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Dois professores que transformaram seus mundos

Na segunda edição do Transformar, Luis Junqueira e Alison Elizondo mostram como a prática pode sintetizar grandes tendências

por Redação ilustração relógio 29 de abril de 2014

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Um resolveu criar uma tropa de pequenos escritores em São Paulo. Outra, numa região pobre da costa oeste dos EUA, criou um sistema de ensino rotacional dentro da sala de aula para entender como cada um aprendia. Os dois, o brasileiro Luís Junqueira e a norte-americana Alison Elizondo, se reuniram ontem durante a segunda edição do Transformar para mostrar, cada um a sua maneira, suas estratégias para trazer as inovações educacionais para o dia a dia da escola. Em comum, apostaram em dar liberdade aos seus alunos, viram crianças e jovens se apaixonar por aprender — tanto que “We Love to Learn” é o grito de guerra e o nome do método da professora californiana. Em troca, deram um outro significado ao ato de lecionar.

“Não é nada fácil construir uma atividade que se baseia na liberdade”, afirma Junqueira, que incentivou seus alunos a escreverem seus próprios livros e os convenceu de que eles poderiam se expressar como escritores de verdade. E, para crianças e jovens, isso foi libertador. Para otimizar a correção das produções textuais e dar dicas, Junqueira passou a fazer videoaulas que abordavam os deslizes mais comuns e agora está desenvolvendo uma plataforma para fazer isso de um jeito mais inteligente, dotado de algoritmos específicos e capazes de identificar erros na escrita. Com os meios que tinha, promoveu a autonomia dos alunos e os fez trabalhar em projetos.

Transformar 2014

Elizondo também apostou em dar autonomia para seus alunos, a maioria oriunda de famílias de imigrantes, e viu sua turma de quarto ano se encantar por aprender. “Se os professores desenvolverem uma cultura rica e acolhedora em sala de aula, os alunos se sentem à vontade em sala de aula e aprendem melhor”, disse Elizondo, que enfeitou seu espaço com luzes piscantes, um aquário e um sofá para criar um ambiente propício ao aprendizado. Passou também a adotar um método de ensino híbrido conhecido por laboratório rotacional, em que vai alternando aulas com tecnologia, que faz com o auxílio da Khan Academy, com a resolução de problemas em momentos de trabalho em grupo.

A experiência dos professores mostra na prática as tendências discutidas de maneira teórica por outros palestrantes do Transformar. “O que todos nós concordamos é que os alunos aprendem em ritmos diferentes”, afirmou Michael Horn, cofundador do Clayton Christensen Institute e ferrenho defensor do ensino híbrido, metodologia que mistura momentos de atividades de aprendizado on-line com outros de orientação dos professores. Apesar de ter chamado a atenção para o fato de que a tecnologia por si só não é suficiente para haver inovação nas práticas educacionais, o pesquisador explicou que o ensino on-line possibilita os alunos tenham um ensino personalizado quase naturalmente.

Transformar 2014

O superintendente de Educação da Colúmbia Britânica (Canadá), Rod Allen, em debate sobre como desenvolver políticas públicas inovadoras, também se somou ao coro. Para ele, as crianças e adolescentes que utilizam computadores e smartphones o tempo todo já vivem num mundo personalizado. O problema é que ainda não se usa todo o potencial desses dispositivos tecnológicos nas escolas. “Não se trata de usar a tecnologia para fazer as coisas do jeito que sempre fizemos, mas para fazer melhor”, afirma. Allen considera que a tecnologia, como bem mostraram os casos de Junqueira e Alison, torna o professor uma peça ainda mais fundamental na educação. “Se um professor puder ser substituído por um professor, é melhor que seja mesmo. Os bons professores não podem ser substituídos por computadores.”

Da mesma forma que Junqueira fez com que seus alunos realizassem projetos que resultaram em livros e proporcionaram a eles a possibilidade de se expressar, o professor do MIT Media Lab Mitchel Resnick encerrou o evento defendendo a importância de ensinar a programação para todos como uma maneira de se comunicar no século 21. O fundador do Scratch, uma linguagem de programação para crianças, utilizou seis exemplos do uso que alunos já fizeram de sua ferramenta para mostrar que o aprendizado do código não é apenas positivo para quem quer se tornar desenvolvedor, mas útil para a inserção completa na sociedade atual. “Fluência em tecnologia não é usar e interagir com elas. Para ter fluência, é preciso programar”, afirmou.

Resnik não está sozinho nessa crença. A ferramenta on-line que oferece aulas gratuitas de codificação em linguagens de programação Code Academy foi usada por 24 milhões de pessoas em dois anos. Um dos seus fundadores, Zach Sims, afirmou no Transformar que as pessoas aprendem código em todos os lugares, seja pelo telefone, tablet, quando estão andando na rua, em restaurantes, no transporte público. “Queríamos criar algo que fizesse as pessoas aprender sozinhas e quando quisessem. As pessoas não sabiam dessa demanda, mas ela existia. Muitos queriam aprender a programar”, contou.

O Transformar aconteceu ontem em São Paulo e reuniu cerca de 800 pessoas. O evento foi realizado por Fundação Lemann, Inspirare/Porvir e Instituto Península.


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aprendizagem baseada em projetos, autonomia, competências para o século 21, ensino híbrido, personalização, programação, scratch, transformar

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