Documentário destaca práticas inspiradoras de educação integral em escolas da região Sul
Conheça o documentário da UFFS que apresenta boas práticas de escolas em tempo integral nos três estados do Sul, com projetos que unem território, cultura, meio ambiente e protagonismo estudantil
por Redação
4 de julho de 2025
A UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul) lançou o documentário “Entre o inédito e o viável: práticas da escola em tempo integral na Região Sul”, resultado de um edital voltado à seleção de experiências em educação integral desenvolvidas por escolas dos três estados da região Sul.
Disponível em uma lista de reprodução no canal @uffseducacaointegral, no YouTube, a produção reúne seis episódios, com cerca de 10 minutos de duração cada, e apresenta duas experiências de cada estado da região.
Na escola com tempo ampliado, os estudantes têm mais oportunidades de participar de atividades ligadas a uma proposta de educação integral, focadas em desenvolver todas as suas dimensões — como o pensar, o sentir, o corpo, a cultura e a vida em sociedade. Isso dá forma a um currículo vivo, ligado ao território, que valoriza as histórias e realidades de cada estudante.
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Experiências no Paraná
Do Paraná, participam o Colégio Estadual do Campo Cely Tereza Grezzana, de Chopinzinho, e a Escola Municipal Aroldo de Freitas, de Pinhais.
O Colégio Estadual do Campo Cely Tereza Grezzana foi selecionado por integrar formação acadêmica de excelência, formação para a vida e preparação para os desafios do século 21. A proposta pedagógica da instituição está alinhada aos princípios da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que incentivam o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, a interação, a autonomia e a busca contínua pelo conhecimento.
A professora Gilza Maria de Souza Franco, coordenadora regional do projeto de formação da UFFS no estado, acompanhou a produção do vídeo no Colégio Cely Tereza e relata:
“O vídeo da Escola Cely Tereza Grezzana está incrível. Estive presente nas filmagens e posso garantir: a história dessa escola é inspiradora. O que mais me impressionou foi a forma como ela se integra à comunidade local. Por meio de projetos de turismo, alunos e professores criaram uma conexão verdadeira com o território. É uma aula de vida sobre como a educação pode ser ponte para o mundo: desenvolvendo habilidades, fortalecendo vínculos e despertando o espírito cidadão.”
Em Pinhais, que tem uma política de educação integral pioneira, substituiu um currículo fragmentado por uma abordagem integrada, focada no desenvolvimento pleno das crianças. A Escola Municipal Aroldo de Freitas tem como um de seus destaques o projeto de “cozinha experimental”, que valoriza a formação humana e crítica em torno da alimentação saudável e do cuidado com o meio ambiente, por meio do manejo de resíduos sólidos, compostagem e reciclagem.
A escola também se fortalece com o envolvimento da comunidade e das famílias, especialmente por meio dos “sábados solidários”, momentos em que é construída coletivamente a horta pedagógica. Nessa atividade, as próprias crianças orientam seus familiares, promovendo a conscientização sobre sustentabilidade e alimentação saudável dentro e fora do ambiente escolar.
Sobre a instituição, o professor Cristiano Augusto Durat, coordenador regional da UFFS – Campus Laranjeiras do Sul, destaca:
“Foi revigorante acompanhar o projeto de cozinha experimental, que evidencia a formação humana e crítica promovida pela escola. O cuidado com a alimentação saudável, o manejo dos resíduos sólidos e a valorização da horta escolar demonstram como os conteúdos curriculares ganham vida em atividades interdisciplinares. Essa experiência revela o compromisso da educação integral com questões sociais, políticas e ambientais contemporâneas.”
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Destaques em Santa Catarina
De Santa Catarina, o documentário traz as experiências da Escola Básica Municipal Encano Central, de Indaial, e da Escola do Campo em Tempo Integral Bela Vista, de Nova Itaberaba.
A Encanto Central é um caso que alia resistência e superação, tendo abraçado o ensino em tempo integral como uma contrapartida da comunidade para evitar seu fechamento. Sua força reside no diálogo intenso com a comunidade e no engajamento coletivo de docentes, gestores e famílias, que veem a escola como uma prioridade e colaboram ativamente.
A escola oferece oportunidades de aprendizado significativo relacionadas à natureza, à cultura e à participação dos estudantes, por meio de oficinas de informática, marcenaria, culinária, cuidado com a horta e com os animais, além de atividades como a fanfarra e o grêmio estudantil. Como reflexo desse trabalho integrado e contextualizado, a instituição atualmente registra um dos melhores resultados no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em seu estado.
O professor Alexandre Mauricio Matiello, coordenador regional da UFFS no estado, acompanhou as filmagens em Indaial:
“A Escola Encano Central impressiona pelo diálogo intenso com a comunidade. O nível de envolvimento dos docentes e gestores mostra o quanto essa escola é uma prioridade na vida de todos os envolvidos. É uma instituição antiga, com forte capilaridade comunitária, onde famílias colaboram ativamente. As crianças demonstram felicidade em um ambiente que oferece aprendizagens significativas ligadas à natureza, à cultura e à participação estudantil.”
A Escola do Campo em Tempo Integral Bela Vista mudou completamente sua estrutura educacional após também enfrentar a iminência de fechamento, adotando uma concepção de educação transformadora, integral e integradora.
O planejamento coletivo dos professores e a relação próxima com a comunidade são práticas que evidenciam o diálogo e a participação coletiva como dimensões formativas essenciais. A escola, ao ampliar o tempo de permanência e oferecer ensino de qualidade, conseguiu inverter o fluxo de alunos, atraindo estudantes da cidade para o campo, tornando-se um modelo de como a educação integral pode transformar a sociedade e formar crianças mais ativas, responsáveis e contribuindo para o futuro.
O diferencial da escola está em um currículo que conecta arte, dança e o contato com a natureza, como o cuidado com árvores e animais, ao ensino formal. Essa integração fortalece a aprendizagem e os vínculos dos estudantes com o lugar onde vivem.
A professora Kátia Aparecida Seganfredo, coordenadora do projeto de formação na UFFS – Campus Chapecó, descreve a experiência da Escola Bela Vista:
“A trajetória da escola é marcada por resistência e superação. Diante da ameaça de fechamento, a comunidade se mobilizou e reinventou a escola com base em uma concepção integradora de educação. O currículo é vivo e articulado com o território, com destaque para o planejamento coletivo e o diálogo com a comunidade como elementos formativos essenciais.”
Iniciativas no Rio Grande do Sul
Do Rio Grande do Sul, o documentário apresenta as práticas da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dona Augusta, de Campo Bom, e da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vidal de Negreiros, de Santa Cruz do Sul.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Dona Augusta implementou o tempo integral como uma política de ensino, com o professor titular atuando em ambos os turnos e mesclando o currículo com outras atividades. A escola se destaca pela aprendizagem significativa enraizada no pertencimento ao território e no entusiasmo coletivo.
A capacidade dos alunos de identificar necessidades e buscar soluções (como na criação da cisterna com garrafas PET) demonstra o desenvolvimento de cidadãos mais críticos, ativos e atuantes, com desenvolvimento cognitivo, emocional e relacional.
A professora Denise Knorts da Silva, coordenadora da UFFS – Campus Erechim, acompanhou as gravações em Campo Bom:
“A Escola Dona Augusta evidencia uma aprendizagem significativa, ancorada no pertencimento ao território e no entusiasmo coletivo. A mobilização da comunidade, os projetos desenvolvidos e os espaços de aprendizagem revelam como a formação integral pode ser viva e conectada à realidade dos sujeitos.”
Já a Escola Municipal de Ensino Fundamental Vidal de Negreiros foi reconstruída com o objetivo de promover o desenvolvimento integral das crianças, com forte participação da comunidade e dos pais na construção de espaços como a Casa Vivá e o bosque escolar.
Esses ambientes são projetados para fomentar jogos, atividades investigativas, contato com a natureza e brincadeiras simbólicas, enriquecendo a experiência pedagógica. O engajamento dos professores em projetos e a organização em “salas de referência” permitem tecer laços e construir aprendizagens significativas em diálogo com o território
Por fim, a professora Danusa de Lara Bonotto, coordenadora da UFFS no Rio Grande do Sul, compartilha sua experiência em Santa Cruz do Sul:
“A Escola Vidal de Negreiros foi reconstruída com o objetivo de promover o desenvolvimento integral das crianças. A Casa Vivá e o bosque escolar são exemplos de como os espaços podem fomentar brincadeiras, investigações e vínculos. O engajamento dos professores nos projetos mostra como a escola constrói aprendizagens significativas em diálogo com a comunidade.”
A produção do documentário foi realizada por uma empresa contratada, sob orientação dos coordenadores do projeto “Formação continuada do Programa Escola em Tempo Integral – Região Sul – 2025”, promovido pela UFFS em parceria com MEC (Ministério da Educação ().
Panorama nacional de escolas em tempo integral
O Censo Escolar 2024, levantamento de dados estatístico-educacional realizado anualmente pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão vinculado ao MEC, revela que 23% das matrículas da educação básica pública já são em tempo integral, mostrando um crescimento consistente, mas ainda abaixo da meta de 25% estabelecida pelo PNE 2014-2024 (Meta 6). Apesar de a meta não ter sido plenamente alcançada, os dados indicam uma trajetória positiva, especialmente nas seguintes dimensões:
- O percentual de matrículas em tempo integral saltou de 18,2% em 2022 para 22,9% em 2024, com destaque para o ensino fundamental (19,1%) e o ensino médio (24,2%), este último muito próximo do objetivo nacional.
- O Programa Escola em Tempo Integral contabilizou 965 mil matrículas no ciclo 2023-2024 e projeta 943 mil para 2024-2025, demonstrando uma expansão planejada e contínua.
- Entre 2022 e 2024, 47% dos entes federativos passaram a adotar políticas específicas para a educação integral, o que evidencia um fortalecimento institucional da proposta.
Confira os dados por etapa da educação:
Educação básica:
- 2022: 18,2%
- 2024: 22,9%
Creches com jornada ampliada:
- 2022: 56,8%
- 2024: 59,7%
Pré-escola:
- 2022: 12,1%
- 2024: 15,6%
Ensino fundamental:
- 2022: 14,4%
- 2024: 19,1%
Ensino médio:
- 2024: 24,2%
- 2022: 20,4%





