Plataforma irá reunir conteúdo pedagógico de educação para cidadania
Com recursos educacionais abertos, a proposta da Mobis é transformar o conhecimento e o engajamento político dos estudantes brasileiros
por Marina Lopes 4 de dezembro de 2017
Apesar das pesquisas já terem demonstrado que a educação tem um papel decisivo na formação de cidadãos confiantes, informados e engajados com a vida pública, isso não está contemplado no currículo de grande parte das escolas brasileiras. Com a proposta de mudar essa realidade, a startup Mobis, de Porto Alegre (RS), está em busca de recursos para desenvolver uma plataforma que reúne conteúdo pedagógico de educação para a cidadania. A ideia é transformar o conhecimento político dos estudantes para garantir que eles acompanhem ações públicas e cobrem atitudes dos seus representantes.
Em campanha de financiamento coletivo no site Benfeitoria, a startup trabalha para atingir a meta de R$ 74.400 até o dia 22 de dezembro, o que possibilitará o desenvolvimento de uma ferramenta, a distribuição gratuita de materiais didáticos e a compra de equipamentos de trabalho para a equipe.
O projeto surgiu a partir da experiência pessoal da gaúcha Diana Engel Gerbase, que hoje é mestre em administração pública pela School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. “Sempre me interessei muito por questões de economia e política, mas não entendia muito bem por que a gente não aprendia mais sobre isso [na escola]”, conta a fundadora e diretora executiva da Mobis.
Para garantir que estudantes do ensino fundamental e médio desenvolvam habilidades e atitudes relacionadas à prática cidadã, a plataforma irá reunir materiais pedagógicos que podem ser utilizados gratuitamente por professores, escolas e organizações. Dentro da proposta de educação para a cidadania, estarão contemplados conteúdos de ciência política, economia, direito, administração pública, relações internacionais e sustentabilidade.
Na plataforma, serão disponibilizados roteiros de projetos e sugestões de atividades, além de materiais de apoio, como vídeos e textos. Entre os pilares da proposta, estão duas características fundamentais: isenção político-partidária e o uso de metodologias vivenciais, que envolvem os estudantes de forma ativa na construção do seu conhecimento. “É possível, sim, trabalhar de forma apartidária. Existe um conjunto de conhecimentos básicos sobre economia, política, administração pública e estrutura do Estado que são anteriores a partidos. Isso é uma prática mundial de países democráticos”, explica.
Durante o período em que passou na Universidade de Columbia, Diana diz ter identificado que 74 das 82 democracias do mundo trabalham educação para cidadania na escola, seja como disciplina ou como conteúdo obrigatório. “As pessoas ficam desmotivadas [com a política] tanto pelo contexto, quanto pelo fato de não se darem conta de que elas também têm poder”, destaca, ao mencionar que a educação tem o papel de mostrar para os estudantes que eles podem ser cidadãos atuantes.
Ela ainda cita a pesquisa “Citizenship – A challenge for all generations (Cidadania – Um desafio para todas as gerações, em livre tradução)” para defender a importância de seu projeto. Em um levantamento feito com norte-americanos, foi possível identificar que os jovens que tiveram aulas de educação para cidadania eram duas vezes mais propensos a votar, entrar em contato com um servidor público e acompanhar ações do governo. Mais do que isso, o desejo de compreender o funcionamento da democracia também é uma demanda dos estudantes. De acordo com o projeto Sonho Brasileiro da Política, 65% dos jovens entrevistados gostariam de aprender sobre política na escola.
Educação para cidadania na prática
Os conteúdos que serão disponibilizados na plataforma foram gerados a partir de um projeto piloto desenvolvido na Escola Estadual Florinda Tubino Sampaio, em Porto Alegre (RS). Em 2015, com recursos captados com a fundação Davis Projects for Peace e as organizações de apoio à pesquisa Institute for Latin American Studies e AC4 | The Earth Institute, ligadas à Universidade de Columbia, foram desenvolvidas atividades que impactaram 104 alunos de ensino médio.
Entre os resultados alcançados com essa experiência, a fundadora da Mobis destaca alguns dados: 19% dos estudantes se mostraram mais dispostos a participar de algum tipo de atividade de engajamento cívico e 89% classificaram o programa como bom ou muito bom. “Os alunos entendem que isso é necessário para o país e querem [desenvolver] esse tipo de conhecimento.”
Alinhada a esse desejo dos estudantes, Diana diz que a proposta da plataforma é criar condições para que os cidadãos possam ter os conhecimentos necessários para agir em sociedade. “A gente espera que os jovens sejam uma nova geração de cidadãos protagonistas, que eles entendam que é impossível abrir mão de saber sobre a vida pública do país. Quando a gente deixa de entender e resolve que não vai se interessar, isso é abrir mão de um poder. Com isso, alguém vai tomar esse poder e usar ao seu próprio favor”, ressalta.
Se a campanha de financiamento coletivo for bem sucedida, a plataforma deve ser lançada até o final do ano que vem. Para colaborar, os apoiadores podem doar valores a partir de R$30. Veja como contribuir com o projeto no site Benfeitoria.