aulas. O que significa trazer os assuntos lidos para o ambiente coletivo, tornando o processo mais rico.

Leitura e itinerários

A professora Andrea de Araujo Machado dos Santos, coordenadora pedagógica do ensino médio no Colégio Montessori, no Recôncavo da Bahia, afirma que a leitura extraclasse garante uma ampliação de repertório. 

“O aluno vai estar mais preparado e vai entender a necessidade de um aprofundamento [com a leitura]. Ele vai ampliar essa capacidade de argumentação, a capacidade de levantar hipóteses, que é algo que a leitura proporciona. Então esses elementos todos conjugados vão trazer uma proficiência para esses Itinerários Formativos”, diz Andrea. 

A professora explica que os itinerários na escola onde atua focam nas expectativas dos estudantes, passando por questões como a inserção no mercado de trabalho. 

Desafios

Andrea pontua, no entanto, que incluir a leitura em texto nem sempre é uma tarefa fácil. Isso porque os estudantes por vezes não enxergam as potencialidades que as atividades propõem. 

“A dificuldade no processo de leitura é inseri-la no contexto do aluno, é fazer com que ele entenda que a leitura é desbravadora do conhecimento, é suporte; a leitura transcende, fomenta, transborda, ensina e diverte”, acredita. 

Um ponto de destaque para a professora é: usar a leitura, seja nos Itinerários Formativos ou em Projetos de Vida, ajuda no incentivo à autonomia e protagonismo dos estudantes, o que deve ser elemento central de qualquer estratégia escolar. 

“A literatura permite aos leitores desenvolver a criatividade, imaginação e subjetividade que acaba por originar uma identidade única de cada estudante ou ajudar a originar essa identidade. A leitura de ficção também propicia abertura para novas sociabilidades, novos círculos de pertencimento, estimulando também uma visão crítica do mundo”, avalia André. 

Ele também ressalta que incluir leituras nos projetos de Itinerários Formativos é uma forma de ampliar, inclusive, o repertório linguístico dos estudantes, tornando-os capazes de transitar não apenas em linguagens, como em situações diferentes na vida cotidiana e em sociedade. 

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