Conferência e manifesto por uma educação inovadora
Ativistas organizam encontro nacional em Brasília onde pretendem lançar documento defendendo nova abordagem no ensino
por Davi Lira 24 de outubro de 2013
Para serem perenes, “os projetos inovadores de educação precisam se encontrar e conversar mais entre si”. Foi com essa mensagem, enviada pela internet para uma série de educadores brasileiros em 2008, que o fundador da Escola da Ponte de Portugal, José Pacheco, deu início à construção dos Românticos Conspiradores, uma rede colaborativa de militantes que luta pela transformação da educação no Brasil. Depois de longos cinco anos, a rede conseguiu não apenas aproximar as pessoas e entidades que desenvolvem projetos inovadores – geralmente relacionados à educação integral -, como se articulou a ponto de criar um manifesto público. O documento, que detalha as principais “transformações” sugeridas pelo grupo (mais informações abaixo), vai ser entregue ao Ministério da Educação (MEC) no dia 19 de novembro em Brasília, durante a abertura da I Conane (Conferência Nacional de Alternativas para uma nova Educação).
Vai ser na conferência, que vai se estender até o dia 21 de novembro, que representantes de projetos bem sucedidos de educação integral e inovadora buscarão estreitar mais os laços e detalharão suas realizações. Entre os projetos a serem apresentados no encontro estão os bens sucedidos: Gente, uma escola do Rio de Janeiro que não tem paredes; o Projeto Âncora, uma comunidade de aprendizagem em Cotia (SP); e as iniciativas pedagógicas voltadas à autonomia do aluno desenvolvidas pela escola municipal Amorim Lima, em São Paulo. Dessa forma, os organizadores esperam que com o manifesto em mãos e as boas práticas à vista, eles possam sensibilizar o MEC, a sociedade brasileira e outros educadores simpáticos à causa.
“Trata-se de um movimento articulado pela sociedade civil. Queremos com o encontro, trocar conhecimentos e congregar uma força mais consistente em prol da inovação da educação no país. Nossa intenção prática é começarmos uma conversa com o Ministério da Educação com vistas a efetivar mudanças na educação pública. Por isso, que destacaremos casos consistentes que podem servir de inspiração para esse movimento de mudanças que defendemos”, afirma Talita Porto, do coletivo Gaia Brasília, e uma das organizadoras do Conane.
Para garantir a presença do ministro da educação Aloisio Mercadante, a comitiva do Conante, incluindo o educador José Pacheco, conseguiu se reunir na última semana com Mercadante. Na ocasião, segundo os organizadores, o ministro se prontificou a participar da solenidade de abertura do encontro. Lá, eles esperam que o ministro dê uma indicação sobre alguma ação concreta que o MEC pode fazer no sentido de estimular a adoção dessas novas práticas inovadoras no âmbito das escolas formais. Como o evento não contará com transmissão on-line das palestras, é preciso ir pessoalmente conferir os debates. A boa notícia é que ainda existem vagas abertas. Para participar, é preciso pagar R$ 100. O valor não inclui hospedagem nem alimentação. (veja a programação completa)
Ainda durante o I Conane, está previsto o lançamento do documentário Quando sinto que já sei, realizado com recursos arrecadados via crowndfunding . O doc questiona a educação formal tradicional e traz uma série de entrevistas com educadores que propõem uma abordagem mais inovadora nas práticas de ensino e aprendizagem. Assista ao teaser feito pelos realizadores Antonio Lovato, Raul Perez e Anderson Lima:
Manifesto
Elaborado de forma colaborativa durante cinco anos de discussões virtuais e presenciais, o manifesto pela educação intitulado Mudar a Escola, Melhorar a Educação: Transformar um País teve a contribuição de cerca de 2 mil pessoas que compõe o grupo Românticos Conspiradores além de outros participantes. Depois da triagem de sugestões, o grupo conseguiu condensar os desejos dos militantes em oito páginas. Todo o documento está disponível para consulta pública desde o final de setembro. Simpatizantes à causa ainda podem apoiar virtualmente o movimento, assinando a petição on-line a favor do manifesto através da comunidade do Avaaz.
Buscando detalhar todos os pontos que são levantados pelo documento que propõe colocar em prática mudanças significativas na educação brasileira, o Porvir repassa um resumo dos 19 pontos levantados pelo manifesto. Confira, reflita e deixe o seu comentário:
“Mudar a Escola, Melhorar a Educação: Transformar um País
1. Políticas Públicas em Educação previamente discutidas, aprovadas e supervisionadas pela comunidade;
2. Assegurar às escolas a dignidade de um estatuto de autonomia;
3. Revisão do tipo de gestão das escolas, passando de uma tradição hierárquica e burocrática para decisões colegiadas, coletivas, colaborativas e horizontais, envolvendo a participação da comunidade;
4. Implantação de comunidades de aprendizagem concebidas por um projeto educativo coletivo, baseado num projeto local de desenvolvimento, consubstanciado numa lógica comunitária;
5. Uma educação integral em tempo integral para todos os estudantes;
6. Que a instituição escolar ressignifique seu papel, passando a atuar como locus de construção de conhecimentos e vivências;
7. Que se garanta aos profissionais da Educação, que assim o desejem, prevenção, assistência e apoio terapêutico, gratuito e constante;
8. A formação de uma rede colaborativa de comunicação, onde participem família, educadores, educandos, membros de comunidades de aprendizagem, mídia, etc;
9. Considerar que não se pode ser desconsiderado o desenvolvimento afetivo e emocional do educando;
10. A universalização do ensino e a garantia da matrícula em todos os níveis da educação;
11. Que a universidade se distancie de práticas de formação incompatíveis com necessidades educacionais do nosso século;
12. Reelaboração da cultura pessoal e profissional do educador através da vivência de práticas inovadoras em educação;
13. Reconhecimento público aos profissionais da educação, traduzido também em salários dignos;
14. Fim do desperdício decorrente de más políticas públicas em educação;
15. Erradicação da evasão escolar;
16. Implantação efetiva de uma política da juventude que contemple o espírito empreendedor, o protagonismo juvenil e o desenvolvimento dos valores humanos;
17. Que a educação domiciliar e outros modos de desenvolver aprendizagem sejam permitidos às famílias que assim o desejarem, desde que garantida a coerência e a qualidade dos percursos de aprendizagem do educando à luz de um projeto educativo;
18. Substituição de reprovação, da aprovação automática e da recuperação, paralela ou ao final de um período, pela prática de uma avaliação formativa, contínua e sistemática capaz de permitir que o aprendizado caminhe junto com o desenvolvimento do pensar;
19. Ampliação do uso da mediação escolar, da justiça restaurativa e de técnicas similares, para que os conflitos sejam resolvidos pela própria escola dentro da proposta de Cultura de Paz (Unesco)”.
Confira o documento na íntegra