Volta às aulas: como colocar a aprendizagem criativa em prática na sua escola
Campanha apoia educadores de diferentes áreas de conhecimento a começarem o ano letivo em busca de uma educação mais criativa, relevante e mão na massa
por Marina Lopes / Vinícius de Oliveira 24 de janeiro de 2020
O início do ano letivo sempre traz expectativas para professores e alunos. Por que não aproveitar esse momento para planejar novas atividades e conquistar o engajamento da turma? Para apoiar educadores que buscam uma educação mais criativa, relevante e mão na massa, a RBAC (Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa) lançou a campanha “Volta às Aulas com Aprendizagem Criativa”.
Com a proposta de inspirar e indicar caminhos para professores que desejam iniciar o ano letivo colocando aprendizagem criativa em prática na sua escola, a página reúne conceitos, experiências e materiais de referência. Os educadores ainda podem encontrar sugestões de atividades com materiais recicláveis, ferramentas, itens de papelaria e até mesmo componentes eletrônicos simples.
Baseada em mais de 50 anos de pesquisa construcionista iniciada pelo matemático e educador Seymour Papert, a abordagem pedagógica da aprendizagem criativa é bastante inclusiva e pode ser incorporada por professores de diferentes disciplinas.
Pelo interesse dos alunos
“Matemática, ciências, português… qualquer área de conhecimento pode trabalhar com a aprendizagem criativa”, afirma a Marlene Steinle, professora de computação criativa da Escola Municipal de Ensino Fundamental Benjamin Constant, de Arroio do Padre (RS).
A partir do interesse dos alunos, ela conta que tem trabalhado a produção de maquetes com turmas de ensino fundamental e que o projeto tem apresentado resultados. Entre as histórias compartilhadas pela professora, está a de um grupo de adolescentes gremistas que estavam desengajados com as atividades escolares, mas ficaram animados com a possibilidade de construir a arena do próprio time. “Os alunos que começaram a participar dos projetos de aprendizagem criativa passaram a se engajar mais. A gente não vê mais desmotivação, a gente vê interesse em querer aprender”, diz a educadora.
Nos colégios Beneditino, em Vinhedo (SP), e Carpe Diem, em Valinhos (SP), a professora e coordenadora do grupo de estudo de tecnologias Sandra Elias também tem percebido um maior engajamento dos estudantes ao desenvolver projetos integrados com professores de diferentes áreas do conhecimento. Nas aulas de ciências, por exemplo, os alunos trabalham com baterias e circuitos para acender leds e estudar sobre energia. “Tem muita gente fazendo coisas legais, simples, significativas e pontuais com o seu conteúdo para que os alunos possam aprender de forma prazerosa”, compartilha.
Para os professores que desejam dar início a um projeto de aprendizagem criativa na volta às aulas, a professora sugere que o primeiro passo é perder o medo. “Eles podem começar com uma coisa simples. Na internet, também é possível encontrar muita informação para se inspirar ”, recomenda.
Para integração de conhecimentos
Na Escola Municipal Prefeito Souza Lima, em Belo Horizonte (MG), a professora Kátia Archanjo levou a ideia de simplicidade da literatura de Manoel de Barros para a sala de aula como forma de trabalhar a arte, a literatura, a imaginação e a tecnologia.
Com material de sucata, alunos eram convidados se reunir em grupos para montar esculturas e, se desejassem, até mesmo pequenos robôs. “Eles tinham que materializar o poema. Não era só um fazer por fazer. Foi a construção do conhecimento por meio do processo imaginativo”, diz Kátia.
“É uma vida de coisa. Foi um projeto de um ano todo e não de uma aula só. Uma coisa foi puxando a outra”, descreve. Desenvolver o olhar dos alunos envolveu ainda saídas fotográficas para registrar o inútil que passa despercebido, seja uma folha no chão ou uma rachadura na parede.
Até mesmo a avaliação do projeto conseguiu ir além da prova tradicional. A professora pediu para que fossem criados registros escritos, desenhos e uma avaliação em rubricas em que os alunos poderiam olhar para seu próprio projeto de aprendizagem e também para o desempenho de seus colegas.
Prática e teoria
Quem nunca viu aquele clássico exercício de física de “um corpo que desce uma rampa partindo do repouso”? Para muitos alunos, o “corpo” geralmente é um quadrado sobre uma linha em uma folha de papel, mas nas aulas da professora Ellen Barbosa, de Campo Grande (MS), as turmas de ensino médio da Escola Estadual José Maria Hugo Rodrigues conseguem criar carrinhos com tampinhas e palitos para testar conceitos de movimento, atrito e força elástica no mundo real.
Além de imaginar o carrinho, criar, brincar, os estudantes precisam compartilhar o que deu certo e o que deu errado. Neste processo, as dúvidas acabam surgindo naturalmente. “E se eu colocar outras borrachinhas no pneu? Qual a força que o elástico aguenta? Qual a distância que o carrinho vai se deslocar? Quanto tempo ele leva para fazer esse deslocamento? E se eu colocar uma tampinha menor na frente e maior atrás, vai ter alguma interferência?”.
“Eu poderia dar aula passando só pela parte matemática, que eu já domino, mas quando vou para a sala de aula, deixo pré-conceitos e a ideia de que já sei tudo de lado”. Esse processo, segundo a professora, permite analisar melhor as necessidades da turma e adotar ações mais significativas que dependem de uma construção. “Tem alunos que não veem sentido se não for assim”, descreve.
Inspirado para mudar suas práticas? Acesso a página de volta às aulas e o fórum da Rede Brasileira de Brasileira de Aprendizagem Criativa.