Sem provas ou divisão por disciplinas, escola promove educação holística
Wish Bilingual School incentiva a livre exploração e a aprendizagem por meio de projetos para fortalecer a autonomia dos alunos
por Marina Lopes 17 de maio de 2016
Nada de provas, carteiras enfileiradas, currículo organizado por disciplinas ou divisão por séries. Na Wish Bilingual School, localizada no Jardim Anália Franco, zona leste de São Paulo, o bilinguismo está longe de ser o seu maior diferencial. Para estimular o desenvolvimento integral dos alunos, a escola passou a valorizar a educação holística como uma estratégia central do seu projeto pedagógico.
Voltada para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental, a escola tem pouco mais de cem alunos e trabalha com a metodologia de projetos para incentivar que eles construam conhecimentos a partir dos seus interesses. A proposta é pautada por diferentes aspectos que envolvem corpo, mente, espírito, autoconhecimento, relação com o mundo e com os outros.
Por lá, tudo pode ser tema de pesquisa, desde o nascimento dos bebês até a história da paquistanesa Malala. A aluna Lara Muniz, 9, do 4° ano, por exemplo, está estudando as florestas para construir uma maquete da natureza. “A gente pode fazer tudo o que quiser. Tudo está ao nosso alcance”, conta a menina, que está na Wish há dois anos e meio. Diferente da sua antiga escola, onde precisava “escrever de cara na lousa”, por meio das investigações ela diz aprender brincando. “Você vai fazendo o seu projeto e do nada percebe que usou matemática para calcular quantos centímetros de uma papel vai precisar”, exemplifica.
Embora hoje os projetos tenham origem na curiosidade dos estudantes, nem sempre foi assim. Quando a escola surgiu em 2008, o formato era diferente. “O projeto tinha uma existência prévia. Eu tinha o projeto dos dinossauros para as crianças de três anos. Antes de qualquer criança de três anos chegar, o projeto já estava montado com começo, meio e fim”, relembra a diretora e fundadora Andressa Lutiano.
Após trabalhar por anos como professora de inglês, Andressa decidiu começar uma escola bilíngue quando estava procurando um local para matricular a sua filha, que na época tinha dois anos. E apesar de oferecer um ensino em duas línguas simultâneas, a Wish nasceu com uma proposta tradicional. No final de 2012, entretanto, após participar de uma viagem para conhecer escolas inovadoras na Espanha, Dinamarca e Reino Unido, a diretora voltou motivada a colocar em prática o que tinha visto.
Aos poucos, começaram a surgir as transformações. Mudança de currículo, mudança de tempo, mudança de avaliação e mudança de espaços. O trabalho teve início com a formação da equipe e logo também teve que dar conta de explicar o novo modelo aos pais. “Em um primeiro momento a gente perdeu uns 20 alunos”, recorda.
Para explicar que as crianças não iriam mais fazer provas e não teriam aulas divididas por disciplinas, entre outras coisas, a solução foi trazer os pais para dentro da escola. Também começaram a ser enviados muitos materiais para casa, incluindo vídeos e leituras sobre novos modelos educacionais.
Reconhecida pelo MEC (Ministério da Educação) entre as 178 instituições educacionais brasileiras inovadoras, hoje a escola também conta com turmas multietárias. Com exceção do primeiro ano, alunos do 2° e 3° ano ou 4° e 5° ano desenvolvem atividades em conjunto. Cada sala tem em torno de 20 alunos e conta com uma dupla de professores. “Dá mais trabalho porque a gente tem que ir atrás de material. Mesmo a avaliação, não é só dar uma prova para saber o que está certo e o que está errado”, diz a professora Marina Gadioli, responsável pelas atividades de artes.
Como os alunos não fazem provas, a avaliação é feita por meio de observações e acompanhamento contínuo dos professores. Tudo fica registrado na plataforma Gold, que traz ferramentas para acompanhamento dos alunos e apresenta diferentes expectativas de aprendizagem a serem atingidas. “Cada um tem um ritmo de fazer sua atividade. A gente vai observando, registrando e acompanhando. Eles fazem tudo ao mesmo tempo, mas aqueles que têm dificuldade sempre pedem ajuda”, explica a professora Angela Graziela Fagá, que acompanha alunos do 2° e 3° ano.
Seguindo a proposta de que as crianças aprendam em ritmos diferentes e persigam suas motivações, a semana escolar tem início com a organização da agenda individual. Os alunos sentam com os professores e fazem um planejamento, que intercala momentos de livre exploração, acompanhamento individual, atendimento em pequenos grupos e períodos que envolvem toda a classe. “A gente brinca, faz lição, projetos e várias coisas”, conta o aluno Rafael Poiate, 9, do 4° ano.
No futuro, a ideia também é retirar as paredes. A escola já está com o projeto de mudança para um novo espaço, que contará com móveis e divisórias que se movimentam para criar pequenas salas ou um grande galpão.